quarta-feira, 23 de maio de 2018

A Situação da Odebrecht


                                   

         O que seria já uma dúvida a visitar os leitores de nossa imprensa se refere justamente ao tópico versado pelo artigo da Folha - ainda que enfurnado, é verdade, em página interior do jornal.
          Acompanhando a imprensa nacional e internacional se tem desde logo a noção de que a Odebrecht distribuiu em reais, dólares ou outra divisa pelos países da América Latina e também da África, e por conseguinte do risco financeiro em que incorreu.
           É justamente movido pelo receio de que a Odebrecht venha de alguma forma a faltar no vencimento de tais operações que os bancos brasileiros se estão movimentando. Na sua totalidade, os bancos nacionais têm cerca  de R$ 47 bilhões a receber da Odebrecht. Com vistas a dar-lhe condições de honrar a dívida, Itaú e Bradesco - que fazem parte desses credores - estão na fase final de negociação de novo empréstimo para a Odebrecht, que deve ser anunciado no correr desta semana.
            Sem caixa, com prejuízo da ordem de R$ 3 bilhões numa dúvida lançada sobre os auditores  de seu balanço, a empresa deixou de pagar R$ 500 milhões em juros para investidores que compraram títulos no exterior, há cerca de três semanas.  Além disso, em um ano, a empresa ainda tem outros R$ 3 bilhões em dívidas vencendo.
             Nesse contexto, o temor dos bancos credores é de que, caso a Odebrecht deixe de honrar o que deve, se desencadeie um processo  de vencimento antecipado de toda a dívida. Isso levará  os bancos a terem que fazer provisões para perdas que podem afetar diretamente seus lucros.
              Somente os bancos públicos têm cerca de R$ 30 bilhões a receber das em-presas da Odebrecht, valor que não contabiliza possíveis avais e fianças. Dentro dessa categoria, o BNDES é o maior credor, com R$ 13 bilhões, seguido do Banco do Brasil com R$ 10 bilhões e da Caixa Econômica Federal, com R$ 7,5 bilhões.
               Já entre os bancos privados, os maiores credores são Itaú e Bradesco, com uma exposição de R$ 4,5 milhões cada um. Depois vem Santander e Sumitomo, com cerca de R$ 1,5 bilhão cada, e depois Votorantim, com R$ 800 milhões. Do total que o grupo Odebrecht deve ao sistema bancário, a parcela que se reporta a Braskem soma cerca de R$ 17 bilhões.  No entanto, isso é o que menos preocupa as instituições financeiras, já que o braço petroquímico do grupo é considerado o ativo mais promissor.
                 A Braskem tem um potencial tão elevado dentro da atual realidade do grupo Odebrecht, que os bancos entraram numa disputa para fazer uma espécie de segunda hipoteca das ações da companhia.  Itaú e Bradesco se dispuseram a emprestar mais dinheiro ao grupo, desde que possam ter a garantia das ações e a condição de que em caso de calote serão os primeiros a receber o ativo, apesar de se tratar de uma segunda "hipoteca". A Odebrecht precisa de R$ 3,5 bilhões para honrar compromissos de curto prazo. Mas não vai conseguir essa quantia com Itaú e Bradesco.  Encontraram pela frente o Banco do Brasil.
                      Os executivos do BB não querem abrir mão da garantia que possuem com as ações da Braskem , obtidas na renegociação das dívidas da Odebrecht Agroindustrial, que hoje se chama Atvos.
                        Na época, 100% da Braskem foi dada em garantia. Desde então, as ações valorizaram e agora é possível, segundo fonte próxima à Odebrecht, ampliar as garantias por meio das ações da Braskem. Mas os executivos do BB resistem à ideia. Pesa entre eles o fato de  que o ex-presidente do banco, Aldemir Bendine, haja sido condenado pelo juiz Sergio Moro a onze anos de prisão por receber propinas da Odebrecht quando chefiava a Petrobrás, em 2015.
                        Apesar  de a prisão ocorrer quando Bendine estava na Petrobrás e não no BB, os executivos não querem abrir margem para serem questionados por não primarem na defesa do dinheiro do banco. Mesmo sob o argumento de que sem um novo empréstimo a Odebrecht pode caminhar para uma recuperação judicial.
                         Os grandes credores não querem que a negociação venha a cair no foro judicial, que tende a ser mais demorado. Além disso, para os bancos, quando uma empresa entra em recuperação precisam imediatamente provisionar metade da dívida a receber.  Para cada real de provisão feita é um real a menos no lucro.
                           O tamanho da dívida da empreiteira é um dos motivos que leva Itaú e Bradesco a negociarem um novo empréstimo. Além da dívida com os bancos, o grupo deve cerca de US$ 13 bilhões em títulos no exterior.  O advogado de um grupo de investidores estrangeiros que detém parte desses títulos da Odebrecht - os chamados bondholders - conta que alguns de seus clientes estão apreensivos com esse novo empréstimo.  Apesar de salvar a operação no curto prazo, podem eliminar ativos disponíveis em caso de insolvência da empresa daqui a cinco ou sete anos, quando vencem seus títulos.
                              A liquidez da empresa é importante para que seja  finalizada leniência e os negócios melhorem, mas essa é uma esperança há anos e ainda não está resolvida, segundo o advogado que falou sob condição de anonimato.
                                Neste aspecto, não é nada alentador o parecer dos auditores independentes da BDO sobre o balanço do grupo, divulgado a 27 de abril.  O prejuízo foi de 80% menor do que o de 2016, mas ainda é elevado. Os auditores dizem que há incertezas sobre a capacidade de continuidade da companhia.
                      "A companhia apresenta prejuízo de R$ 2,9 bilhões, situação que, aliada às necessidades de capital circulante de algumas de suas controladas diretas e indiretas, gera incertezas, quanto à capacidade de continuidade operacional".
                       Os bancos e a empresa não  quiseram comentar."
 Nota.  Assinale-se que o artigo transcrito acima é de autoria de Josette Goulart, e foi publicado pela Folha de S. Paulo, a 21 de maio de 2018, na página A20. Somente os dois primeiros parágrafos não são de Josette Goulart . Já o terceiro tem apenas pequenas modificações, para inserir-se no artigo.          

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