sexta-feira, 26 de maio de 2017

Trump e a OTAN

                              

        Para assistente da reunião da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que é alegadamente a comemoração do 70º aniversário da existência dessa aliança dos países do Ocidente sob liderança americana, tal espectador ficaria algo perplexo quanto ao viés impresso pelo Presidente Donald Trump no que concerne ao objetivo precípuo da dita conferência,  em nível de chefes de Governo. Tem-se a impressão  que se trataria de ocasião menor e não da sinalização da aliança que por setenta anos manteve a paz na Europa.
        Ao invés de servir-se da reunião como motivo de júbilo, Trump houve por bem ralhar os demais líderes ocidentais por não cumprirem com o empenho de gastar dois por cento do Produto Nacional Bruto respectivo em matéria militar. Essa atitude de bedel, ele a repetiu como durante a sua recente campanha presidencial.
         Outra questão é a do relacionamento com a Federação Russa, de gospodin Vladimir V. Putin. É deveras perturbador que, quanto às relações com a Rússia, haja indícios que, de forma muito estranha, não haja concordância entre a Washington de Trump e os demais aliados ocidentais no que tange a esse tópico. Dada a delicadeza da matéria, é compreensível que o tema não seja aprofundado, pelo menos de forma ostensiva.

         No entanto, há outro aspecto que clama por um exame mais detido.  Essas repreensões - como se de um lado os Estados Unidos sejam o professor, e do outro, os demais paises se vejam relegados ao papel de auxiliares inferiores - se repetem amiúde, e dão nota algo embaraçosa para a nova relação.
           Diante da notória agressividade da nova - em muitos aspectos, velha, pois repete comportamento que data do tempo dos tzares -  Rússia, o comportamento do novo Presidente americano injeta muita insegurança na Aliança do Tratado do Atlântico Norte, eis que essa organização existe essencialmente por causa da ameaça colocada a seu tempo pela URSS, e hoje, pelo seu avatar, um tanto reduzido é verdade, que é a Federação Russa.

          Sem embargo, a assertiva recente de Barack Obama para Vladimir Putin que a Rússia não passa de potência continental, vem sendo metodicamente desmentida por Putin, através de confrontação no Mediterrâneo e nos mares do Norte, entre, notadamente, os submarinos das frotas russa e americana.
            Não se pode tampouco esquecer a recente invasão da Criméia pela Rússia, que dela se apossou apesar de  Recomendação da Assembléia Geral das Nações Unidas (postura de que vergonhosamente a delegação brasileira sob as instruções de Dilma Rousseff se absteve de associar-se). As  recomendações da Assembleia Geral são suasórias e não impeditivas, como seria o caso de resolução do Conselho de Segurança, o que dada a presença da Rússia é na atualidade impossível, pelo veto de Moscou.
            Tristemente, na era petista, coube a professores da Fundação Getúlio Vargas relembrar aos representantes da então Presidenta de quão ruinoso é para o Brasil apoiar o direito de conquista, como foi o que ocorreu, por um misto de ignorância da chefa, e de comportamento timorato de seus representantes diplomáticos.
               A desestabilização da Ucrânia - que apesar do tamanho estaria incluída entre os países (súditos) do estrangeiro próximo[1] - é ameaça ainda maior no momento atual. Se sob Obama os Estados Unidos não apoiaram diretamente a Ucrânia (posto que haja diversas sanções em vigor que proíbem viagens para a Criméia, a par de outras que visam aspectos financeiros), a posição de Trump com relação a Putin torna eventual apoio americano a outras sanções bastante dúbio, pelo menos enquanto D. Trump estiver na Casa Branca.   
                A conclusão a ser tirada da posição de Trump com relação à  OTAN não pode ser comparável com o exemplo dado pelos seus predecessores. Com Trump não se fala mais do compromisso mútuo de defesa que estaria no coração da aliança. Por isso, como o New York Times não deixa de frisar, Trump falhou em transmitir aos membros da OTAN que os Estados Unidos, sob sua direção, seguiriam o exemplo de seus predecessores em liderar uma aliança forte e unida, que continuaria como base da segurança ocidental. 
                     Dada a óbvia ligação de Trump com a Rússia - e as investigações do FBI e de outros órgãos americanos só tendem a reforçar tal impressão (como a anunciada investigação de seu genro Jared deve agregar outros elementos comprometedores) - acreditar que  o futuro possa augurar um quadro menos inquietante quanto ao nível de influência da Federação Russa sobre o atual governo estadunidense  é dar prova de panglossiano otimismo no particular.  As próximas investigações - quem sabe elas não se restrinjam a personalidades já conhecidas - poderão ser determinantes, não só quanto ao futuro do 45º presidente, assim como do atual vice-presidente, Michael Richard Pence.  Como todo vice-Presidente, a perspectiva de assumir o mando existe e nem sempre pelo capricho das Parcas. Pelo que se sabe, trata-se de  republicano cujo brilho moderado terá induzido Trump a escolhê-lo como companheiro de chapa. 
           

( Fontes: The New York Times, Karen Dawisha )            




[1] Estrangeiro próximo é um conceito válido inclusive na legislação russa. A prof. Karen Dawisha, especialista em Putin (V. Putin´s Kleptocracy, de que é autora) tem sido objeto de muitas menções do blog sobre a sua abrangente visão de o que é a Rússia de Vladimir Putin.

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