sexta-feira, 20 de julho de 2018

O Affaire Dreyfus


                                        
        Às vezes, a  História se repete.  Até mesmo acontece  que tal repetição não se mostre à primeira vista,  embora existam indícios que poderíamos chamar de polivalentes.

           Vejam, v.g, o chamado affaire Dreyfus, que estourou em 1894,  com a culpabilização do capitão Alfred Dreyfus, de confissão israelita, - que na verdade foi o bode expiatório do escândalo, que reuniu o estado-maior do exército francês, que acusa o capitão  Dreyfus como traidor. Este, foi à princípio, condenado como traidor da França, submetido à humilhação de ter o seu uniforme, em pública cerimônia, despojado de todas as insígnias e condecorações, e por fim é mandado para campo de prisioneiros  na Guiana francesa.

            Informado, posteriormente, o escritor Émile Zola, através de um violento ataque em memorial (1898) escreve o celebérrimo J'accuse (eu acuso) , em que investe contra todo o Estado-Maior do Exército Francês.A França se divide em dreyfusards e antidreyfusards.
            Durante essa célebre campanha, a Liga dos Direitos Humanos, que agrupa os partidários do Capitão Dreyfus, enfrenta a Liga da Pátria Francesa, mais tarde transformada no que seria o ur-movimento da Direita - a chamada Ação Francesa, influente, sobretudo  nas primeiras décadas do século XX.

             Mas voltemos aos princípios do século passado. Em razão da mobilização e da divisão da França em dois movimentos de opinião, do qual o libelo de Zola aparece como o documento proeminente, o capitão Dreyfus, injustamente afastado do Exército e condenado, recebe  a princípio o indulto (1899) e sete anos mais tarde, é plenamente reabilitado (1906).

           O affaire Dreyfus, no entanto, para que a sua inocência fosse provada após esses muitos anos em que foi havido como culpado, exigiria ainda muito trabalho para  que os falsos acusadores fossem desvendados e desmoralizados. 
            Assim, o ten.coronel Georges Picquart encontrou provas de que o ur-suspeito era o major Esterhazy que se ocupara de espionagem e que a sua caligrafia estava no borderô. A  evolução da questão - e os esforços da família de Dreyfus  - convenceram ao vice-presidente do Senado Auguste Scheurer-Kestner da inocência do capitão Dreyfus, e Scheurer-Kestner  persuadiu a Georges Clemenceau a denunciar a irregularidade  da corte marcial.

            Com esta mudança,  o affaire cresceu de importância. A questão havia sido complicada pelos atos do major Esterhazy - que 'inventava' novas supostas provas  e pelo major Hubert Henry, o descobridor do borderô, que forjava novos documento e suprimia outros. Seguiu-se a absolvição de Esterhazy por corte-marcial, e a prisão de Picquart.
              É nesse momento que acontece o tourning-point no caso Dreyfus, e que cria as condições para a sua revisão. Assim, o romancista Émile Zola escreve a sua célebre carta aberta, dirigida a Felix Faure, presidente da República, publicada na primeira página do jornal de Clemenceau, L'Aurore, sob o título "Eu Acuso". Zola acusa a primeira Corte marcial de violar os direitos da defesa, e a segunda de absolver a Esterhazy, sob as ordens do ministério da guerra. O jornal vendeu duzentos mil exemplares naquele dia.
          O Parlamento ficou em polvorosa,  e o governo foi pressionado pelos nacionalistas a processar Zola. Por outro lado, uma petição pela revisão do julgamento de Dreyfus foi assinada por  três mil pessoas, dentre as quais Anatole France, Marcel Proust, e muitos intelectuais, homens de letras e da arte. 
           Seguiu-se o julgamento de Zola - que o gabinete não podia recusar - e foi condenado, sentenciado a um ano de cadeia e a  multa de três mil francos. Contudo, o movimento pela revisão da pena de Dreyfus marcara um ponto importante, pois grandes dúvidas tinham sido colocadas na legalidade do julgamento de Dreyfus.

          Para evitar a prisão, Émile Zola se refugia na Inglaterra com a esposa, onde permanece  em 1901 e 1902.  O casal falece neste último ano, por envenenamento causado pela lareira da residência, enquanto dormiam. As eventuais suspeitas de que não fosse morte casual nunca foram confirmadas.

           Quanto a novo julgamento de Alfred Dreyfus,  ainda teria sido difícil de levá-lo adiante, exceto por um evento fortuito.O Major Henry cometera suicídio, em fins de agosto de 1898, depois de confessar as suas forgeries. Picquart, agora exonerado do exército, se sentiu livre para unir-se aos revisionistas.  Esterazy, em pânico,  foge para a Bélgica e dali para Londres.  A confissão de Henry abre nova fase, nesse célebre affaire, pois ela assegura que o apelo da família Dreyfus por um novo julgamento agora  não mais poderia ser negado.
            Por sua vez, os esforços dos dreyfusards (partidários de Dreyfus), conduziram a nova Corte Marcial em Rennes (agosto-setembro de 1899), que ainda o condena, mas o presidente Émile Loubet, em ato de clemência, sustou os outros efeitos da condenação.  O capitão Dreyfus aceitou o ato de Loubet, mas se reservou o direito de continuar lutando para comprovar a própria inocência.
              Os seus esforços, apoiados por seu  irmão Mathieu, continuaram até que juntasse novas provas da sua inocência, para que o veredito de Rennes fosse submetido à corte da apelação penal.   Decidida pela Corte em março de 1904 a revisão plena, o julgamento de Rennes foi anulado,  e o Parlamento passou uma lei repondo Dreyfus no serviço do exército. Em julho de 1906, ele é formalmente readmitido no exército, e condecorado com a Legião de Honra. Depois de um curto serviço no exército, Dreyfus atinge o posto de major. Passa então à reserva.  Reconvocado para o serviço ativo na Iª Guerra Mundial, como tenente-coronel comanda uma coluna de munições. 

            Por sua vez, o escritor E. Zola, o grande defensor do capitao Dreyfus, se exila na Inglaterra, onde permanece em 1901 e 1902, falecendo neste último ano, com a esposa, em morte por envenenamento  da lareira da residência, o que na época despertara suspeitas, que  nunca foram confirmadas.


            Em doze de julho de 1935, Alfred Dreyfus  morre em Paris, como cidadão comum, o que sempre almejara ser.
( Fonte: Encyclopaedia Britannica )

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