Por quanto tempo a
sobrevida do gabinete de Frau Angela
Merkel dependerá da CSU (União
Social Cristã)?
Em verdade, de repente, o céu diante
da Merkel se enfarruscou. Quando em política se fala de sobrevida de um governo
(ou ministério), há um sinal claro de mares turbulentos à frente.
Por isso, quando Horst Seehorf, líder do partido bávaro União Social Cristã (CSU), e que é ministro do Interior no
gabinete da Merkel (CDU) com a SPD
(social-democrata), dizendo haver chegado a um acordo sobre imigração com a
Merkel, estaria, então, a temida crise resolvida?
Sim e não. Do lado positivo, Seehorf podia anunciar que
chegara a acordo "para impedir a imigração ilegal na fronteira entre a
Alemanha e a Austria". A Merkel, por sua vez, explicou que manterá os
imigrantes em centros de trânsito na Alemanha, enquanto se negocia o seu
retorno aos países da União Europeia em que foram de início registrados como
solicitantes de refúgio.
A Chanceler acrescentou que o acordo
entre a CSU e seu partido garantirá o princípio da liberdade de movimento
dentro da U.E., enquanto permite à RFA adotar "medidas nacionais"
para limitar a chegada de imigrantes.
Segundo a Merkel "o espírito
de parceria na U.E. será preservado e, ao
mesmo tempo, um importante passo será dado para organizar e controlar a migração secundária.
Por isso, acho que encontramos um bom acordo após difíceis
negociações."
Tenha-se presente que o lider do
partido bávaro, Horst Seehorf,
pressionava a Merkel a adotar regras de imigração mais rigorosas e fechar a
fronteira da Alemanha a todos os solicitantes de refúgio registrados em outros
países.
Nas conversações prévias, a
Merkel havia rejeitado a proposta, alegando que qualquer solução deveria
envolver as outras nações da U.E. Como
já foi antecipado, Seehofer dera no dia 22 um ultimatum de quinze dias para que a Chanceler chegasse a um acordo
com seus parceiros do bloco para reduzir o fluxo migratório.
Terminando na semana passada
uma cúpula entre os líderes europeus sem solução definitiva, Seehofer voltou a
oferecer sua renúncia ao cargo de ministro federal (Interior) assim como à chefia
da CSU.
No entanto, seus parceiros da legenda
insistiram em que retomasse as conversas com a Chanceler. Por sua vez, o SPD (partido social-democrata)
ainda deve dar sua aprovação ao acordo.
Ângela Merkel, há quase
treze anos no cargo, está enfraquecida pela relativa derrota de seu partido, a
CDU, nas eleições de setembro, quando a sua bancada sofreu uma redução. Sem
embargo, a Merkel logrou formar uma coalizão com a CSU, que tem posição
contrária à imigração.
Em 2015 e 2016, Ângela Merkel adotara
posição corajosa, mas politica- mente arriscada. Recebeu cerca de um milhão de
imigrantes nesses dois anos, com que discrepou de muitos outros governos
ocidentais, que ao invés de abrir os portões das aduanas, receberam os
refugiados - mormente os da guerra na Síria - em número bastante escasso.
Se não faltou à Merkel
coragem política para dissociar-se do ramerrame do conta-gotas para o ingresso
nos portões das demais potências e
pequenos países, ela iria pagar um alto preço pela sua corajosa abertura, com o
ingresso na RFA de cerca de um milhão de refugiados. Diante dos inevitáveis problemas sociais (e
políticos) que esse aporte iria provocar na Alemanha, a Merkel perderia uma série
de eleições nos Laender* mais afetados
por tal 'invasão'.
Agora, ressurge a hidra
do estrangeiro dando na Baviera ajuda a neo-nazista Alternativa para a Alemanha (AfD), que com as suas soluções radicais
e xenófobas para o problema migratório
ameaçam na Baviera o predomínio da União Cristã-Social, velho parceiro da CDU
nas coalizões presididas pela Merkel (na verdade, a aliança entre esses dois
partidos data da era de Konrad Adenauer). As exigências de
Horst Seehorf se prendem, por conseguinte, à própria sobrevivência política - a
AfD ameaçaria a CSU na Baviera, em termos de governo local. Não há nada,
portanto, de abstrato nessa disputa entre a CSU e a AfD. O perigo está
justamente aí.
* Estados.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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