sexta-feira, 27 de julho de 2018

É séria a tentativa de impeach Rosenstein ?


                          
      
         Nunca o abuso do instrumento do impeachment aparece tão claramente quão mostrado pela cínica manobra do presidente e do ex-presidente dos círculos de liberdade da Casa de Representantes, os Deputados Mark Meadows e Jim Jordan, da Carolina do Norte e de Ohio, respectivamente,  acusando o Subprocurador-geral Rod Rosenstein com base em cinco artigos de impeachment (crimes e faltas graves). 
        O objetivo da manobra, como assinalado pelo editorial do Times, não é, na reali-dade, acerca da recusa de Rosenstein de apresentar este ou aquele  documento relativo à investigação sobre os delitos da Rússia no que tange à campanha de Hillary Clinton, mas sim em jogar algo suculento para os eleitores, por mais falso e absurdo que seja.
       Primo, o editorial faz um breve resumo das estripolias de Meadows e companhia: em 2015, Mr Meadows se tornou uma celebridade da noite para o dia, quando entrou com resolução para derrubar John Boehner, o então Speaker.  A tentativa colou e Mr Boehner caíu.   As duas seguintes não tiveram o êxito da primeira: em 2016, os membros do Círculo da Liberdade entraram com moção para forçar o impeachment do comissário do Imposto de Renda, John Koskinen; e no último verão, entraram com peti-ção para que Obamacare (a reforma da saúde, de Obama) fosse rejeitada.
         O intento de derrubar Rosenstein não aparenta ter chance de sucesso.  A par de Mr Jordan e Mr Meadows, já citados, esse projeto  tem apenas o co-patrocínio de nove representantes. O próprio Trey Gowdy, o chefe do comitê de supervisão, não evidenciou entusiasmo algum pela proposta.
         Essa tentativa tem tão pouca probabilidade de prosperar, que  o Procurador-Geral Jeff Sessions houve por bem não só defender o seu substituto, mas também sugerir que os legisladores procurem utilizar melhor o tempo respectivo.E a democrata Sally Yates,  que exerceu as funções de Procurador-Geral substituta, e que, para a sua honra,  foi exonerada por se recusar a defender a proposta de Trump que cerrava o ingresso nos States de visitantes árabes, adverte pelo twitter acerca do prejuízo a longo prazo "de servir-se do Departamento de Justiça como instrumento de teatro político".
           É de esperar-se que Sally Yates seja candidata na próxima eleição para uma cadeira na Câmara - e até mesmo no Senado. Nesse contexto, é importante recordar que Ms. Yates pôs para correr o Senador republicano pelo Texas, Ted Cruz, que pensara humilhar a democrata em sessão de subcomitê judiciário do Senado, ao perguntar-lhe sobre se conhecia a 8.USC Seção 1182.  Ms. Yates a princípio disse que não, mas então o Senador pensando dar-lhe lição, leu um trecho do estatuto. Nessa ocasião, ela surpreenderia  Ted Cruz, no momento em que o Senador pensava humilhá-la, ao recordar-lhe o instrumento legal que ela se recusara  a implementar, o que determinou a sua exoneração.  Nesse momento, Ms. Yates surpreenderia Cruz ao dizer-lhe que ela também conhecia o estatuto legal.  E acrescentou, para sua honra e renome: "e estou também familiarizada com uma determinação adicional da Lei sobre a Imigração  e a Nacionalidade, que reza  que nenhuma pessoa receberá tratamento preferencial ou será discriminada, na expedição do visto, por causa de sua raça, nacionalidade ou lugar de nascimento, que, segundo creio, foi promulgado depois do estatuto que o senhor acaba de citar". 
          Ms. Yates acrescentou que, além do texto da Lei, ela tinha de julgar se o Decreto executivo de Trump violava a Constituição dos Estados Unidos.
          Escusado dizer que o video da resposta de Ms. Sally Yates se tornou uma sensação na internet. Também será interessante assinalar que o Senador Ted Cruz, republicano do Texas,  não mais foi visto naquela sessão do  subcomitê...
            Mas voltemos, ainda que por breve instante, ao nível atual do Grand Old Party. Parece importante sublinhar que Trump não inventou a mensagem apocalíptica com que ganhou a base republicana. Ele simplesmente a distilou até a própria essência.  Assim não surpreende que a turma do Freedom Caucus procure deslegitimizar o governo, que seria sempre o problema, e que todos os experts são idiotas (sic).
         Tudo leva, portanto, a supor, que, dado o nível dos membros do Freedom Caucus, o seu esforço em afastar Mr Rosenstein não possa ser levado a sério. Dominado por gente tão intelectualmente limitada, esse estranho objetivo  do "Círculo da Liberdade" mostra o baixo nível que tem caracterizado o GOP nos últimos anos. A podridão do partido já existia antes que Mr Trump aparecesse para dela servir-se, e tudo leva a crer que tal condição permanecerá mesmo depois que o presidente desça pelo Sunset Boulevard que o espera...


(Fontes: Transcrição da  Junta editorial do New York Times; quanto a Sally Yates, vide The New Yorker, May 29, 2017)

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