sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

De Volta

                             

         No fim de ano, existe movimento familiar, que em geral assemelha  um retorno às origens. Ele não se dita pelas estações, como a transumância, mas não é de crer-se que se deva forçar a diferença.
         Tais migrações periódicas se associam a entranhados costumes, e  têm por estrela guia o regresso - ainda que apenas simbólico - ao meio familiar que, como o caranguejo ao rochedo, não se afastou do núcleo inicial.  Aqui, o prefixo germânico Ur que designa a origem deve ser levado, na medida em que as induções da mídia o permitam, a sério?
         Ao deparar as multidões nos aeroportos, atravessando esses brasis, me vejo forçado, ainda que o peso dos reencontros familiares não seja de desdenhar, a perguntar-me  se a mística do Natal seria a única força a lotar as burras das companhias aéreas? Esse mercadejar natalino - tão óbvio quando obriga os viajores, decerto contra as disposições das autoridades aéreas, a roteiros que ao invés de encurtar, espicham as viagens - parece um inútil obstáculo, ditado quem sabe pela ambição empresarial que deseja empanzinar-se com os familiares deveres que as situações criam?
           Já fraca ressoa a gafe célebre do 'relaxa e goza',  dita por uma ministra em outra situação, ainda mais contrária, que terá, quem sabe?,  lhe afastado do então círculo do poder petista.

           Mas talvez as duas avaliações andem de mãos dadas, pois o que se vê nesse momento de azáfama nos aeroportos, é algum desconforto e angústia dos muitos alguéns que, como o menino partilhado  por um casal separado, enfrenta o terror passageiro  das turbinas nas pistas, elevando-se empós insana corrida sabe-se lá para onde.   


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