sexta-feira, 5 de maio de 2017

O Brexit e sua herança maldita (VI)

                             

         Sobre o Brexit já escrevi bastante, e como indicado pela linha acima, seis blogs com referência à herança maldita. Quando esse desenvolvimento contristante repontou, alguns leitores terão visto como um tanto sensacionalista a adjetivação do título. Infelizmente, como se vê pelas reações de parte a parte, o que sucede entre as duas partes - a Comunidade Europeia de um lado, com instruções mais pesadas para orientar a delegação europeia, e de outro, o Reino Unido e sua Primeira Ministra, já passadas as ilusões  de um final amistoso, aumentando os decibeis de seu discurso e passando a acusações mais pesadas, como se Bruxelas quisesse sabotar as próximas eleições na Inglaterra...
         Depois de uma união de mais de quarenta anos, rompida de repente, e por escassa diferença, no último verão, seria ingênuo quem pensasse - como acalentou a elite inglesa - que tudo ficaria por isso mesmo, no sentido de que não haveria recriminações de parte a parte, e, sobretudo que não houvesse amargura no Continente, e se possível, quem sabe, preservando algumas marcas de convivência de cerca de quarenta anos...
         Pensaram que fosse ser diferente do divórcio de casamento de quatro décadas, se possível o Continente mantendo uma cooperação amistosa,  por conta dos tantos anos de união...
        Mas a parte que aciona o mecanismo infernal da separação pode querer manter algumas ilusões, o que pode significar duas coisas ao mesmo tempo: foi bom, não foi? Então porque não tentar sair numa boa, com o Reino Unido conservando, a título das boas relações, esta e aquela vantagem, quem sabe até mantendo posições adquiridas em razão do vínculo anterior...
          Essas ilusões costumam durar pouco, eis que, passado o trauma, cresce na parte ofendida a raiva pela situação desfeita, e ainda por cima às pressas, em dia de verão inglês - que, como sabemos todos, dura pouquíssimo.
           Com o transcorrer dos meses, passado o choque, vem a raiva da parte ofendida, que não entende bem porque a antiga dicotomia britânica ressurge de novo, até mesmo agora em que o império já se foi faz muito, e a ilha ainda ameaça mais apequenar-se, eis que a Escócia quer ficar na Europa, agora como país-independente, e até a velha Irlanda se consulta da possibilidade de que as duas religiões não mais constituam empecilho para a reunião de uma só reencontrada nacionalidade, vivida na concórdia de dois credos antes inimigos.
              Não sei se Theresa May, que de ministra do Interior pulou para Primeira Ministra, acertou bem o seu bote. Será que tudo sairá para a nova moradora de Downing Street 10 tão certinho quanto planejara? Será que a crise no Labour continuará? Crescer à custa da desgraça alheia nem sempre é bom programa... E já existem indicações de que o eleitorado trabalhista quer ver-se livre da atual liderança, marcada por tantos resultados ruins.  Será que o Partido Trabalhista atrapalhará  os planos da Primeira Ministra de montar imponente maioria à custa do Labour ?


( Fontes: Manchester Guardian, O Globo; Suddenly,last summer )

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