Angela
Merkel, a Chanceler alemã, e a quem o Presidente Donald Trump se recusara, dentro de seu estilo sorrateiro, de, na
Casa Branca cumprimentar com aperto de mão, a líder da reunificada Alemanha, ao
regressar do encontro dos oito - e tendo presente a recentíssima reunião da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), veio a público para afirmar a
seus conacionais que "a Europa não mais pode confiar em outros".
Depois da recente visita de Trump, a Chanceler não deixou dúvidas a quem ela se
referia, mas acrescentou que a "Europa deve tomar o próprio destino nas
suas próprias mãos".
A Chanceler alemã não poderia oferecer
repúdio mais claro e forte quanto à liderança do presidente estadunidense.
Nesse contexto, e pescando talvez em águas
turvas, temos a queridinha de Trump, a radicalizadora na implementação do brexit, i.e., Theresa May, a atual Primeira
Ministra de Sua Majestade Britânica.
Sentindo-se já um tanto fora da UE - os seus mais longínquos
antecessores em Downing Street 10, ou se terão revirado na tumba, ou imprecado
contra a falta de visão da May, que optou pela forma mais radical do
afastamento do Mercado Comum, que tantos esforços consumira adentrar aos já
afastados predecessores dos anos setenta, quando afinal se viram livres do veto
do general de Gaulle - a May dentre as várias opções à disposição, preferiu o
divórcio radical, cortando muitas possibilidades de manutenção de laços, que
poderiam ser de grande serventia aos insulares ingleses.
Por isso, ela já é havida como uma 'mole',
i.e. alguém que não hesitaria em
divulgar informes que poderiam ser danosos para a União Européia.
A próxima eleição, convocada por
Theresa May para dispor de confortável maioria, pode sair-lhe pela culatra,
seja com vitória pouco expressiva, seja
com a afirmação de Jeremy Corbin, o líder trabalhista, o que tornaria o quadro
da negociação do brexit ainda mais
confuso.
Entrementes, a saída do Reino Unido
pode levar a uma espécie de diarquia de Alemanha e França na União Européia. A
tal respeito, Emmanuel Macron tem dado
muitas indicações de que apoiará Merkel.
Indicativos da disposição
filo-germânica do novo presidente francês estão no seu especial cuidado em designar para os postos ministeriais que mais
tenham a ver com a RFA personalidades francesas que estejam bem inteiradas das
questões ligadas à Alemanha, e que inclusive
dominem o idioma de Goethe.
A postura radical de Donald Trump,
ao negar-se a assumir encargos que pela ordem natural das coisas caberiam à
Superpotência em circunstâncias ditas normais, tende de certo modo a dar uma
nova imagem aos Estados Unidos, como se o tão falado decline (declínio), que terá resultado das ruinosas campanhas da
presidência de Bush Jr. (sobretudo a guerra no Iraque) seja um fato real, conforme
vários articulistas, com George Packer à frente, tem afirmado.
Resta a determinar quais são as
causas reais desse suposto declinio
americano, e se a posição do presidente Trump, com a sua insólita proximidade
com a Rússia de Putin, em tantos aspectos tão heterodoxa e mesmo heteróclita,
poderá contribuir para uma reação do poder americano.
Em função das diversas questões
relacionadas aos laços de Donald Trump com o Kremlin, em especial o seu líder Vladimir V. Putin, é importante ter presente a recentíssima
designação pelo Senado americano de Robert S Mueller III, antigo e
respeitado Diretor do FBI, para encarregar-se da investigação sobre os laços de
Donald Trump com a Rússia.
Dessarte, o enfraquecimento da
liderança de Trump - refletida também nas suas posições que se afastam da linha
de seus predecessores ao se dissociar, v.g.,
da preservação da Aliança Norte-Atlântica - é suscetível de provocar reações
imprevisíveis, seja enquanto à Organização do Tratado do Atlântico Norte, seja
nos seus eventuais reflexos no Continente Europeu.
Princípio básico da política é o
seu horror ao vácuo. Colocados diante de tal problema, e confirmada a sua
realidade fática (o que ainda não está demonstrado) as potências interessadas
tratarão de encontrar soluções aceitáveis e práticas para enfrentar o desafio.
( Fontes: The New York Times, Washington Post, imprensa britânica, George Packer).
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