Pela ineficiência, incapacidade, e corrupção
o governo de Nicolás Maduro já tem o próprio lugar na história da Venezuela.
Indicado por Chávez para
sucedê-lo, a Administração de Maduro é
uma sucessão de erros e de oportunidades perdidas.
Que as principais cidades da
Venezuela se levantem em manifestações sucessivas de protesto é a decorrência
de gestão desastrosa, em que se unem a
própria incapacidade administrativa, o esfacelamento do regime bolivariano e de
economia dependente do petróleo.
Morto Chávez que preferira uma
política desastrosa em termos de poupança - usando as rendas do petróleo como
se fosse a rede de segurança não só da economia (na prática uma monocultura),
mas também o instrumento de afirmação na política regional, com subsídios para
Cuba e outros países que aderissem à versão chavista de uma segunda OEA, de
esquerda.
Descurado o órgão petroleiro
venezuelano, Caracas não se preparou para o longo inverno que a envolveu com o
despencar da cotação do petróleo. Para Caracas, e desde Hugo Chávez, a hierarquia chavista achou que com a
monocultura do petróleo podia garantir-lhe o futuro e o céu também.
Morto o caudilho, e acolhido o seu
desejo - que se provaria igualmente ruinoso - de que Maduro o sucedesse (houve
eleições, mas a contagem foi venezuelana) - ao inepto Nicolás coube gerir a
economia e o país.
A corrupção impera, e enquanto um
comércio claudicante ainda der os minguantes dólares, a situação se irá
enegrecendo de forma cavalar, com a falta geral de gêneros de primeira
necessidade - há muito as prateleiras do
comércio vazias ou a caminho de -, as
poucas empresas estrangeiras que lá estavam já se afastaram, e os dólares vão
minguando (o único ramo que parece florescer é o narco-tráfico, em que os
gerarcas chavistas se degladiam por uma parte nesse butim maldito).
Em vez da união nacional - que
político com algum bestunto trataria de reforçar - Maduro, com o apoio de Diosdado
Cabello, continua a mal gerir a coisa
pública, e a 'resolver' pela violência dos meganhas e dos chamados coletivos (bandidos armados, inspirados
talvez pelos antigos corsários) os protestos de população que não mais se sente
soberana no próprio país, dados os fossos existentes: de um lado, as chamadas
forças bolivarianas, que respaldam o governo à custa de privilégios, as
próprias forças armadas, cujo nervosismo cresce, com o decorrente custo
adicional - não há nada que o mau governante mais tema do que o pronunciamiento
- e por isso, Maduro ainda conseguiu enterrar o 'recall' que a Constituição prevê
(e a que o próprio Hugo Chávez se submeteu). Administrando o caos, com a moeda em queda
indescritível (a inflação foi em 2016 de 254,9%, atingirá 720,5% em 2017). Em
cifras oficiais, o desemprego será de 25,3% em 2017. O horror nas estatísticas
prossegue: mortalidade infantil subiu 30% em 2016, as mortes de gestantes
cresceram 65%, e a incidência de malária, 76%.
O Brasil e a Colômbia,
países de fronteira com a Venezuela, se vem obrigados a lidar com a emergência
do êxodo de refugiados para as povoações vizinhas, tangidas tanto pelo
desgoverno quanto pela consequente fuga diante de situação com espiral para o
pior. Há altos funcionários chavistas
que já criticam abertamente o Governo, como a Procuradora-Geral Luisa Ortega,
que condena a violência das forças governamentais contra os manifestantes, mas
a maior parte das autoridades é conivente com o governo incompetente e
corrupto. Nesse ponto, a palma vai para o Supremo Tribunal de Justiça, que após
ser superlotado com chavistas, se presta a todos os papéis que o Palácio lhe
determina. Suspendeu a três deputados da Assembléia e não por superstição, mas
por dessarte retirar-lhes o número necessário para emendar a Constituição (A
oposição MUD tem grande maioria na Assembleia, que resulta da compreensível
impopularidade desse inepto regime). Além disso o pomposamente denominado
Supremo Tribunal de Justiça é um pútrido espelho de o que resta do poder chavista, capaz de aceitar todas as
ordens que lhe são cometidas pelo Palácio, como na abstrusa tentativa de
encarregar-se da parte legislativa. Com o generalizado repúdio internacional à
tarefa de ocupar-se doravante da legislação, o dito STJ teve de recuar,
apesar de o haver tentado com todos os apaniguados com que Maduro superlotara o
triste monstrengo com "juristas''
chavistas saindo pelo ladrão.
