A
crise nicaraguense se arrasta, entremeada por sangrentos fins de semana, quando
o Governo de Ortega recorre à violência de grupos pára-militares e a policiais
que buscam intimidar estudantes e manifestantes contrários ao regime.
A
brutal violência dos que apóiam o poder sandinista contra as manifestações é
acirrada pela vice-presidente, a esposa de Daniel Ortega. Dessarte, Rosario
Murillo declara que o governo atua para "libertar o território" dos
bloqueios de estradas e "restaurar a paz". Segundo ela, os protestos
respondem a "um plano terrorista e golpista acompanhado por uma infame e
falsa campanha midiática nacional e internacional".
Apesar dos protestos multitudinários,
Rosario Murillo desfia uma cartilha já muito batida, típica da defesa de
ditaduras nos estertores: "Esse golpe quis impor uma minoria cheia de
ódio, uma minoria sinistra, maligna, mas que não conseguiu nem conseguirá (?)."
A
resposta aos anacolutos da primeira Dama vem de Carlos Tünnermann, membro da
Aliança Cívica por Justiça e Democracia, um dos principais grupos da oposição a
Ortega: "A população não desistiu
porque há uma demanda nas ruas por liberdade." Para que se encerre a turbulência, a Oposição
reivindica a renúncia do Presidente e eleições antecipadas.
Daniel Ortega tem 72 anos, e está no seu terceiro mandato consecutivo,
que se encerraria em 2021. Ele tenta permanecer no poder através do
endurecimento do próprio controle sobre as instituições, dentro do padrão das
ditaduras centro-americanas.
Nesse cenário de crescente repúdio da população jovem e menos jovem da
Nicarágua, o seu alheamento do sentir popular se acentua, desde que baixou
reforma das aposentadorias. Em verdade, a proposta de reforma previdenciária
cortava benefícios e aumentava as contribuições. Conforme o figurino usual
nesses casos, o Governo recuou, mas a
violenta repressão incentivou novas manifes-tações, desta vez exigindo a saída
de Ortega. Tais protestos se iniciaram a dezoito de abril. Diante da repressão
das instâncias governamentais, a
alienação das forças do Governo às exigências da Oposição, tudo isso acirrou a
revolta popular, não só pela corrupção do sandinismo, mas também pela
insensibilidade do poder. A alienação
das forças pró-governo só acirraria a revolta do Povo, que agravariam a
violência da repressão, a corrupção, e a sucessão de massacres de estudantes e
defensores da democracia.
Os protestos começam em dezoito
de abril, e dentro de padrão que recorda o processo da queda de outras
ditaduras centro-americanas, manchadas pela violência de grupos que pretendem
ser intimidatórios e só contribuem para a irrupção de outros focos
revolucionários, o que se presencia no cenário nicaraguense é o avanço da
revolução com o apoio de círculos
democráticos, que aglutina uma coalizão anti-sandinista, e procura abrir
caminho para uma nova Nicarágua, que se propõe mais justa e mais democrática.
O isolamento diplomático de Daniel Ortega se acentua. Ele tem apoio de
Venezuela, Bolívia, Cuba e Rússia. Na América Latina cresceu a oposição contra
Ortega, como sinaliza comunicado firmado
por treze países latino-americanos, que incluem Brasil, Argentina, Colômbia,
Uruguai e Equador.
Nesse sentido, o Ministro das
Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, por mensagem via Twitter repudia "com veemência a
escalada da violência por parte das forças de segurança e paramilitares contra
a sociedade nicaraguense".
(
Fontes: Folha de S. Paulo e Estado de S.
Paulo )
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