Sobre o Brexit já escrevi bastante, e
como indicado pela linha acima, seis
blogs com referência à herança maldita. Quando esse desenvolvimento
contristante repontou, alguns leitores terão visto como um tanto
sensacionalista a adjetivação do título. Infelizmente, como se vê pelas reações
de parte a parte, o que sucede entre as duas partes - a Comunidade Europeia de
um lado, com instruções mais pesadas para orientar a delegação europeia, e de
outro, o Reino Unido e sua Primeira Ministra, já passadas as ilusões de um final amistoso, aumentando os decibeis
de seu discurso e passando a acusações mais pesadas, como se Bruxelas quisesse
sabotar as próximas eleições na Inglaterra...
Depois de uma união de mais de
quarenta anos, rompida de repente, e por escassa diferença, no último verão,
seria ingênuo quem pensasse - como acalentou a elite inglesa - que tudo ficaria
por isso mesmo, no sentido de que não haveria recriminações de parte a parte, e,
sobretudo que não houvesse amargura no Continente, e se possível, quem sabe,
preservando algumas marcas de convivência de cerca de quarenta anos...
Pensaram que fosse ser diferente do
divórcio de casamento de quatro décadas, se possível o Continente mantendo uma
cooperação amistosa, por conta dos
tantos anos de união...
Mas a parte que aciona o mecanismo
infernal da separação pode querer manter algumas ilusões, o que pode significar
duas coisas ao mesmo tempo: foi bom, não
foi? Então porque não tentar sair numa boa, com o Reino Unido conservando,
a título das boas relações, esta e aquela vantagem, quem sabe até mantendo
posições adquiridas em razão do vínculo anterior...
Essas ilusões costumam durar pouco,
eis que, passado o trauma, cresce na parte ofendida a raiva pela situação
desfeita, e ainda por cima às pressas, em dia de verão inglês - que, como
sabemos todos, dura pouquíssimo.
Com o transcorrer dos meses, passado
o choque, vem a raiva da parte ofendida, que não entende bem porque a antiga
dicotomia britânica ressurge de novo, até mesmo agora em que o império já se
foi faz muito, e a ilha ainda ameaça mais apequenar-se, eis que a Escócia quer
ficar na Europa, agora como país-independente, e até a velha Irlanda se
consulta da possibilidade de que as duas religiões não mais constituam
empecilho para a reunião de uma só reencontrada nacionalidade, vivida na
concórdia de dois credos antes inimigos.
Não sei se Theresa May, que de ministra do Interior pulou para Primeira Ministra,
acertou bem o seu bote. Será que tudo sairá para a nova moradora de Downing
Street 10 tão certinho quanto planejara? Será que a crise no Labour continuará? Crescer à custa da
desgraça alheia nem sempre é bom programa... E já existem indicações de que o
eleitorado trabalhista quer ver-se livre da atual liderança, marcada por tantos
resultados ruins. Será que o Partido
Trabalhista atrapalhará os planos da Primeira
Ministra de montar imponente maioria à custa do Labour ?
( Fontes: Manchester
Guardian, O Globo; Suddenly,last summer )
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