Os erros custam a sair
de cena, e mais ainda quando levam a resultados contrários, ao sentir das
personalidades envolvidas.
Corroborando assertivas anteriores, e
cerca de um dia antes das declarações do Diretor do F.B.I., James Brien Comey,
a Senhora Hillary Clinton, em evento social em New York, se reportara aos seus
esforços para lidar com a inesperada
derrota na eleição.
"Eu acredito que o motivo de nossa
derrota foram os acontecimentos nos últimos dez dias (antes da eleição). Se a
eleição houvesse ocorrido em 27 de outubro (antes das 'revelações' de Mr Comey)
eu seria a Presidente dos Estados Unidos."
Não surpreende tampouco que o
Presidente Trump procure esquecer as decisões do Diretor do FBI, assim como
desmerecer dos esforços russos para ajudar a sua campanha.
A Senadora Dianne Feinstein, a
Democrata mais categorizada na Comissão do Judiciário, disse para a testemunha
Comey que ele tinha tomado iniciativa bastante arriscada, ao mandar correspondência
para o Congresso, sem saber como os e-mails
descobertos poderiam influenciar nas investigações. E acrescentou: "
Precisamos saber como o F.B.I. vai recuperar a fé e a confiança. Nós precisamos
de respostas confiáveis para as nossas perguntas, e nós queremos ouvir como o
Senhor continuará a guiar o FBI no futuro. Nós não queremos que tal possa vir a
acontecer de novo."
O próprio Senador Charles E. Grassley, de
Iowa, o presidente republicano da Comissão, não poupou Mr Comey:
"Precisamos que o F.B.I. seja responsável por seus atos, porque precisamos
que o FBI seja eficaz."
A sessão de 4ª Feira seria em
princípio apenas exercício da supervisão de rotina do Congresso, ao contrário
da audiência em março, na qual Mr Comey tomara a rara iniciativa de confirmar a
existência de investigação sobre a interferência da Rússia na eleição.
Houve singular diferença na
interpretação dada ao encaminhamento de mais e-mails para o computador de Anthony Weiner, então marido de Huma
Abedin (secretária da Senhora Clinton no State
Department). A maioria dos altos funcionários viu a prática como de rotina,
com a maior parte dos e-mails sendo
encaminhada para arquivamento no computador de Mr. Weiner e uns poucos sendo dirigidos
para Mr Weiner.
Outras regras básicas do
comportamento a ser seguido não foram respeitadas por Mr Comey. O que os funcionários do Departamento de
Justiça viam como obediência às regras, Mr Comey via como encobrimento. Por outro lado, o FBI não confirma normalmente investigações em curso. A par disso,
as altas autoridades do Departamento encareceram Mr Comey a que não informasse a respeito o Congresso.
Apesar de toda a empáfia de Mr James Comey
- além do modo rude em que se referira como Mrs. Clinton havia manuseado os e-mails (na primeira audiência perante a
Câmara de Representantes) - a direção do FBI semelha não haver sido muito estrita quanto ao segredo a ser
observado. O antigo adversário de Hillary, Rudolph
W. Giuliani - que é assessor de Trump - três dias antes do anúncio fatídico
de Mr Comey em outubro, declarou na Fox News (a tevê de direita que apoiava
Trump) que a campanha iria apresentar ainda "um par de surpresas".
Quando o infatigável Comey mandou a
sua carta (ao Congresso) decidindo a eleição,
a campanha de Trump apressou-se
em dizer que Giuliani "estava apenas se divertindo". Mas Mr Giuliani, em observação que diz bem de
seu caráter, fez questão de precisar que
ele havia sabido antes que o FBI encontrara novos e-mails de Hillary Clinton
relacionados com a questão.
Antes de pôr um ponto final pelo
menos nesse artigo, as respostas do Diretor do FBI, tentando reforçar uma
posição cuja insustentabilidade cresce a cada nova informação recebida, tendem
apenas a colocá-lo em ulteriores dificuldades.
Por fim, perguntado como se sentiu
quando se verificou da influência que tiveram as suas comunicações para o
Congresso, e o consequente peso na sorte da candidatura de Hillary Clinton, Mr
James B.Comey declarou: "Me senti
levemente nauseado".
Quanto mais este senhor fala -
seja também no intento de desmerecer do peso da influência russa no andamento
da campanha - mas sobretudo quanto a suas intervenções descabidas e inoportunas
no tópico dos e-mails -, cresce e se
generaliza o sentimento de quanto o ego de um alto funcionário da Administração
que não teve presentes, seja a orientação do Departamento de Justiça no que
tange ao cuidado de não influenciar de modo algum o eleitor, seja respeitar uma
atitude mais criteriosa no que concerne ao próprio vedetismo - pesou ao final
tristemente no resultado da eleição.
Findo esse melancólico mega-episódio,
a Opinião Pública e o Congresso ficaram conhecendo melhor a Mr James
Brien Comey. Mas para tal
prejuízo - ficar com Donald Trump e não Hillary R. Clinton como Presidente,
creio de minha modesta parte que foi um preço demasiado cruel, de todo
desproporcional à oportunidade de melhor aquilatar da mente e da capacidade do
atual Diretor de Federal Bureau of
Investigations. Dela tratará a História, com as duras, inapagáveis palavras
que tais atos, oriundos de personagens menores, podem ter ao conformar o
destino dos Estados Unidos da América no próximo quadriênio.
( Fonte: The New York Times
)
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