Nas últimas semanas,
em um show de irresponsabilidade que
não tem comparação com anos recentes, Câmara de Deputados e Senado Federal vêm
aprovando projetos que aumentam gastos ou abrem mão de receitas para beneficiar
setores específicos. Essa
irresponsabilidade coletiva pode ter impacto que ultrapasse os cem bilhões de
reais nas contas públicas nos próximos anos.
A afronta não é
só dirigida ao Poder Executivo, mas à própria pessoa de Michel Temer, Presidente
da República. A fragilização do poder presidencial, devida em parte aos
baixíssimos quocientes em termos de aprovação da política de Michel Temer, se
deve a muitos fatores que informam a impopularidade de Temer que alcança níveis
que só se comparam aos de José Sarney, no final de seu governo.
Também
o inquérito dos portos, que se prolonga em prorrogações repetidas à Polícia Federal - autorizadas pelo Ministro
Luís Roberto Barroso - e que tem por alegado culpado principal o próprio
Presidente da República - constitui não um simples transtorno ou incômodo para
o Presidente Temer, mas na realidade uma
lenta sangria da autoridade presidencial, máxime em matéria de prestígio e da
consequente possibilidade de realizar administração que seja consoante com o
interesse nacional.
Com
exceção do meio ambiente, em que o Governo Temer tem permitido a devastação
irresponsável da Amazônia, esse bem natural que vem sendo criminosamente
dilapidado por ávidos e irresponsáveis agentes da destruição na Hiléa
amazônica, cujo proveito para a Humanidade é enorme, e, sem embargo, a Administração
Temer nada faz em prol da defesa desse patrimônio, que não é só do Brasil,
senão da própria Terra. A imprensa, por
vezes sucessivas e que no respectivo espaçamento aponta para o virtual abandono
de qualquer defesa da maior floresta da Terra, com criminosas consequências
para o Meio Ambiente e o próprio Brasil, diante da savanização da Amazônia.
Mais do que um erro, essa desídia que se reflete na inação com que se acompanha
esse façanhudo ataque, que só a inércia governamental pode explicar.
Por outro lado, a falta de
ação da Justiça afronta a Nação, no que tange à calamidade ensejada pela ruptura
da barragem dita protetora, a que se seguiu a extensa inundação no Vale do Rio
Doce, provocada por série de fatores até hoje inexplicados, com grande número
de pessoas, em geral com pouquíssimos recursos, na prática condenadas a
conviverem com a permanente destruição dos próprios lares, como se o status de ruínas de casas modestas de
gente pobre os tornaria brasileiros de classe inferior, que não têm direito à
indenização pelas grandes mineradoras, brasileira e estrangeira, que sequer se
mostram no dédalo da atuação judicial.
Por fim, temos o Rio de
Janeiro, Cidade Maravilhosa, que hoje
pode ser entendido como deboche, ao contrário de o que dizia a ingênua marchinha
dos anos trinta, que, de repente e no correr de alguns verões, se transforma em
Cidade Infernal, na qual a derrocada
do programa favela-bairro e a desvairada
corrupção na Alerj e na administração
do governador Sérgio Cabral fazem do Rio de Janeiro cidade perigosa e mesmo
fatal, em que ruas, avenidas, praças e outros logradouros se esvaziam na noite
carioca. Como cantar essa vida noturna, antes serena e divertida, que não tão
de repente se torna perigosa - por causa
das balas de fuzil e da geral insegurança nas ruas mal iluminadas, agora com
outros comparsas, que ou se esgueiram, em
meio à alegria de os que pensam desfrutar da noite, ou irrompem com a brutal surpresa que pouco ou nada têm a ver com a
romântica noite de anos atrás nessa mesma Cidade que foi maravilhosa. Chamar essas balas de perdidas é uma afronta à essa gente - em geral pobre, e até a um
nascituro ditam triste, bárbara sorte que
sequer perdoa gestante que esteja perto da
favela do Lixão - é
ignorar que a essa gente pobre nega-se qualquer defesa a esse permanente tiroteio
que trocam bandidos e polícias. que não têm contra ele qualquer defesa, sob a disfarçada
indiferença das autoridades cariocas. Do
bebê, a que sequer se permitiu nascer, a barbaridade dos tiroteios anônimos ora
colhe mais uma vítima, o menino Artur, da Maré, que da escola vinha
uniformizado, que disse à mãe que o encontra já na UPA, nessa sala de espera da
morte, ter visto quem atirou nele. E terá sentido baixar a voz do filho, que morre nos braços da mãe, vindo do inferno de uma terra aonde sequer
encontrou guarida esse menino, que, mesmo uniformizado, não foi poupado pela artilharia da PM.
E como fecho de latão, eis o prefeito
Crivella que traz a miséria e o favorecimento ilegal que assolam o Brasil para
o nível do deboche, de que o PSol,
em boa hora, reivindica o impeachment...
Porquê ele não mandou que os aposentados - que pacientam nas filas de espera (dois anos!) por uma
cirurgia de catarata - falassem com a Márcia?...
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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