Nada tem a ver com os
democratas e o esbulho da candidata Hillary Clinton a inesperada demissão do
diretor do F.B.I. James B. Comey, tão tristemente conhecido pelo seu ambíguo papel
na última eleição, com a estranhíssima comunicação ao Congresso, às vésperas
dos comícios de novembro, que tanto afetaria a candidatura favorita de Hillary
Clinton, eis que coincidiu com o chamado período da votação antecipada.
Comey estava tratando de assuntos de serviço com funcionários do FBI quando o aparelho de tevê da sala informou que o Presidente Donald Trump acabara de exonerar o Diretor do Federal Bureau of Investigations...
Mitch McConnell,
o lider da maioria (republicana) no Senado Federal, diante da solicitação dos
democratas de nomear-se um procurador especial, como costuma ser a prática
em tais situações, quis encaminhar 'solução'
mais favorável ao Governo Trump, de o que seria a de um alto funcionário independente
para analisar as causas da súbita exoneração do diretor do FBI.
Enquanto o Presidente Trump gostaria de encaminhar a motivação da
demissão do diretor do FBI (que ainda disporia de sete anos, no seu mandato de
dez à frente do Federal Bureau of Investigations) como relacionada com o
prejuízo causado à candidata Hillary Clinton, ao re-levantar, durante a votação para presidente, o possível
envolvimento da democrata (depois provado insubsistente) na questão dos e-mails do servidor privado de computador.
Embora, aparentemente essa re-investigação faça algum sentido, a opinião
comum em Washington é que se trataria ao
invés de um caso de red herring (que
é metáfora linguística para o intencional desvio de assunto ). Não é por acaso, outrossim, que tal estranha
intervenção de Trump tenha muitas semelhanças com a tentativa de Richard Nixon de desviar a
investigação do arrombamento do comitê democrata, ao tentar culpabilizar o
funcionário encarregado de investigar o que realmente ocorrera em Watergate.
Agora, só para avivar o que está em jogo
- o perigo que uma investigação
séria sobre a conexão russa nas últimas eleições possa causar em termos de
estragos no Partido Republicano. Mais especialmente
no que tange às conhecidas ligações do Presidente Trump com o 'amigo' Vladimir
Putin e toda a conversa acerca da excessiva desenvoltura dos agentes russos quanto à criação de dificuldades de toda sorte à
candidatura democrata de Hillary Clinton. Só a suspeição de jogo duvidoso neste
assunto bastara para que o então Assessor para a Segurança Nacional, Michael
Flynn fosse sumariamente afastado do
governo Trump. A rapidez da providência indicaria de que há algo de muito podre
não só no Reino da Dinamarca, mas também na superpotência.
O GOP - que sabe como terminou o escândalo
famoso de Watergate - trata agora de cometer a republicanos confiáveis o trato dessa questão, dado o perigo de que a história se repita.
Entrementes, qual o papel que há de desempenhar Mr James B. Comey nessa espinhosa matéria é
difícil prever. Se a coragem e quiçá uma excessiva segurança quanto às
dimensões do papel que lhe caberia exercer
- o primeiro avatar, quanto a assegurar que a verdade e o interesse
nacional fossem preservados - o que motivara a sua indicação pelo Presidente
Barack Obama para o posto no FBI - será
ele acaso corroborado neste último episódio, por mais que a sua atuação no caso
dos e-mails de Hillary se haja
marcado por visão excessiva da respectiva relevância, visão essa que foi contra
tudo o Departamento de Justiça determinara em matéria de cautela durante o
período eleitoral propriamente dito?
De
qualquer forma, a súbita demissão do diretor do FBI pelo Presidente e a sua
substituição por republicanos escolhidos a dedo por Mr Trump levantam não poucos suspicácias. Essas suspeitas aumentam quando agora se sabe
que Mr Comey pediu audiência a um chefe imediato no Departamento de Justiça, a
quem solicitou aumento de dotação para habilitar o FBI a investigar a presença
russa na eleição presidencial... Ao falar de corda em casa de enforcado, o seu
chefe (indicação política de Trump) tratou de comunicar a questão para a Casa
Branca, provavelmente acionando o mecanismo que levaria à pronta exoneração de
Mr Comey, pela clara ameaça que passara a representar. Daí, a imediata
referência ao escândalo de Watergate, que determinara, como se sabe, ao cabo de
um relativamente longo processo político, o impeachment
de Richard M.Nixon.
( Fonte: The New York Times )
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