Por sua vez, a desgraça
venezuelana do incapaz e corrupto governo Maduro lança a cada dia mais
disformes criaturas, engendradas pelo feiticeiro-presidente. A chamada
Constituinte Comunal é um desses abortos, pois será - se o projeto for a cabo -
formada por cerca de quinhentos constituintes (que é número ridículo, na
verdade não-manejável por qualquer assembleia que seja pra valer). Essa gente
será escolhida na flor do chavismo,
no nível de vereador, com critérios que são facilmente presumíveis. O seu
precípuo propósito é o de afastar a Assembleia Nacional, hoje dominada pela
Oposição, que é a consequência natural de qualquer eleição honesta a
realizar-se na hodierna Venezuela. Como uma Constituinte de tal tamanho e sem
nenhuma representatividade poderá arvorar-se em querer substituir a Assembléia
Nacional é um enigma que não vai ser resolvido por Maduro. Creio, ao invés, que
quer queira, quer não, surgirá a confrontação do poder eleito pelo Povo e,
portanto, legítimo, e outro, fruto de manipulação e de escolha no mais baixo
nível exequivel. Não duvido que a ideia tenha sido de Nicolás Maduro. Nenhum
dos demais gerarcas chavistas pode com ele competir em termos de
nescidade.
O leitor há de imaginar os
tétricos índices remanescentes da desgraça nacional causada por esse governo
incapaz e corrupto. Assim, as reservas
internacionais do país caíram de US$ 29,887 bilhões - já diminuídas no fim do
período de Hugo Chávez, - para US$ 10,992 bilhões na atualidade. A produção
de petróleo cru (monocultura nacional) caíu de 2.804 bilhões de barris
(2012) para 2,654 bilhões de barris (2016). Por fim, as exportações, em bilhões
de dólares, caíram de 93,6 bilhões
(2012) para 34,04 bilhões (2016). e por fim o tamanho da dívida externa em relação
à renda anual caíu de 75,65% (2012) para 243,52% (2016). Entende-se, de resto,
de forma mais aguda o peso da crise nacional, diante da queda do preço médio do
barril de petróleo: em 2012, US$103,46; em 2016, US$ 35,15 ! Neste quadro singelo, se vê a improvidência
de Chavez, que no tempo da fartura,agiu como se tal situação fosse perdurar, e
a herança de Maduro, que como um lemingue continuou a correr para o penhasco.
Resta por fim mencionar o
recurso crescente à violência e ao assassínio com o escopo de amedrontar a
oposição e de governar pelo terror. As Forças Armadas, parte das quais merece
atenção especial do governo Maduro, permanecem por enquanto silentes, posto que
haja sinais de desconforto (ainda que a situação dos milicos seja muito superior àquela dos pobres funcionários
e barnabés do Estado),mas por quanto tempo a tropa permanecerá nos quartéis?
No céu chavista de Maduro e
de seus apaniguados não é o único sinal que pode indicar a explosão que muitos
temem e com razão. Faz mais de dois meses que a esposa de Leopoldo López, preso
arbitrariamente em cadeia comum, não logra visitar o marido. Diosdado Cabello tentou mostrar foto de
Leopoldo López, mas a familia percebeu prontamente que se tratava de montagem fotográfica, cuja autenticidade é mais do que dúbia.
López fora detido irregularmente, porque o regime chavista teme a sua
popularidade, coragem e idoneidade. Depois de confuso episódio que teria
transcorrido em hospital, com tentativa de internamento de urgência, volta o
silêncio a estender-se sobre a questão.
A Venezuela já sofreu
demasiado pela incompetência e a corrupção, que em geral, como sinistra
dualidade, cavalgam pelas alamedas e avenidas da bela Caracas, hoje devastada
pela inépcia, crueldade e o geral desgoverno de Nicolás Maduro.
Não há chefe de estado que
possa estar mais sozinho do que o atual triste mandatário de um governo falido.
Seria de todo interesse da América do Sul, do Centro e do Norte, que se ponha
fim, de forma pacífica se possível, à desgraça que, por iniciativa de Hugo
Chávez Frias e de Nicolás Maduro, surgiu na bela terra venezuelana, pátria do
Libertador. Espero que essa gente que se crê segura nos palácios que pensam ter
herdado tenham o bom senso, o juízo e o
espírito esclarecido para tornar possível que esse longo e tardo permanecer nos
palácios do Governo acabe de forma digna e apropriada. Chega de sangue, tanto do Povo que luta pela
liberdade, quanto dos presos nas
enxovias dessa Regência chavista. Como
signo, ainda que tardio, de boa vontade
e da intenção de melhores dias para o Povo da Venezuela, sejam sem mais tardar abertos os portões do imenso
cárcere em que se transformou essa antes acolhedora terra, com a liberdade de Leopoldo López, como
testemunho de um novo tempo, em que a boa fé, os direitos humanos e a sua filha
dileta que é a Paz, voltem a ser guardados e respeitados.
Rio de Janeiro, em 14
de maio de 2017.
(
Fontes: O Globo, O Estado de S. Paulo; Folha de S. Paulo)
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