quarta-feira, 2 de maio de 2018

As perguntas de Mueller a Trump




         Vivemos em civilização - ou talvez seria melhor dizer, em uma fase de civilização - em que o vazamento para a imprensa seria o que os italianos chamariam de normale amminastrazione.  O confidencial e o secreto não são vistos pelo que devam ser, mas sim como eventuais formatos a que uma das partes pode dar o tratamento que melhor lhe aprouver, se adotar as necessárias precauções.
           Nada disso, obviamente, é reconhecido pelas partes, sobretudo aquela acusada, eis que semelha mais fácil e provável que o lado submetido à investigação possa recorrer a tais procedimentos.
           Na noite de segunda-feira o New York Times publicou, em primeira mão, dezenas de perguntas que o Procurador Robert Mueller III  enviara aos advogados do presidente. Tais quesitos  mostram  como a equipe do procurador especial pretende aprofundar algumas informações sobre as relações pessoais do presidente.
           Em tal sentido, o escopo é esclarecer se houve obstrução de Justiça - um crime grave na legislação estadunidense - por parte de Donald Trump na investigação sobre conluio com os russos.
           De saída, a publicidade dos questionamentos serve à tática de "vítima" do Presidente: " É difícil obstruir a Justiça por um crime que nunca foi cometido! Caça às bruxas!", tuitou Trump, acrescentando que nenhuma das questões contém o termo "conluio".
           Não é à toa que Trump aprecia muito a serventia do twitter. Na sua simplicidade e suposta concisão, ele serve para manejo ultraprudente das questões, evitando o supérfluo, onde pode morar o perigo.  
            As questões de Mueller podem ser divididas em vários tópicos. Alguns se referem à "equipe" de governo da atual gestão: (a) Michael Flynn, que por imenso descuido - para dizer o mínimo - fora nomeado conselheiro de Segurança Nacional, sem ter, como logo se comprovou, condições éticas mínimas para o cargo (além de haver de saída mentido para o Vice-presidente acerca de questão com a Rússia);(b) sobre a demissão do então diretor do FBI, James Comey; e (c) sobre Jeff Sessions, secretário de Justiça, que alegou conflito de interesses e se eximiu de participar da investigação sobre a Rússia.
            Há outras perguntas, que concernem fatos relacionados  com um potencial complô entre a equipe da campanha Trump e o Kremlin. "Quando o senhor teve conhecimento da reunião na Trump Tower? - é a pergunta do Procurador Mueller, sobre a reunião ocorrida em junho de 2016 entre integrantes da campanha do republicano e uma advogada russa.  
             Segundo o citado ex-diretor do FBI James Comey, Trump lhe pedira que abandonasse a investigação sobre seu ex-conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn. Este último acabaria por ser forçado a deixar o cargo.
              Consoante um viés de interpretação dos quesitos colocados pelo Fiscal, tais perguntas não indicariam, porém, que Trump seja considerado suspeito de algum crime na investigação a cargo de Mueller. De acordo com a banca de advogados do Presidente,  há vários meses Mueller pensa em interrogar Trump no contexto das investigações acerca da ingerência russa na eleição americana de 2016.
              Por outro lado, há cerca de duas semanas, o Presidente contratou outro advogado para o caso, o ex-prefeito de New York Rudy Giuliani. Para tanto, o peso pesado Giuliani dá a seguinte explicação ao Washington Post: "Faço isso porque espero poder negociar um acordo que seja bom para o país e porque tenho muito respeito pelo Presidente e por Robert Mueller".
              Mesuras à parte, Giuliani, alem de ser um bom slugger (metaforicamente, os seus murros são fortes), poderá agregar no apoio de Trump um grupo republicano importante.

( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

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