domingo, 17 de dezembro de 2017

O desastre Rex Tillerson

                               

        Um executivo do mundo das grandes empresas do petróleo,  pelo que indicam as suas atitudes com relação à diplomacia e em especial aos diplomatas, Rex Tillerson traz para o Departamento de Estado tanto a delicadeza, quanto a sensibilidade de seu patrão, Donald Trump...
         A ironia chega a ser pesada nos traços, mas veraz na sua aplicação prática e, em especial, no resultado desastroso que a sua direção está trazendo para o mundo da diplomacia, e em particular para esse instrumento de grande relevância para a Superpotência, que é o State Department (Departamento de Estado).
         Esta escolha de Trump frisa outrossim a radical diferença da presença de sua adversária nas Relações Exteriores por longo tempo e grande êxito, com atuação marcante e comprovada liderança no mundo da política externa.
          Tillerson, ao invés do êxito de Hillary Clinton, tem sido um desastre em Foggy Bottom, que é uma das designações do State Department.
            Façamos um pequeno resumo de o que este senhor tem feito para as relações exteriores da Superpotência. Ele já foi desautorizado em público pelo Presidente,  é criticado por parlamentares republicanos e democratas,  sendo encarado pelo corpo diplomático americano como um outsider (estranho) ao mundo da diplomacia, a que se increpa haver provocado, por falta de sensibilidade e de ignorância diplomática  danos irresparáveis  à capacidade dos Estados Unidos de exercerem a própria liderança no mundo.
             Em novembro, diplomata com uma promissora carreira renunciou, sob o argumento de que a Administração abandonara a promoção da democracia e direitos humanos, cedendo lugar ao Pentágono (Departamento da Defesa) na elaboração da política externa. Trata-se de Elizabeth Shackelford, que ingressara no Departamento em 2010, e servia em Nairobi. Dali, a sua atuação se estendia à Somália, hoje um país sem governo e onde atuam diversos movimentos revolucionários, como a al-Qaida, que atacam países vizinhos como o Quênia, além de fomentarem a pirataria (que em geral existe onde não há governo forte estabelecido).
                  A renunciante Shackelford em carta publicada pela revista Foreign Policy, criticou o corte de pessoal promovido por Rex Tillerson e o vê como desrespeito do governo Trump à diplomacia. Para ela, "o Departamento de Estado vai resistir e superar esse período de marginalização, mas as consequências afetarão nossa liderança global e nosso status no exterior por muitos anos".
                   Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, disse que há "certo vazio" no Departamento de Estado e falta de consistência na política externa. "O governo invoca direitos humanos e democracia nos casos de Cuba e da Venezuela, mas não para o restante da região." (*)  Na sua avaliação, Tillerson perdeu a credibilidade e se transformou em alvo de parlamentares de ambos os partidos, insatisfeitos com a "reestruturação" do Departamento de Estado promovida pelo novo Secretário.
                      Por sua vez, em carta enviada ao Secretário de Estado no mês passado, os Senadores John McCain (republicano) e Jeanne Shaheen (democrata) ressaltaram que o Congresso ainda não foi consultado sobre o plano de Tillerson, um ex-CEO da Exxon Mobil. McCain é um desafeto de Trump.  Este último lhe dirigira uma ofensa grosseira, pelo fato de ter sido prisioneiro do viet-cong (resta notar que Trump escapou de todo tipo de serviço militar). Os dois senadores na sua correspondência dizem: "O poder diplomático dos EUA está sendo enfraquecido internamente, enquanto crises globais complexas crescem externamente".
                       Há polêmica quanto aos efeitos da redução generalizada de funcionários.  Para o Departamento de Estado o objetivo de seu chefe é tornar o órgão "mais eficiente" e "mais efetivo". Embora a redução nos números totais - hoje em 74.880 e em 2016 75.231 - não apresente grandes diferenças, sem embargo as estatísticas confirmam a redução em posições de comando já apontada pela Associação do Serviço Exterior Americano.

(*)Hakim talvez seja emérito já por muitos anos. Comparar Cuba e Venezuela ao restante da América Latina, dá  idéia das defasadas coordenadas que utiliza.


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )

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