Papa Francisco,
cujo testemunho de coragem e abertura mereceu pífia cobertura da grande
imprensa, que chegou a preferir asneiras de figura do passado, já consignadas à
vala do varrido e olvidado, pediu ontem, na homilia do domingo, respeito aos
direitos humanos e o fim da violência na Venezuela, onde 28 pessoas morreram em
um mês.
Nesse
pronunciamento semanal, Papa Francisco criticou a "grave crise social,
política e econômica que está exaurindo a população."
Mais tarde, os governos de Argentina, Brasil,
Chile, Colômbia, Costa Rica, Peru, Paraguai e Uruguai, em comunicado, apoiaram a mensagem do Santo Padre:
"
Como disse o Sumo Pontífice, é imprescindível contar com 'condições muito
claras' para uma saída negociada para a crise".
A
Oposição venezuelana exige eleições, autonomia para a Legislatura, canal de
ajuda humanitária do exterior e liberdade para mais de cem ativistas detidos
pelo governo do presidente Nicolás Maduro.
Entrementes,
o patético, mas perigoso Maduro bateu continência ao éter e anunciou que
pretende convocar "constituinte
comunal" como 'resposta' aos
protestos da Oposição,que há um mês ocupa as principais ruas de Caracas e de
outras cidades do país.
Para contornar a verdade do sufrágio, a proposta não tem a intenção de adotar
votação direta para escolher os integrantes do grupo (Maduro e o chavismo
encontra problemas crescentes com questões que demandem maioria de votos dentro do Povo Venezuelano).
Para contornar, esse 'probleminha' selecioná-los entre as fileiras dos
Conselhos Comunais - órgãos locais de poder popular criados e
instrumentalizados pelo chavismo.
A
proposta e que o pretende instrumentalizar não engana à maioria da população. Ontem
(dia trinta de abril) o deputado opositor Júlio Borges, presidente da
Assembléia Nacional, manifestou preocupação
dos deputados com a ideia, afirmando que seria um golpe de Estado para enterrar
os poderes do Legislativo, conquistados
pela coalizão da Mesa da Unidade Democrática (MUD), na eleição parlamentar de
2015. Os deputados assumiram em janeiro de 2016 (já haviam sofrido um corte
ilegal pelo Tribunal Supremo chavista, cujo escopo era retirar-lhes a maioria regimental,
com que poderiam tomar medidas de âmbito constitucional).
Como é claro, a tal "constituinte comunal" não tem qualquer
previ-são na Constituição venezuelana. Nâo passa de torpe jogada do projeto de ditador
Nicolás Maduro. Funcionário do governo chavista
revelou a reporter do Estadão o
que pretende esse segredo de Polichinelo: "Ele (Maduro) vai fazer isso e
vai, primeiro, desviar as atenções das pressões das ruas. Depois, embaralhar as
cartas dentro do próprio chavismo, pulverizando as pressões internas."
É
óbvio ululante, que a criação de assembleia para alterar a Constituição a
partir dos Conselhos Comunais seria mais um passo de Maduro e do núcleo incondicional do PSUV
na direção da ab-rogração da Assembléia Nacional, órgão máximo do Legislativo. Em dezembro de 2015, ao perder a maioria na
casa em eleição direta, a
"resposta" do Governo foi criar o "Parlamento Comunal",
integrado apenas por membros escolhidos pelos conselhos, que atua como
"Legislativo paralelo"... É um órgão de ficção e, como se sabe, na
prática inexistente segundo a Lei Magna.
Não há unanimidade quanto às propostas de Maduro nem mesmo na coalizão
governista. O próprio deputado Pedro
Eusse, dirigente do PC, avalia que não é hora de pensar em Constituinte.
Segundo Eusse, apenas as eleições regionais, previstas para 2016, e adiadas sine die pelo Conselho Nacional
Eleitoral (dominado pelo chavismo) deveriam ocorrer no presente ano. A chamada
'revolución' de Maduro tem sérios problemas com eleições e por isso ele costuma
adiá-las...
No jargão do chavismo, tudo o que lhe faz oposição é de extrema direita. Na sua última alocução,
Maduro fez ameaças de prisão indefinida tanto a deputados da MUD, quanto a colunista
de El Nacional, que segundo Maduro 'em qualquer país do mundo estariam presos
com muitas sentenças de prisão perpétua, por estimularem a violência nas ruas'.
Como se verá em matéria à parte, a gente venezuelana tende a dar crédito
por experiência própria às boçais ameaças
do ditador Nicolás Maduro, em
matéria de prisões.( Vide, a seguir, matéria sobre o assunto em O Globo)
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
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