Para assistente da reunião da NATO
(Organização do Tratado do Atlântico Norte), que é alegadamente a comemoração
do 70º aniversário da existência dessa aliança dos países do Ocidente sob liderança
americana, tal espectador ficaria algo perplexo quanto ao viés impresso pelo
Presidente Donald Trump no que
concerne ao objetivo precípuo da dita conferência, em nível de chefes de Governo. Tem-se a
impressão que se trataria de ocasião
menor e não da sinalização da aliança que por setenta anos manteve a paz na
Europa.
Ao invés de servir-se da reunião como
motivo de júbilo, Trump houve por bem ralhar os demais líderes ocidentais por
não cumprirem com o empenho de gastar dois por cento do Produto Nacional Bruto
respectivo em matéria militar. Essa atitude de bedel, ele a repetiu como
durante a sua recente campanha presidencial.
Outra questão é a do relacionamento
com a Federação Russa, de gospodin Vladimir V. Putin. É deveras
perturbador que, quanto às relações com a Rússia, haja indícios que, de forma
muito estranha, não haja concordância entre a Washington de Trump e os demais
aliados ocidentais no que tange a esse tópico. Dada a delicadeza da matéria, é
compreensível que o tema não seja aprofundado, pelo menos de forma ostensiva.
No entanto, há outro aspecto que
clama por um exame mais detido. Essas
repreensões - como se de um lado os Estados Unidos sejam o professor, e do
outro, os demais paises se vejam relegados ao papel de auxiliares inferiores -
se repetem amiúde, e dão nota algo embaraçosa para a nova relação.
Diante da notória agressividade da
nova - em muitos aspectos, velha, pois repete comportamento que data do tempo
dos tzares - Rússia, o comportamento do
novo Presidente americano injeta muita insegurança na Aliança do Tratado do
Atlântico Norte, eis que essa organização existe essencialmente por causa da
ameaça colocada a seu tempo pela URSS, e hoje, pelo seu avatar, um tanto
reduzido é verdade, que é a Federação Russa.
Sem embargo, a assertiva recente de Barack Obama para Vladimir Putin que a
Rússia não passa de potência continental,
vem sendo metodicamente desmentida por Putin, através de confrontação no
Mediterrâneo e nos mares do Norte, entre, notadamente, os submarinos das frotas
russa e americana.
Não se pode tampouco esquecer a
recente invasão da Criméia pela Rússia, que dela se apossou apesar de Recomendação da Assembléia Geral das Nações Unidas (postura de que
vergonhosamente a delegação brasileira sob as instruções de Dilma Rousseff se
absteve de associar-se). As recomendações
da Assembleia Geral são suasórias e não impeditivas, como seria o caso de
resolução do Conselho de Segurança, o que dada a presença da Rússia é na
atualidade impossível, pelo veto de Moscou.
Tristemente, na era petista, coube
a professores da Fundação Getúlio Vargas relembrar aos representantes da então
Presidenta de quão ruinoso é para o Brasil apoiar o direito de conquista, como
foi o que ocorreu, por um misto de ignorância da chefa, e de comportamento
timorato de seus representantes diplomáticos.
A desestabilização da Ucrânia -
que apesar do tamanho estaria incluída entre os países (súditos) do estrangeiro próximo[1]
- é ameaça ainda maior no momento atual. Se sob Obama os Estados Unidos não
apoiaram diretamente a Ucrânia (posto que haja diversas sanções em vigor que
proíbem viagens para a Criméia, a par de outras que visam aspectos
financeiros), a posição de Trump com relação a Putin torna eventual apoio americano
a outras sanções bastante dúbio, pelo menos enquanto D. Trump estiver na Casa
Branca.
A conclusão a ser tirada da
posição de Trump com relação à OTAN não
pode ser comparável com o exemplo dado pelos seus predecessores. Com Trump não
se fala mais do compromisso mútuo de defesa que estaria no coração da aliança.
Por isso, como o New York Times não
deixa de frisar, Trump falhou em transmitir aos membros da OTAN que os Estados
Unidos, sob sua direção, seguiriam o exemplo de seus predecessores em liderar
uma aliança forte e unida, que continuaria como base da segurança
ocidental.
Dada a óbvia ligação de
Trump com a Rússia - e as investigações do FBI e de outros órgãos americanos só
tendem a reforçar tal impressão (como a anunciada investigação de seu genro Jared deve agregar outros elementos
comprometedores) - acreditar que o
futuro possa augurar um quadro menos inquietante quanto ao nível de influência
da Federação Russa sobre o atual governo estadunidense é dar prova de panglossiano otimismo no
particular. As próximas investigações -
quem sabe elas não se restrinjam a personalidades já conhecidas - poderão ser
determinantes, não só quanto ao futuro do 45º presidente, assim como do atual
vice-presidente, Michael Richard Pence.
Como todo vice-Presidente, a perspectiva de assumir o mando existe e
nem sempre pelo capricho das Parcas. Pelo que se sabe, trata-se de republicano cujo brilho moderado terá induzido Trump a escolhê-lo como
companheiro de chapa.
( Fontes: The New York
Times, Karen Dawisha )
[1]
Estrangeiro próximo é um conceito
válido inclusive na legislação russa. A prof. Karen Dawisha, especialista em
Putin (V. Putin´s Kleptocracy, de que é autora) tem sido objeto de muitas
menções do blog sobre a sua abrangente visão de o que é a Rússia de Vladimir
Putin.
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