segunda-feira, 7 de maio de 2018

Putin e os otimistas de plantão


                

         Sob a pressão da Copa do Mundo, em que a mediana equipe russa, como anfitriã, goza dos favores, mas também das pressões da torcida, o presidente Vladimir V. Putin terá decerto preferido abrir os jogos sob uma perspectiva mais favorável, com o principal líder da oposição fóra do cárcere.
          Não são poucos os que não ignoram o quanto o Kremlin tem controle da vida parlamentar. Putin tem igualmente presente, que não lhe aproveitaria manter na prisão - máxime, ao ensejo da Copa - uma figura carismática e com apoio em largos extratos da população como  Alexei Navalni.
          A própria frase de Navalni, divulgada em rede social, lhe mostra o realismo: "aparentemente veio uma ordem para não me prender antes da posse".
          Ser líder da oposição na Federação Russa de gospodin Putin, mostra principalmente dois aspectos: a coragem física e política de Navalni, ao lançar-se contra o Senhor do Kremlin, assim como a própria habilidade em costurar uma aliança política, e manter-se à tona em um combate no qual o poder  não lhe dá trégua política e também física.
          Tampouco o Judiciário russo pode dar ilusões a quem tenha renome e coragem bastante para disputar o poder contra o presidente de todas as Rússias.
           Não é pequeno o número de líderes oposicionistas que ficaram pelo caminho. Igualmente, Vladimir Vladimirovich não restringe a própria ação a líderes oposicionistas. Há uma longa linha de casos infelizmente não resolvidos, que terminaram muito mal para quem, no passado, terá aparecido como se fora uma ameaça a ser levada a sério.
            A morte - ou a saída de cena, se se prefere uma imagem mais consentânea com os costumes do Ocidente - é para o chefe político muita vez um percalço, infelizmente nesses determinados casos. Não há limites para a sua atuação, salvo a desimportância do personagem. Já houve jornalista e não das menores que mereceu tal honra.
             Vladimir Putin, que o círculo de oligarcas de Boris Ieltsin pensara pudesse manejar, não demorou muito em livrar-se deles de forma política. De baixa estatura, mas de férrea disposição tem em Dmitriy Medvedev um segundo de confiança, a quem de resto confiaria a presidência por um período, em que Putin estava muito desgastado politicamente, sobretudo no plano externo.
              Não é de resto à toa que o agente secreto Putin, do KGB - que em Dresden passou um mau momento, dada a crise e o desfazimento da URSS, no final do mando de Mikhail Gorbachev - indicaria o fiel escudeiro Medvedev para assumir a presidência, a fim de dar-lhe a cobertura necessária para recolher-se como Primeiro Ministro, até passar a borrasca de suas primeiras ações, algo intempestivas.
                    Não se poderia apresentar o camarada Stalin, que ainda supera a Putin em tempo na direção máxima do Estado, como um molde de que o atual presidente seja uma cópia. Não é decerto desconhecido quão nervosos os seus subordinados compareciam às audiências marcadas pelo chefe supremo.  Dadas as características do antigo seminarista na Geórgia, não sabiam os altos funcionários quem os esperava: se o chefe durão e sádico, ou se aquele que se comprazia em liquidar aqueles de quem por paranoia desconfiava.
                     Putin é decerto diferente. Os seus métodos têm de adequar-se aos novos tempos, nem as audiências representam uma travessia de vida ou morte. Os tempos decerto mudaram.  Mas devagar com o andor. Não é aconselhável te-lo como inimigo, nem que ele possa considerar alguém não como adversário, mas sim como uma pedra no seu caminho.

( Fontes: Putin's Kleptocracy, de Karen Dawisha; Folha de S. Paulo; Carlos Drummond de Andrade)  

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