Depois de fazer o galã
em diversos filmes, Richard Gere aceita
protagonizar o papel de Norman, um fixer[1]
novaiorquino, que não tem residência e
mora em dependências da sinagoga do bairro.
Ele tem a oportunidade de sua vida ao
privar, ainda que de forma ocasional, com alto político israelense, a quem, sob
o impulso de um palpite, dá ao personagem encarnado por Lior Ashkenazi (Micha
Eshel) um par de sapatos caríssimos que lhe cáem à maravilha.
Ainda desconhecendo na realidade a
situação social de Norman, Micha diz o quanto lhe é grato. Essa amizade entre o
futuro Primeiro Ministro e, na prática, o morador de rua, Norman, será ainda
mais realçada quando Eshel se torna Primeiro Ministro de Israel.
Esses laços serão no futuro realçados
pela mídia israelense. Lançado à fama pela relação entre o fixer e o primeiro ministro de Israel - que professa integral confiança
naquele personagem humilde que lhe ajudou por um gesto de nobreza, sem qualquer objetivo interesseiro -
muitos buscam o fixer para valer-se de
sua influência junto a Micha Eshel.
Viajando no metrô,
Norman sente simpatia por uma mulher, a quem abre o seu coração, fazendo
confidências a respeito de seu relacionamento com o primeiro Ministro de Israel.
Ele ignora que ela tem atribuições oficiais e irá notificar as autoridades
israelenses sobre esse suposto tráfico de influência.
Cercado por muitos que desejam
aproveitar-se de sua relação com Eshel para dela tirar proveito, o quase morador
de rua busca salvar o amigo através de doações que por serem ilegais complicam
ainda mais o quadro. Então o "amigo" Eshel lhe telefona, fala uma vez
mais da amizade, mas consegue do vagabundo a promessa de que não implicará o
seu nome, posto que acrescente que como Primeiro Ministro terá de atacá-lo.
Micha Eshel dirá que a amizade deles há de perdurar, mas logo em seguida se
desembaraça da carta de Norman, com o que sinaliza o corte definitivo da
relação, por raison d'état (razão de
estado) que lhe permite cortar a amizade e a gratidão que deve a Norman.
Norman,
ao dar-se conta da traição, se mostra moralmente superior ao Primeiro Ministro,
ao pagar com os próprios fundos a melhoria na sinagoga - assim sob a assinatura
de doador anônimo salva o nome de Micha Eshel - e, em seguida, comete suicídio
ao comprar pacotinho de nozes, que sabia lhe causariam imediata e violenta
asfixia .Basta uma noz para causar-lhe a morte.
Norman dá oportunidade a Richard Gere
de grande interpretação, talvez o papel
de sua vida. O personagem tem evidentes traços chaplineanos (Luzes da Cidade), mas o desfecho para
Norman é pior ainda de o que sofre Carlitos ao ajudar a florista cega (que o
reconhece pela textura da manga do casaco ao acariciá-la), eis que o vagabundo
(que ela pensava fosse milionário) lhe pagara a operação que lhe devolveria a
visão...
Obviamente, param por aí as
semelhanças, porque Norman
não tem a profundeza sentimental do eterno vagabundo, e dos seus imortais
personagens (o ricaço que só quando bêbedo é amigão de Carlitos), o corte
espetacular da película para o cabaré e a hilariante cena em que Carlitos desce
à pista para 'salvar' a moça dançarina dos safanões de seu par apache...
Bom, mas tampouco dá pra esquecer que Joseph Cedar, o jovem diretor de Norman,
não é Charlie Chaplin, nem Norman
tem algo a ver com o eterno personagem do chapéu de coco e a bengalinha...
[1]
não há tradução para fixer (aquele que dá jeito em coisas ou situações),
papel geralmente exercido por quem não tem emprego fixo, e se vale do próprio
conhecimento local para arrumar as coisas - o precário faz parte desse papel de dar um 'jeito' em situações.
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