O partido Conservador,
que é liderado pela Primeira Ministra Theresa
May, arrosta uma nova crise - já mencionada neste blog - que é suscitada pelo irrequieto Secretário de Relações
Exteriores, Boris Johnson e o encarregado
de negociações do Brexit, David Davis.
Johnson estava entre os
candidatos a suceder David Cameron, o
Primeiro Ministro que por inépcia ou falta de juízo político convocara esse
desastroso referendo do Brexit, um
neologismo fruto da conjunção de duas línguas (Britain exit),que não passa de
um novo vocábulo com fumaças a grandes aspirações.
Boris Johnson é prócer de um
Partido Conservador que se acredita renovado pelo tal desastroso referendo,
convocado de repente, em verão de ano passado, e que parece querer constituir-se
a força no motor de uma nova Inglaterra (Britain).
Já mencionei em blog anterior a arrogância intelectual
de Boris, que, como mostra de força mental, escreveu dois memoriais, um a
favor, e outro contra, o Brexit.
Não me parece que tal mostra de
suposta habilidade intelectual possa transmitir ao eleitor argumentos seguros
quanto à firmeza das convicções do honorável membro do Parlamento britânico. Se alguém baixa os critérios de pro ou contra no que tange à mudança tão radical para o Reino Unido - ser
ou não ser membro da União Europeia - como se fossem tão irrelevantes que
possam ser transformados em prova retórica, a ponto de que uma decisão pró ou contra vá depender da habilidade
do discurso, e não das qualidades intrínsecas desse aut-aut, pois tal equivaleria a uma simples habilidade no discurso,
e não à demonstração séria de que o representa para a Inglaterra o abandono do
ideal de europeismo e, por conseguinte de integração econômica e política do
Continente europeu. O europeísmo constituiu longa ambição de uma plêiade de
políticos ingleses, que, a principio com a porta da Europa fechada por De Gaulle, somente lograram integrar a
velha Inglaterra ao Continente europeu, depois do desaparecimento deste líder
francês.
Theresa May julgou oportuno
associar-se ao Brexit, essa estranha ideia
que de repente surgira em verões passados, fruto de demagogos e de
políticos que nas suas mentes julgavam possível reinstituir a Grã-Bretanha nas
condições do século XIX, quando a sua frota era senhora dos mares e o sol jamais
se punha no Império de Sua Majestade.
O saudosismo é livro pesado, como aqueles códigos de cavalaria que se
comprazia em folhear o engenhoso Fidalgo Don Quixote de La Mancha.
Transformá-lo em política, se para tanto se recorre ao aguilhão de oração
latina, pode entusiasmar a muitos, com a visão de uma nova realidade, ainda que impregnada de nostalgia das glórias
passadas.
Em todos os períodos
da História, reponta o quixotesco personagem trazido por René
Clair valendo-se do grande ator Michel Simon a quem transforma no eterno admirador de o que já foi. O filme do diretor francês
é visto pelo espectador como um estranho carrossel, em que as épocas
históricas se sucedem, mas não se repetem. Como fio condutor da História os
espectadores contemplam a estranha figura representada por essa espécie de
arauto da nostalgia que o célebre ator francês Michel Simon, com a sua
personificação do baboso admirador estará sempre proclamando com suas vestes poídas
e antiquadas para as épocas sucessivas em que reponta, desenhando o eterno tipo
do saudosista, daquele que admira o passado porque já não mais está entre nós,
mas para ele, no rosto admirável com que encarna esse culto irrestrito do passadismo,
como se fora um idólatra de uma situação em que as verrugas, os maus odores e
os perigos tivessem sido como que apagados pela amnésia de uma idolatria de o
que é pretérito. e dão-lhe o pretexto
para que o fio condutor da História seja a nostalgia daquilo que já foi , e
surge com os trajes apropriados de cada época a pronunciar as própria loas ao
passado circunstante.
O filme de René
Clair é uma sátira, e o grande ator Michel Simon a representa à maravilha. E
ele nos mostra, no carrossel dos reinos e das épocas, a humanidade do
personagem, pois a encenação não só faz rir, senão também nos induz a juízos e
comparações de o que podem fazer ou convencer a comédia de costumes pelos
instrumentos do absurdo ou de ridícula credulidade.
Talvez mais do que a
tragédia, a comédia nos mostra e, em consequência nos ensina, com traços mais
próximos à realidade hodierna, que assim como o açúcar, o sal também é um
condimento importante para abrir-nos não só a boca, mas as idéias, no que elas
possam ter de permanente. Afinal, somos todos humanos...
(Fontes: O Estado de S. Paulo; D. Quixote de La
Mancha, de Miguel de Cevantes; filmografia de René Clair )
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