quinta-feira, 12 de julho de 2018

Derrocada da autoridade no Brasil ?


                                 

                 Nas últimas   semanas, em um show de irresponsabilidade que não tem comparação com anos recentes, Câmara de Deputados e Senado Federal vêm aprovando projetos que aumentam gastos ou abrem mão de receitas para beneficiar setores específicos.  Essa irresponsabilidade coletiva pode ter impacto que ultrapasse os cem bilhões de reais nas contas públicas nos próximos anos.         
             A afronta não é só dirigida ao Poder Executivo, mas à própria pessoa de Michel Temer, Presidente da República. A fragilização do poder presidencial, devida em parte aos baixíssimos quocientes em termos de aprovação da política de Michel Temer, se deve a muitos fatores que informam a impopularidade de Temer que alcança níveis que só se comparam aos de José Sarney, no final de seu governo.
              Também o inquérito dos portos, que se prolonga em prorrogações repetidas  à Polícia Federal - autorizadas pelo Ministro Luís Roberto Barroso - e que tem por alegado culpado principal o próprio Presidente da República - constitui não um simples transtorno ou incômodo para o Presidente Temer, mas na realidade  uma lenta sangria da autoridade presidencial, máxime em matéria de prestígio e da consequente possibilidade de realizar administração que seja consoante com o interesse nacional.
                Com exceção do meio ambiente, em que o Governo Temer tem permitido a devastação irresponsável da Amazônia, esse bem natural que vem sendo criminosamente dilapidado por ávidos e irresponsáveis agentes da destruição na Hiléa amazônica, cujo proveito para a Humanidade é enorme, e, sem embargo, a Administração Temer nada faz em prol da defesa desse patrimônio, que não é só do Brasil, senão da própria Terra.  A imprensa, por vezes sucessivas e que no respectivo espaçamento aponta para o virtual abandono de qualquer defesa da maior floresta da Terra, com criminosas consequências para o Meio Ambiente e o próprio Brasil, diante da savanização da Amazônia. Mais do que um erro, essa desídia que se reflete na inação com que se acompanha esse façanhudo ataque, que só a inércia governamental pode explicar.
                   Por outro lado, a falta de ação da Justiça afronta a Nação, no que tange à calamidade ensejada pela ruptura da barragem dita protetora, a que se seguiu a extensa inundação no Vale do Rio Doce, provocada por série de fatores até hoje inexplicados, com grande número de pessoas, em geral com pouquíssimos recursos, na prática condenadas a conviverem com a permanente destruição dos próprios lares, como se o status de ruínas de casas modestas de gente pobre os tornaria brasileiros de classe inferior, que não têm direito à indenização pelas grandes mineradoras, brasileira e estrangeira, que sequer se mostram no dédalo da atuação judicial.
                    Por fim, temos o Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, que hoje pode ser entendido como deboche, ao contrário de o que dizia a ingênua marchinha dos anos trinta, que, de repente e no correr de alguns verões, se transforma em Cidade Infernal, na qual a derrocada do programa favela-bairro e a desvairada corrupção na Alerj e na administração do governador Sérgio Cabral fazem do Rio de Janeiro cidade perigosa e mesmo fatal, em que ruas, avenidas, praças e outros logradouros se esvaziam na noite carioca. Como cantar essa vida noturna, antes serena e divertida, que não tão de repente  se torna perigosa - por causa das balas de fuzil e da geral insegurança nas ruas mal iluminadas, agora com outros comparsas, que ou se esgueiram,  em meio à alegria de os que pensam  desfrutar da noite, ou irrompem com a brutal  surpresa que pouco ou nada têm a ver com a romântica noite de anos atrás nessa mesma Cidade que foi maravilhosa.  Chamar essas balas de perdidas é uma afronta à essa gente - em geral pobre, e até a um nascituro ditam  triste, bárbara sorte que sequer perdoa gestante  que esteja perto da favela do Lixão   -  é ignorar que a essa gente pobre nega-se qualquer defesa a esse permanente tiroteio que trocam bandidos e polícias. que não têm contra ele qualquer defesa, sob a disfarçada indiferença das autoridades cariocas.  Do bebê, a que sequer se permitiu nascer, a barbaridade dos tiroteios anônimos ora colhe mais uma vítima, o menino Artur, da Maré, que da escola vinha uniformizado, que disse à mãe que o encontra já na UPA, nessa sala de espera da morte, ter visto quem atirou nele. E terá sentido baixar a voz do filho,  que morre nos braços da mãe,  vindo do inferno de uma terra aonde sequer encontrou guarida esse menino, que, mesmo uniformizado, não foi poupado pela  artilharia da PM.
                    E como fecho de latão, eis o prefeito Crivella que traz a miséria e o favorecimento ilegal que assolam o Brasil para o nível do deboche, de que o PSol, em boa hora, reivindica o impeachment... Porquê ele não mandou que os aposentados - que pacientam nas filas de espera (dois anos!) por uma cirurgia de catarata - falassem com a Márcia?...         

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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