Na minha primeira comunicação ao Senhor
Prefeito do Rio de Janeiro, perguntava se havia já assumido as suas funções.
Há um problema com Sua Excelência e
seus concitadinos. Empossado em suas altas funções, a única indicação que tive
de sua atividade como sucessor de Senhor Eduardo Paes foi de sua viagem-missão
à Brasília, levando o próprio filho, com o escopo de convencer o Supremo
Tribunal Federal de que a sua nomeação para a chefia de seu gabinete não constituía
nepotismo.
Como nada resultou de sua visita ao
STF, é de supor-se que o colendo colegiado - ou um membro dele representativo -
terá ponderado que, nas presentes circunstâncias, a designação de um filho do
prefeito Crivella em alguma função na prefeitura constituiria sempre nepotismo.
Em outras palavas, havia uma pedra no caminho, a impedir a realização do desejo
do genitor que aspirava valer-se do próprio filho para ocupar funções de gestão
no respectivo gabinete.
Já o motivo desta minha segunda
mensagem ao Prefeito Marcelo Crivella difere da anterior. Por onde se ande no
Rio de Janeiro, se tem a impressão de que o atual prefeito continua ausente de
suas altas funções.
Não se lhe distingue a presença seja -
para começar em aspectos mais comezinhos - na pintura das faixas de pedestre
nos bairros da cidade que lhe escolheu com o voto para presidir por quatro anos
aos seus destinos. Se nas grandes artérias, elas ainda aparecem, se o motorista
entra em ruas laterais ou secundárias, outra será a impressão colhida. E ela é
a do abandono, com faixas de pedestre cuja sinalização está por desaparecer.
Por outro, como guarda de trânsito se
transformou em espécime raro e os municipais são difíceis de encontrar, é muito
comum o estacionamento irregular - tanto no centro, ou o que o Sr. Eduardo Paes
doravante mandou chamar de centro, prejudicando a quarteirões inteiros enquanto
ao antigo ativo comércio, assim como a bares e restaurantes tradicionais, que
tiveram de fechar as portas, tangidos por modernização tão draconiana, quanto
artificial.
Não é preciso fazer curso de
urbanismo para ter presente que a "renovação" instituída pelo
anterior prefeito, a pretexto, entre outras coisas, de agilizar o trânsito, na
verdade criou uma série de monstrengos em termos de circulação, desviada a
Avenida Rio Branco do objetivo pela qual foi riscada e planejada por antecessor
com maior visão que o dileto amigo do Governador Sérgio Cabral, a quem deveu a
eleição, no pontual ponto facultativo de dúbia legalidade, sobre o seu popular
concorrente Fernando Gabeira.
Mas alguma coisa há de fazer-se com
esse centro - cuja presente virtual inatividade foi estabelecida por capricho do Sr.
Eduardo Paes. Não sei se deva definir como insensato ou ruinoso esse
planejamento que nos custou o esvaziamento do centro citadino, antes pleno de
gente, negócios e de comércio, hoje transformado em um museu ao ar livre de
casarões fechados e de ruas mal policiadas.
Ora, dirão, que o Senhor Marcelo
Crivella, sobrinho do bispo Macedo, nada tem a ver com as experiências
urbanísticas de Eduardo Paes. Peço vênia para discordar, e por dois motivos:
estou certo de que o trânsito dos modernos VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos)- na verdade, a versão moderna
dos bondes pode ter grande utilidade para os cidadãos, mas a sua implantação em
outras partes do mundo não acarretou o desconcerto e o desconforto dos demais
transportes, cuja eficiência - com exceção do metrô, por óbvios motivos - não persistiu.
O Sr. Crivella ainda não disse
ao que veio. O centro do Rio de Janeiro, antes movimentado e - o que é
importante - dando emprego a muitos, hoje se transformou em um quase cemitério.
Atravessando ruas e vielas semi-desertas, a pergunta que nos assoma é por quanto
tempo se conviverá com tal esdrúxula situação, em que se esvaziam quarteirões
inteiros para transformá-los em becos e vielas mortas. Não se carece de ser
nenhum profeta para antever a invasão de casas e casarões abandonados pelo
mesmo tipo de gente que ora azucrina o Prefeito João Dória de São Paulo.
Conhecemos os procedimentos desses senhores. Na verdade, não estão preocupados
em prevenir, mas sim em impedir, uma vez realizada a invasão, que se retire de
lugares por onde nunca andaram esses infelizes que na atualidade constituem a
turma da cracolândia.
Em outros tempos, as autoridades
cuidavam de administrar as cidades, grandes ou pequenas, e de assegurar-lhes a
progressão no comércio e na indústria.
Até agora - e que me desculpem
os seus partidários - não logrei entender aonde está o segredo do radioso
futuro do centro dessa sofrida e mui leal Cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro. De um lado, temos um prefeito não tão recém-eleito que teima em não dar o ar de sua graça, nas ruas,
avenidas, calçadas e tudo o mais da mega-cidade a que chamaram de maravilhosa.
E de outro lado, alguém que exerceu dois mandatos, mas até agora tampouco nos
transmitiu qual o segredo de sua avalanche de modernização, pois ao invés de criar
núcleos flamantes de atividade, ele transformou o centro em cidade quase-morta,
onde os mais velhos caminham e dizem para os mais jovens, usando sempre o tempo
passado: aqui foi isso, aqui foi aquilo, nestas ruas e travessas muita gente
passava, atarefada ou não, e agora muitos têm medo de adentrar esses espaços
ermos, criados pelo planejamento da Prefeitura...
(a continuar)
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