A
crise provocada por Horst Seehofer,
chefe da CSU, continua pendente. Não se trata de uma questão menor sobre
a Lei do Asilo entre a Chanceler Angela Merkel, que encabeça a CDU (os cristãos
democratas) e o Ministro Horst Seehofer, atualmente Ministro do Interior e
chefe da CSU, parceiro de longa data da CDU, e que na esfera regional (Baviera)
está sendo empurrado para a direita.
Herr
Seehofer tem feito várias ameaças de exonerar-se, se Frau Merkel não reforça as
Leis da Alemanha sobre o asilo. Como toda questão pendente, às vezes dá a
impressão de estar sendo resolvida, depois de uma mini-crise. No entanto, como
o problema persiste, e malgrado as suas idas e vindas cresce a impressão de
que as diferenças crescem tanto entre os dois partidos, quanto entre os
líderes.
A
crise está na possibilidade de que o antes partido irmão da CDU - a CSU -
apresentasse uma cisão além das possibilidades de que remendos a contessem, e
por isso deixasse a aliança com a CDU.
Com a partida dos sociais cristãos, a coalizão encabeçada pela
Merkel - a CDU e a SPD (os sociais
democratas) ficaria com dois votos a
menos de ter a maioria absoluta no Bundestag.
Tornar-se-ía impossível evitar a convocação de novas eleições, e no horizonte a perspectiva do fim da
carreira política da Merkel. Como algumas vezes ocorre, dissídios nascidos de
próceres menores poderiam ocasionar o término da carreira de uma grande líder.
Como é sabido, a crise nasceu na CSU, eis que a antiga irmã da CDU se vê
ameaçada na sua direita pelos neo-nazistas da Alternativa para a Alemanha. Pela
repetição da necessidade de Leis de Asilo
mais severas, esse partido vem
crescendo pelas franjas da direita, e com isso ameaçando a maioria que a CSU
tradicionalmente mantém, de modo a assegurar-lhe a administração do Land da
Baviera.
O medo se vai transformando em pavor nos membros da CSU, o que repercute
no chefe partidário, por muito um simples apêndice da CDU, mas hoje ameaçado de
perder a
porção de votos necessária para aferrar-se ao seu domínio na Baviera. A
derrota seria um choque que repercutiria tanto na perda do poder no Land, e por conseguinte na
representação federal no Bundestag. Tudo isso apavora os membros
da CSU, que posta contra a parede,
renega princípios e endurece outros, notadamente aqueles que concorram com a
Alternativa para a Alemanha (neo-nazistas). Na realidade, a CSU está sendo
empurrada para a extrema-direita (ou quase), pela visão da crescente penetração
da AfD (Alternativa para a Alemanha) junto aos eleitores da Baviera (e,
obviamente, não só no Land bávaro).
Esse carrossel está mudando tanto de inclinação, quanto de público, e a
ameaça para a CSU que venha a perder o mando na Baviera põe fora do sério tanto
Herr Seehofer, quanto os deputados e todos os funcionários menores - que se
sentem com os seus privilégios ameaçados, eles que estavam habituados a uma
supremacia de cerca sessenta anos.
Não há dúvida que a Merkel não
será derrotada pela falta de mérito ou de habilidade política. Não lhe faltam
trunfos nem capacidade inventiva, mas como a política é a primeira a mostrar,
os sentimentos mais baixos - que a AfD se compraz em recorrer - podem superar
a sutileza e o talento, quando se servem do medo, como é o caso do temor
perante o imigrante que por motivos por vezes insondáveis tende a ser visto em
certos casos como uma ameaça.
Servindo-se do pânico,
do preconceito e de outros sentimentos pouco nobres, a AfD incute na população - e tais reações
não se limitam a classes sociais - um temor do estranho e estrangeiro, máxime
se proveniente de países subdesenvolvidos.
A Merkel encantou o
mundo - mas não necessariamente a Alemanha - com a sua coragem em abrir as
portas do Reich para um milhão de indivíduos que batiam em vão nas aldravas de
outras alfândegas. Através desse gesto, ela garantiu a gratidão de grande parte
desses infelizes, mas não necessariamente junto a seus próprios co-nacionais.
Nesse sentido, a Merkel quando o ingresso dos flagelados da Síria - que tanto
diferia do egoismo e/ou indiferença de tantos outros líderes ocidentais - lhe
ensejou a formulação de um princípio respeitável, mas que derrotou a CDU em
vários Laender, quando das eleições.
Agora a Merkel luta
na companhia de outros líderes europeus no intento de criar condições de maior
flexibilidade para o ingresso de imigrantes, mas por quanto tempo esses líderes
- como o Pres. Macron, v.g. - não se verão compelidos a apertar as
cravelhas, diante dos diversos particularismos de seus povos respectivos?
Já existem na
Europa hodierna - e o cotejo com a Europa de entre-guerras é de molde a
preocupar - uma série de governos de direita (Polônia, Hungria estão na
dianteira do atraso nesse particular) que tornam cada vez mais árduos planos
abrangentes para esses novos miseráveis dos tempos modernos.
A incrível
conquista da maioria parlamentar na Itália já é um desenvolvimento que faz
pensar. O fascismo - depois das cópias
dos antigos missinos - estaria acaso de volta com a Liga do Norte, de Matteo Salvini ? E o populismo que
se afasta Berlusconi, por julgá-lo demasiado óbvio e transgressor, mas se
afirma com Luigi di Maio ? O senhor Giuseppe
Conte é um Presidente do Conselho de que se poderia dizer - mai sentito
nominare (nunca ouvi falar dele). Mas os dois pro-cônsules terão preferido
designar alguém sem força política própria, de modo a não fazer-lhes sombra na
direção do Governo.
(
Fontes: The New York Times; O Estado de S. Paulo)
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