Em um país dominado pela guerra civil, a Nicarágua não é decerto o local ideal para
estudos médicos. É mister, no entanto, compreender que a brasileira Raynéia
Gabrielle Lima, de 31 anos, que já
estava no sexto ano da Faculdade de Medicina de Manágua pensava terminar aí
seus estudos e retornar ao Brasil após colar grau.
Segundo o reitor da Universidade em que ela cursava o sexto ano de
Medicina, Raynéia, e colegas que participam desde abril do ano corrente de
protestos contra o governo, ela foi morta por esses mesmos milicianos. Nesse
contexto, a polícia local sustenta que o autor dos disparos foi um segurança
privado.
Agremiação de estudantes de oito universidades nicaraguenses, a
Coordinadora Universitaria, disse pelo Twitter que Raynéia voltava para casa
sozinha quando seu veículo foi atingido perto do Colegio Americano por tiros
disparados por paramilitares. Os estudantes suspeitam que ela tenha sido morta
por milicianos que vigiavam a casa de Francisco López, tesoureiro da Frente
Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que dá suporte ao governo de
Ortega.
O Reitor da Universidade
Americana (UAM) Ernesto Medina, reforçou que os disparos ocorreram quando ela
ía para casa em seu automóvel. A residência dela fica em bairro nobre de
Manágua, o Lomas de Montserrat, onde é
comum a presença de paramilitares.
"Nesta zona vivem vários funcionários do Governo e há testemunhos
da presença de paramilitares na região. Não pode ser que estejam matando gente
impunemente. Vamos exigir que se investigue porque sabemos onde ocorreu. Pelo
menos eles (a polícia) devem investigar e
interrogar este senhor (Francisco López)", afirmou Medina.
Rayneia estava perto de terminar o curso e já fazia residência, disse ao
Estado seu Pai, Ridevando Pereira. Ele afirmou que soube da morte da filha por
meio de uma ligação da embaixada brasileira. Segundo ele, a família tinha
poucas informações e obtinha atualização pelas redes sociais e pela imprensa.
A brasileira trabalhava como médica do Hospital Carlos Roberto Huembes,
da polícia nicaraguense. Segundo a
embaixada do Brasil em Manágua, ela tinha saído do trabalho, onde era plantonista, quando foi vítima dos disparos. Raynéia era acompanhada à distância por
seu namorado, o nicaraguense Harnet Lara, que dirigia outro veículo atrás da
brasileira. Foi ele quem a levou para a emergência do Hospital Militar. Lara foi internado em estado de choque.
A Nicarágua enfrenta uma guerra civil que matou até onze de julho 264 pessoas, segundo a Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH). A ONG Associação Nicaraguense pelos Direitos
Humanos afirma que já houve 351 mortos até o dia dez.
Rayneia ingressou ainda com vida no Hospital Militar Escuela Doctor
Alejandro Dávila Bolaños às 23:30hs de
segunda feira. O disparo tinha comprometido
o fígado, o pulmão direito e o coração, segundo o governo. A versão de que um segurança privado a matou
foi reforçada pela vicepresidente, Rosario Murillo, em sua participação
diária no canal 4, usado como porta-voz
do governo. Mulher de Ortega, Rosario Murillo mandou um abraço à família e assumiu
o compromisso de esclarecer os fatos.
Segundo informações da embaixada brasileira, o reconhecimento do
corpo já foi realizado e os resultados
da autópsia são esperados para os próximos 45 dias. Ainda não havia prazo para
que o corpo da estudante seja liberado pelas autoridades e possa ser trazido
para o Brasil.
Durante a tarde de ontem, alguns estudantes se concentraram em uma
rotatória e se manifestaram pedindo justiça pela morte da brasileira. Eles
atribuem o crime diretamente à repressão governamental. O protesto foi pequeno e reuniu cerca de trinta estudantes e médicos.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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