domingo, 6 de maio de 2018

O que acontecerá com Macron ?


                                   

         A vitória de Emmanuel Macron lhe deu confortável maioria no Parlamento, mas a sua implementação à risca das reformas que prometeu, ao ensejo da eleição, pode exacerbar a oposição a querer mudar na marra o que não é possível em termos parlamentares.
         Ora, a história francesa está aí para sinalizar prudência a Macron. Se alargar-se o fosso entre os que se opõem e aqueles que estão de acordo com as reformas por ele preconizadas, quem mantiver a iniciativa terá maiores probabilidades de vencer o embate.
          O retrato que circula do novo Presidente, apresentado em quadro de busto, como se fora um Bourbon, do século XVIII, deve relembrar ao Chefe de Estado que o domínio formal de Câmara e Senado será... formal mesmo, no sentido em que diante das chamadas conquistas sindicais ameaçadas haveria grande possibilidade de formação de situação contestatária. Ora, Monsieur le Président,  a França, em várias épocas, tem dado sobejas indicações de que tal estado de coisas continua possível, se crescer a consciência nas classes ameaçadas de que não têm outra escolha senão recorrer às famosas mobilizações gerais, em que l'Hexagone se paralisa, e se coloca a situação de domínio de fato.
          Se surgir um apoio popular suficientemente grande para criar condições ao surgimento da paralisação das instituições,  a situação tenderá a agravar-se ainda mais, com a transmissão em termos de contágio viral de postura de contestação do poder do jovem Presidente. Não se deve, em tais circunstâncias, atentar demasiado para a lógica.
          Se se confirmar que há um enfrentamento entre a Nação levantada, e de outra parte, as instituições que respaldam o Presidente Macron, não está escrito que esses órgãos refletirão as votações anteriores, assim como terão presente o respeito à ordem que é decorrência da última eleição, em que por uma série de circunstâncias, entre as quais o fator surpresa, houve um ras de marée, que condicionou a vitória do campo presidencial.
          Ora, como em sublevações passadas - e a França é um dos países em que o fenômeno revolucionário tende a revestir mais força, e a levar de roldão os agrupamentos que a tal estado de coisas se opõem - se a reação à reforma proposta por Macron tender a uma virtual conversão das forças contrárias em uma resistência galvanizada que impressionará o grupamento dos neutros, a progressão para a revolução passará de aritmética a geométrica.
               Em tais momentos, a revolução tende a tomar o lugar da ordem.
           Se Macron lograr convencer o campo adversário de que está disposto, dentro da Lei e da Constituição, a dialogar com as lideranças envolvidas,  enquanto mantém o controle da situação, pode haver uma saída.   

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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