domingo, 3 de dezembro de 2017

O Preconceito sexual derrotou Hillary ?

                   
       O artigo de hoje no  New York Times, de Jill Filipovic, 'Os homens que fizeram Clinton perder a eleição' traz um novo e importante elemento para que se entenda a química da última eleição presidencial americana.

       Para mim, no entanto, embora respeite essa visão, a participação de James B. Comey, enquanto chefe do FBI, sobreleva - mas não substitui - ao argumento de Filipovic.
       A estranha insistência do diretor do FBI, desde a observação desairosa quanto à suposta desordem dos e-mails da Secretária de Estado - um comentário tão desnecessário, quão ofensivo, eis que se não acrescentava  absolutamente nada à avaliação substantiva que era requisitada do FBI - já pressagiava o que viria depois, com a criminosa comunicação ao Congresso de que algo de novo poderia surgir da inspeção no computador do ex-esposo de Huma Abedin.  Esse senhor Jim Comey mandou em 28 de outubro comunicação a oito comitês do Congresso de que o exame do referido computador poderia ser pertinente para o caso dos e-mails de Hillary. Acontecia então a votação antecipada, e ela corria favorável a Hillary.  O resultado desta comunicação seria imediato em mudar a tendência dos votos, naquele momento pró-vitória da democrata. Mais tarde, já em novembro,  o Diretor do FBI  mandaria dizer ao Congresso que nada fora encontrado, mas essa comunicação já caía no vazio, pois a vitória de Trump estava assegurada.

        Qual foi a principal causa que motivou o diretor James Comey. Antifeminismo - dentro da tese  de Jill Filipovic - ou a preferência pelo próprio partido?  Dada a agressividade de Comey, demonstrada mais de uma vez, talvez as duas.  De qualquer forma, recebera de bandeja a dádiva de ser escolhido pelo democrata Barack Obama para diretor do FBI.  Será que Obama, que se quedara tão olimpicamente sem reagir, apesar das atrevidas tentativas russas de influenciar a eleição  em favor  de Donald Trump, não terá tido nenhuma dúvida quanto aos efeitos da própria apatia?

         Creio relevante e oportuno o contributo de Jill Filipovic.  Como sublinha em seu artigo hodierno muitos dos jornalistas  que são acusados de acosso sexual, estavam na primeira linha da cobertura da campanha entre Hillary e Trump.  Matt Lauer, afastado hoje do emprego pelo acosso de mulheres, entrevistara os dois candidatos.  A Hillary ele interromperia com perguntas frias, agressivas e condescendentes, sempre focadas nos famigerados e-mails, enquanto dispensou a Trump tratamento cordial e fáceis perguntas.  Charlie Rose, também afastado por acosso sexual,  após a eleição imitou  Mr Lauer no seu tratamento  à Sra. Clinton, falando com ela de cima para baixo, e a descrevendo como pouco confiável.

             Aí se entra na frase ofensiva e difamante, cunhada por Donald Trump: a crooked Hillary[1].  No entendimento de Mrs Filipovic,  essa parcial e desonesta caracterização de Hillary Clinton, terá afetado a eleição, sendo de resto preconceituosa: Hillary como cacarejante feiticeira, como mulher em busca do poder, em suma como alguém que não merece confiança.

( Fonte: The New York Times )   


[1] Crooked Hillary é de difícil tradução. Creio já haver sugerido Hillary 171,  ou de forma mais chã, desonesta Hillary.  Embora, como é óbvio, não concorde com nenhuma das duas no que concerne à atribuição a Hillary Clinton, se quisermos tentar verter o mau-caratismo de Trump,  Hillary 171 reflete melhor a peçonha da expressão verbal.

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