quarta-feira, 17 de maio de 2017

Ilíada: a morte de Heitor (1ª Parte)

                              
Capítulo XXII (226)

           A deusa Pallas Athena, para preparar o duelo entre seu protegido, Aquiles, aparece  para Heitor,  o campeão troiano do elmo luzente, como se fosse Deiphobus, o mais querido dos seus irmãos:" Caro irmão, em verdade meu pai e minha mãe, e também meus camaradas querem que eu permaneça junto deles, tanto eles tremem diante de Aquiles; mas meu coração  sofria com amargo pesar. Sem embargo, que o enfrentemos em aberta luta, e que não poupemos nossas lanças, para que saibamos se Aquiles nos vai matar a nós dois, e carregar os nossos restos sangrentos para as naves vazias, ou se, por fortuna, o venceremos com tua lança."
Com tais palavras e com astúcia Athena o traz. E quando  havia chegado perto, a medida que avançavam um contra o outro, e estão já próximos um do outro, diz ele para Aquiles, o grande guerreiro do elmo brilhante: "Não mais, filho de Peleus, irei fugir de ti,  como por três vezes dei voltas em torno da  grande cidade de Príamo, eis que não tinha a coragem de arrostar o teu ataque; mas agora de novo o meu coração me comanda deter-me  e enfrentar a ti, não importa se vença ou seja vencido. Que venhas então, e invoquemos os deuses para padrinhos.Eles serão por certo as melhores testemunhas e guardiães de nosso acordo.  Não desrespeitarei teus restos, se Zeus conceder-me a força de te fazer frente, e de tirar-te a vida; mas quando retirar-te a gloriosa armadura, ó Aquiles, darei o teu cadáver de volta aos Aqueus; e assim o farás tu." Então com olhar raivoso, luzindo debaixo das sobrancelhas, Aquiles, dos pés velozes, diz para ele : "Heitor, não me venhas, ó infeliz, falar de acordos. Assim como entre leões e homens não há  juras de fé, nem lobos  nem cordeiros  têm corações de concórdia, mas têm sempre maus pensamentos   entre si, tampouco será possível para nós sermos amigos, nem haverá quaisquer juras entre nós, até que um ou outro caia, e que Ares, o guerreiro com o escudo do couro rijo, vá fartar-se com o teu sangue. Pense acerca de todos os modos de bravura: agora em verdade a ti cabe abandonar o lanceiro e o guerreiro sem medo. Não há mais esperança para ti, eis que Pallas Athena  com a minha lança te abaterá. Agora me pagarás de uma vez o preço inteiro por todas as tristezas que me destes por meus camaradas, a quem mataste com a fúria de tua lança.
 Em seguida, calado, empunha a lança da longa sombra. Entretanto, o glorioso Heitor firmemente o encara e evita o primeiro golpe. Vendo-o  a tempo, ele se  agacha, e a lança de bronze o sobrevoa e finca-se na terra. Mas Pallas Athena a apanha e a dá de volta a Aquiles, sem que Heitor, comandante da tropa, possa vê-lo. E Heitor diz para o inigualável filho de Peleus : "Erraste, tampouco ouviste, segundo parece, oh Aquiles igual aos deuses,  de Zeus do meu destino, malgrado assim o penses. Embora tenhas a língua solta e astuto patife que és nas palavras, a ponto que tomado do medo de ti possa esquecer  da minha força e do meu valor.  Não colocarás tua lança nas minhas costas. Tampouco  se eu te ataco  a  atravessarás  no meu peito, ainda que um deus o tenha prometido. Agora trata de evitar a minha lança de bronze. Se possível fora que a recebas inteira na tua carne! A guerra seria mais leve para os Troianos, se tu morresses; para eles, és a maior desgraça".   

 Capítulo  XXII (288).


 Fontes:  The  Iliad (of Homer)  Translation by A. T. Murray  (second volume) The Loeb Classical Library. Versão para o português e comentários posteriores  a cargo do responsável pelo blog.

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