Não é agradável que o restrito clube
ocidental de intercâmbio de informações sigilosas seja sacudido de repente pela
notícia de que um dos elos da cadeia não é confiável.
No reino da inteligência, a reserva é o
tempero indispensável não só para
preservar a eventual qualidade da informação, mas também, e sobretudo, para
garantir-lhe utilização eficaz.
Em termos de informação, não se trata de
egoísmo preservá-la de que a ela possam ter acesso entidades fora do clube
exclusivo.
Reportando-se à questão de forma genérica,
o segredo - também nesse campo - pode ser a alma do negócio.
Assim, quando veio à tona que o novel
presidente Donald Trump se mostrara
estômago frio em termos de informações desse gênero, ele contribuíu de forma
irresponsável para quebrar a confiança nesse campo.
Como se sabe, e mais ainda no delicado
setor do intercâmbio da inteligência, passá-la adiante é procedimento
complicado, eis que levantando o pano assume a responsabilidade pelos eventuais
efeitos da sua disponibilização a uma parte que está fora do circuito.
Porquê a Federação Russa de Vladimir
Putin não recebe - ou não recebia - esse tipo de informação, se deve
simplesmente à circunstância de que as suas alianças são outras. A Rússia - e
tal constitui verdade inegável - é uma adversária da aliança ocidental e do
sistema sob a coordenação estadunidense.
Compreende-se, assim, desde já, porque gospodin Vladimir Putin pôs quase todas as suas fichas para derrotar Hillary Clinton - e não só por ter um
velho ressentimento contra ela -, mas sobretudo pelos irretorquíveis elos de Mr
Trump com Moscou, a ponto de que para não poucos dos amigos de Tio Sam ele seja
visto como virtual risco de segurança. Daí, a pronta reação do atual morador da
Casa Branca em afastar James Comey do FBI,quando este último falou sério sobre
investigar a influência russa no capítulo.
Todo o empenho da Rússia em atrapalhar a
eleição americana - ou melhor, tudo fazer para que o "seu" candidato vencesse -já é um elemento para lá
de intranquilizador no quadro. Se o 45º presidente dá o bilhete azul para
Comey, tão logo este anuncie que vai empenhar-se em apurar a verdade (muito se
poderá dizer da falta de contenção política - em termos eleitorais - do então
chefe do FBI, mas nunca de pouco empenho profissional), não pude senão
lembrar-me da advertência do colunista do New York Times Paul Krugman, quanto
ao risco de segurança que representa Trump na sua aparentemente estreita relação
de amizade com gospodin Putin, esse seu
velho conhecido, formado pelo KGB e
que um Boris Ieltsin já nas últimas chamara para assumir a primeira
ministrança e em seguida a
presidência.
( Fontes: The New York
Times, Karen Dawisha - Putin 's Kleptocracy )
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