Apesar de todo o medo
do Front Nationale, Marine Le Pen imitou seu pai e
morreu na praia.O povo francês pode ter
suas idiossincrasias mas tenderá sempre - ou quase sempre - para o centro.
À
volta, a torcida dos inconfessáveis fazia sua fezinha na aposta alta de Marine
Le Pen. Como espantalho, pode servir,
mas só mesmo um povo despreparado e ignorante jogaria tudo fora, votando na
filha do velho Le Pen.
Mas
anti-milagres não costumam acontecer,
sobretudo na gente cujos pais
enfrentaram a desgraça de Vichy. O francês é povo conservador,
e esse conservado-rismo tem longas raízes. À Revolução Francesa sucedeu o
bonapartismo, e mais tarde, após liquidar-se a juventude e os sonhos da Bel Époque nas mortais trincheiras da
Primeira Guerra - há um monumento, perdido nos Balcãs, a Gavrilo Princip, o terrorista que morreu na cama, após matar o
herdeiro da coroa austro-húngara, e provocar o primeira grande conflagração do
século vinte. Não foram só os muitos milhões da juventude européia que o gás e incapazes
generais iriam ceifar nas trincheiras da
campanha francesa; partiu também um tempo quando não se precisava de passaporte
para viajar. Havia muitos reis, imperadores e velhas senhoras, com longos
leques, mas sobretudo um tempo de paz.
Mesmo
no paraíso existem descontentes, e um bando de terroristas resolveu matar o
casal real, que cometeria a asneira de visitar, com a pompa do século XIX, o
que seria a antevisão do inferno. Não tardou que o implacável sistema das
alianças, costurado pelos gabinetes europeus, entrasse em funcionamento, e lá
se foi, na lama da charneca francesa, a flor da juventude europeia que pensara
ter nascido para vida melhor e mais longa.
Como sabemos tudo ali começou, mas não
terminou. Pois depois da primeira viria a segunda grande matança, encabeçada
por um louco - que chegara a gostar do aperitivo da guerra das trincheiras - e
que levaria para o inferno, não só a juventude do entre-guerras, mas quase todo
um Povo, pensando terminar com o antissemitismo através da total extinção das
vítimas.
Hoje,
havia gente assistindo de camarote à desgraça que não houve. Pois chuleavam para que o bom povo francês
fosse tão louco que a dose repetisse, elegendo a filha de um velho extremista.
Há gente que pensa que o ódio e o ressentimento podem construir algo, assim
como o oportunismo na vitimização de falsos culpados. A direita está sempre à
cata de vítimas que possam catalisar a miséria
e os erros do passado.
Enquanto a Theresa May, depois de associar-se ao Brexit, ficou no balcão
para ver se assistia de camarote ao naufrágio
do Mercado Comum. Se a Inglaterra terá custado a ingressar no clube -
obstada pelo general de Gaulle que os conhecia bem - saíu dele pela porta dos
fundos, por meio de plebiscito que foi convocado de repente, no último
verão.
Emmanuel Macron é ainda jovem, mas
preferiu escolher como esposa alguém com mais experiência. Como a liderança francesa, saída do Partido
Socialista e do Centro, dava muitos sinais de cansaço, a História que tem um fraco pelo Povo que
admira Voltaire, vê outras terras
escolherem as receitas do suiço-francês Jean-Jacques
Rousseau, e que ainda trouxe para o Continente um corso
que algo de tática e estratégia militar conhecia, a ponto de infernizar a arena
europeia por uma quinzena de anos, hoje
prefere cultuar Emmanuel Macron, que
sendo o que é, promete grandes coisas levado pela mão serena da esposa.
Desta feita, não funcionaram os jogos do
Norte, que tantos problemas criaram naTerra que acolheu La Fayette. Será o
conhecimento misturado com a experiência...
Que o século XXI progrida no bom senso e nos caprichos desta
velha senhora, a Paz, que não tem
decerto o charme daquela virago de temperamento insuportável e de tantas belas
páginas, que costumam, hélàs,
terminar na doença, miséria e ódios comuns, silenciosamente cultivados junto de
enegrecidas lareiras...
( Fontes: The
New York Times, July 1914, de Sean
McMeekin, et al.)
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