Às vezes,
a História se repete. Até mesmo acontece que tal repetição não se mostre à primeira
vista, embora existam indícios que
poderíamos chamar de polivalentes.
Vejam,
v.g, o chamado affaire Dreyfus, que
estourou em 1894, com a culpabilização
do capitão Alfred Dreyfus, de
confissão israelita, - que na verdade foi o bode expiatório do escândalo, que
reuniu o estado-maior do exército francês, que acusa o capitão Dreyfus como traidor. Este, foi à princípio,
condenado como traidor da França, submetido à humilhação de ter o seu uniforme,
em pública cerimônia, despojado de todas as insígnias e condecorações, e por fim
é mandado para campo de prisioneiros na
Guiana francesa.
Informado, posteriormente, o escritor Émile Zola, através de um
violento ataque em memorial (1898) escreve o celebérrimo J'accuse (eu acuso) , em que investe contra todo o Estado-Maior do
Exército Francês.A França se divide em dreyfusards
e antidreyfusards.
Durante essa célebre campanha, a Liga
dos Direitos Humanos, que agrupa
os partidários do Capitão Dreyfus, enfrenta a Liga da Pátria Francesa, mais tarde transformada no que seria o ur-movimento da Direita - a chamada Ação Francesa, influente, sobretudo nas
primeiras décadas do século XX.
Mas
voltemos aos princípios do século passado. Em razão da mobilização e da divisão
da França em dois movimentos de opinião, do qual o libelo de Zola aparece como
o documento proeminente, o capitão Dreyfus, injustamente afastado do Exército e
condenado, recebe a princípio o indulto
(1899) e sete anos mais tarde, é plenamente reabilitado (1906).
O
affaire Dreyfus, no entanto, para que a sua inocência fosse provada após esses
muitos anos em que foi havido como culpado, exigiria ainda muito trabalho para que os falsos acusadores fossem desvendados e
desmoralizados.
Assim, o ten.coronel Georges Picquart encontrou provas de que o ur-suspeito era o major Esterhazy que se
ocupara de espionagem e que a sua caligrafia estava no borderô. A evolução da questão - e os esforços da
família de Dreyfus - convenceram ao
vice-presidente do Senado Auguste Scheurer-Kestner da inocência do capitão
Dreyfus, e Scheurer-Kestner persuadiu a
Georges Clemenceau a denunciar a irregularidade
da corte marcial.
Com esta mudança, o affaire cresceu de importância. A
questão havia sido complicada pelos atos do major Esterhazy - que 'inventava'
novas supostas provas e pelo major
Hubert Henry, o descobridor do borderô, que forjava novos documento e suprimia
outros. Seguiu-se a absolvição de Esterhazy por corte-marcial, e a prisão de
Picquart.
É nesse momento que acontece o tourning-point
no caso Dreyfus, e que cria as condições para a sua revisão. Assim, o
romancista Émile Zola escreve a sua célebre carta aberta, dirigida a Felix
Faure, presidente da República, publicada na primeira página do jornal
de Clemenceau, L'Aurore, sob o título "Eu Acuso". Zola acusa a primeira
Corte marcial de violar os direitos da defesa, e a segunda de absolver a
Esterhazy, sob as ordens do ministério da guerra. O jornal vendeu duzentos mil
exemplares naquele dia.
O
Parlamento ficou em polvorosa, e o
governo foi pressionado pelos nacionalistas a processar Zola. Por outro lado,
uma petição pela revisão do julgamento de Dreyfus foi assinada por três mil pessoas, dentre as quais Anatole France, Marcel Proust, e muitos intelectuais, homens de letras e da
arte.
Seguiu-se o julgamento de Zola - que o gabinete não podia recusar - e
foi condenado, sentenciado a um ano de cadeia e a multa de três mil francos. Contudo, o
movimento pela revisão da pena de Dreyfus marcara um ponto importante, pois
grandes dúvidas tinham sido colocadas na legalidade do julgamento de Dreyfus.
Para
evitar a prisão, Émile Zola se refugia na Inglaterra com a esposa, onde
permanece em 1901 e 1902. O casal falece neste último ano, por
envenenamento causado pela lareira da residência, enquanto dormiam. As
eventuais suspeitas de que não fosse morte casual nunca foram confirmadas.
Quanto
a novo julgamento de Alfred Dreyfus, ainda teria sido difícil de levá-lo adiante, exceto
por um evento fortuito.O Major Henry cometera suicídio, em fins de agosto de
1898, depois de confessar as suas forgeries.
Picquart, agora exonerado do exército, se sentiu livre para unir-se aos
revisionistas. Esterazy, em pânico, foge para a Bélgica e dali para Londres. A confissão de Henry abre nova fase, nesse
célebre affaire, pois ela assegura
que o apelo da família Dreyfus por um novo julgamento agora não mais poderia ser negado.
Por sua vez, os esforços dos dreyfusards (partidários de Dreyfus),
conduziram a nova Corte Marcial em Rennes (agosto-setembro de 1899), que ainda
o condena, mas o presidente Émile Loubet,
em ato de clemência, sustou os outros efeitos da condenação. O capitão Dreyfus aceitou o ato de Loubet, mas
se reservou o direito de continuar lutando para comprovar a própria inocência.
Os seus esforços, apoiados por seu
irmão Mathieu, continuaram até que juntasse novas provas da sua
inocência, para que o veredito de Rennes fosse submetido à corte da apelação
penal. Decidida pela Corte em março de
1904 a revisão plena, o julgamento de Rennes foi anulado, e o Parlamento passou uma lei repondo Dreyfus
no serviço do exército. Em julho de 1906, ele é formalmente readmitido no
exército, e condecorado com a Legião de Honra. Depois de um curto serviço no
exército, Dreyfus atinge o posto de major. Passa então à reserva. Reconvocado para o serviço ativo na Iª Guerra
Mundial, como tenente-coronel comanda uma coluna de munições.
Por
sua vez, o escritor E. Zola, o grande defensor do capitao Dreyfus, se exila na
Inglaterra, onde permanece em 1901 e 1902, falecendo neste último ano, com a
esposa, em morte por envenenamento da
lareira da residência, o que na época despertara suspeitas, que nunca foram confirmadas.
Em doze de julho de 1935, Alfred
Dreyfus morre em Paris, como cidadão
comum, o que sempre almejara ser.
( Fonte: Encyclopaedia Britannica )
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