terça-feira, 3 de julho de 2018

O que fazer da Merkel e dos líderes populistas ?


                   
        A crise provocada por Horst Seehofer,  chefe da CSU, continua pendente. Não se trata de uma questão menor sobre a Lei do Asilo entre a Chanceler Angela Merkel, que encabeça a CDU (os cristãos democratas) e o Ministro Horst Seehofer, atualmente Ministro do Interior e chefe da CSU, parceiro de longa data da CDU, e que na esfera regional (Baviera) está sendo empurrado para a direita.
          Herr Seehofer tem feito várias ameaças de exonerar-se, se Frau Merkel não reforça as Leis da Alemanha sobre o asilo. Como toda questão pendente, às vezes dá a impressão de estar sendo resolvida, depois de uma mini-crise. No entanto, como o problema persiste, e malgrado as suas idas e vindas cresce a impressão de que as diferenças crescem tanto entre os dois partidos, quanto entre os líderes.
           A crise está na possibilidade de que o antes partido irmão da CDU - a CSU - apresentasse uma cisão além das possibilidades de que remendos a contessem, e por isso deixasse a aliança com a CDU.  Com a partida dos sociais cristãos, a coalizão encabeçada pela Merkel  - a CDU e a SPD (os sociais democratas)  ficaria com dois votos a menos de ter a maioria absoluta no Bundestag.
             Tornar-se-ía impossível evitar a convocação de novas eleições,  e no horizonte a perspectiva do fim da carreira política da Merkel. Como algumas vezes ocorre, dissídios nascidos de próceres menores poderiam ocasionar o término da carreira de uma grande líder.
              Como é sabido, a crise nasceu na CSU, eis que a antiga irmã da CDU se vê ameaçada na sua direita pelos neo-nazistas da Alternativa para a Alemanha. Pela repetição da  necessidade de  Leis de Asilo  mais severas,  esse partido vem crescendo pelas franjas da direita, e com isso ameaçando a maioria que a CSU tradicionalmente mantém, de modo a assegurar-lhe a administração do Land da Baviera.
               O medo se vai transformando em pavor nos membros da CSU, o que repercute no chefe partidário, por muito um simples apêndice da CDU, mas hoje ameaçado de perder  a  porção de votos necessária para aferrar-se ao seu domínio na Baviera. A derrota seria um choque que repercutiria tanto na perda do poder no Land, e por conseguinte na representação federal  no Bundestag. Tudo isso apavora os membros da CSU, que posta contra a parede, renega princípios e endurece outros, notadamente aqueles que concorram com a Alternativa para a Alemanha (neo-nazistas). Na realidade, a CSU está sendo empurrada para a extrema-direita (ou quase), pela visão da crescente penetração da AfD (Alternativa para a Alemanha) junto aos eleitores da Baviera (e, obviamente, não só no Land bávaro).
                   Esse carrossel está mudando tanto de inclinação, quanto de público, e a ameaça para a CSU que venha a perder o mando na Baviera põe fora do sério tanto Herr Seehofer, quanto os deputados e todos os funcionários menores - que se sentem com os seus privilégios ameaçados, eles que estavam habituados a uma supremacia de cerca sessenta anos.
                      Não há dúvida que a Merkel não será derrotada pela falta de mérito ou de habilidade política. Não lhe faltam trunfos nem capacidade inventiva, mas como a política é a primeira a mostrar, os sentimentos mais baixos - que a AfD se compraz em recorrer - podem superar a sutileza e o talento, quando se servem do medo, como é o caso do temor perante o imigrante que por motivos por vezes insondáveis tende a ser visto em certos casos como uma ameaça.
                       Servindo-se do pânico, do preconceito e de outros sentimentos pouco nobres,  a AfD incute na população - e tais reações não se limitam a classes sociais - um temor do estranho e estrangeiro, máxime se proveniente de países subdesenvolvidos.
                       A Merkel encantou o mundo - mas não necessariamente a Alemanha - com a sua coragem em abrir as portas do Reich para um milhão de indivíduos que batiam em vão nas aldravas de outras alfândegas. Através desse gesto, ela garantiu a gratidão de grande parte desses infelizes, mas não necessariamente junto a seus próprios co-nacionais. Nesse sentido, a Merkel quando o ingresso dos flagelados da Síria - que tanto diferia do egoismo e/ou indiferença de tantos outros líderes ocidentais - lhe ensejou a formulação de um princípio respeitável, mas que derrotou a CDU em vários Laender, quando das eleições.
                            Agora a Merkel luta na companhia de outros líderes europeus no intento de criar condições de maior flexibilidade para o ingresso de imigrantes, mas por quanto tempo esses líderes - como o Pres. Macron, v.g. - não se verão compelidos a apertar as cravelhas, diante dos diversos particularismos de seus povos respectivos?
                            Já existem na Europa hodierna - e o cotejo com a Europa de entre-guerras é de molde a preocupar - uma série de governos de direita (Polônia, Hungria estão na dianteira do atraso nesse particular) que tornam cada vez mais árduos planos abrangentes para esses novos miseráveis dos tempos modernos. 
                             A incrível conquista da maioria parlamentar na Itália já é um desenvolvimento que faz pensar.  O fascismo - depois das cópias dos antigos missinos - estaria acaso de volta com a Liga do Norte, de Matteo Salvini ? E o populismo que se afasta Berlusconi, por julgá-lo demasiado óbvio e transgressor, mas se afirma com Luigi di Maio ? O senhor Giuseppe Conte é um Presidente do Conselho de que se poderia dizer - mai sentito nominare (nunca ouvi falar dele). Mas os dois pro-cônsules terão preferido designar alguém sem força política própria, de modo a não fazer-lhes sombra na direção do Governo. 

( Fontes: The New York Times; O Estado de S. Paulo)

Nenhum comentário: