quarta-feira, 20 de julho de 2016

Seria Inveja ?

                                     

       De uns tempos para cá, encontro em jornal paulista, ou em enquete nacional - feita pelo Datafolha, ótimo serviço estatístico (paulista) de aferição das reações de nosso povo, constante que não pode deixar de perturbar-me.
        Que se vá encontrar artigo em The New York Times em que se denigra a preparação das Olimpíadas no Rio de Janeiro tampouco contraria a assertiva acima. E por que digo isto?  Pela simples razão de que a matéria -  extremamente negativa no que concerne à participação do Rio de Janeiro, de suas autoridades, trabalhadores e povo em geral - se foi expressa e distribuída pelo jornalão de New York (dizem até que é o maior do mundo), esse detalhe entra aí como Pilatos no Credo, eis que quem redigiu o tal artigo é jornalista brasileira, paulista, que é correspondente do dito Times, e que presumivelmente, por encomenda sua, escreveu artigo assaz crítico e mesmo negativo em diversos pontos a respeito do Rio Olímpico.
           Tampouco semelha difícil abrir a Folha para que se venha a colher - sem decerto carecer de muito procurar - pensamentos e opiniões bastante negativos sobre aspectos vários do evento olímpico no Rio de Janeiro.
           Na segunda página da Folha, nas pequenas notas editoriais assinadas, Bernardo Mello Franco nos fala do 'Desânimo Olímpico'. São ressaltadas com certo gusto opiniões extremamente negatívas sobre a Olimpíada no Rio: "Em junho de 2013, um quarto da população era contra a realização da Olimpíada. Agora o percentual de insatisfeitos saltou para 50%.  Metade dos entrevistados diz não ter nenhum interesse  pelas competições, e 63% acreditam que o megaevento vai trazer mais prejuízos do que benefícios para o Brasil."
             Mas o jornalão, no seu embalo, já não se cinge a pontos de vista  individuais, e ora acredita oportuno trazer a questão para o âmbito do Editorial, que, no espaço nobre da segunda página, é o veículo apropriado para trazer ao leitor o parecer do diário sobre os problemas do país, do estado e da cidade de São Paulo. Não quero com isso desmerecer do esforço desse grande órgão cotidiano, mas não sería preferível para opiniões proferidas em tal nível que se buscasse dar enfoque menos desequilibrado - o italiano diria sbilanciato - para que não se perca de vista o objetivo maior, que é o da realização, em ambiente festivo e seguro, de um grande espetáculo sob o ponto de vista humano? Sabemos de onde vem as Olimpíadas, e o que elas significam para o Povo helênico.Sua  relevância, e quanto os Jogos são mensagem de Paz naquele microcosmo da Terra e a sacralidade da sua disputa, a ponto de que viesse a servir como  referência, até mesmo para grandes eventos fora dos jogos. Sua singeleza -  reflexo dos limites, mas também da magnitude, desses eventos, em que a cidade-estado antiga se desvela tanto na própria ínsita simplicidade, quanto na respectiva grandeza, eis que no âmbito de tais Jogos sagrados ,no austero espaço de Helas, abre os braços para os grandes, como Esparta, Atenas, Tebas, senão - e como poderia deixar de sê-lo, no espírito olímpico de paz - para os poderes menores do mundo grego. Que maior honra a coroa de louros, por memorável façanha, há de conferir ao atleta, que representa  pequena cidade?
       Daí o empenho, muita vez com magnas exigências para gente de poucos meios, de eternizar o feito logrado sobre campeões de grandes potestades, através do cinzel,  a memória do atleta na simplicidade do número, mas grandeza no âmbito da Helas, as pequenas cidades se sentiam representadas por cinzeladas placas evocativas da façanha de conterrâneo seu, mega alegria da conquista memorável seja nas corridas, nas lutas e em outros poucos certames que marcam vidas antes ignotas,  a que à coroa de louros se junta um bem mais alto, que é a eternidade do mármore no contexto de um feito memorável.  
         Mas tornemos ao que escreve este jornal.  Dentre os aspectos negativos no ítem segurança, são relacionados: "a única revista do público para a entrada nas arenas ficou a cargo de uma empresa sem experiência no ramo. Além disso, a 16 dias do início, a seleção de 5000 funcionários  ainda está em curso."
               Mas não fica só nisso o  Editorial da Folha: "(...) não será surpresa se o início das competições vier a contribuir para desanuviar  o mau humor geral. Afinal, já se espera tão pouco do evento; bastará,talvez, que transcorra em paz."
               A propósito de  Herr Professor Dr. Sigmund Freud, que  anda esquecido e até mal-falado: lendo ele esses doutos comentários quem sabe não entreveria, em tanta mordacidade e avaliações tão menosprezantes (já se espera tão pouco do evento), quem sabe sentimentos menos nobres, às vezes encobertos por um viés negativo, que é assumido por quem o expressa como se fora algo positivo, quiçá demonstração de nobreza d'alma, já que os trajes da misericórdia podem servir de inconsciente meio de, sob aspecto benévolo, espargir maldade que não consegue ou reprimir ou até mesmo dar-se conta de suas implicações...
                   Não creio que tantos órgãos de São Paulo, jornalistas e a gente paulistana em geral, se dariam conta de suas avaliações, que tão pautadas pelo negativo, podem transmitir a impressão de que o evento conquistado pelo Rio de Janeiro incomoda. Como todo acontecimento, ele está sujeito à opinião dos espectadores.  Já me expressei no que tange às promessas pelas autoridades partícipes - no caso, Sérgio Cabral e, direta ou indiretamente, por Eduardo Paes - que são lamentáveis as oportunidades perdidas na despoluição da baía de Guanabara, e também na da Lagoa Rodrigo de Freitas.
                      A maneira cínica e até mesmo insolente diz muito mal da autoridade brasileira, tanto pelas promessas com escopo determinado - vale dizer a obtenção do prêmio em jogo - quanto pelo modo désabusé, quase agressivo em que se reconhecia o não-cumprimento da promessa, que cinicamente apresentada, valera para arrebatar o prêmio (a realização dos Jogos).
                        Em agindo assim, o Brasil e as autoridades que então o representavam, mostraram falta de seriedade e até de inteligência, porque a limpeza da baía ganhava um ulterior motivo de peso  (como se não bastasse os ares mefíticos e tóxicos que nela prevalecem por culpa exclusiva da ignorância e do desleixo das autoridades municipais que julgam ser mais simples emporcalhar a maravilhosa Baía, do que despoluí-la). Vejam o proveito que os ingleses tiraram da despoluição do Tâmisa, antes corrente poluída e espalhadora de ares mefíticos e líquidos tóxicos.
                          Porque o falecido Edward Said, crítico de arte e cultura, fez pouco do Brasil, que comparou à Nigéria ?  
                          Se para mim tais realidades são inegáveis, surpreende-me que sejam mui pouco citadas, no contexto do perigo para os navegadores na grande baía (que pela sua beleza merece melhor destino, e sobretudo melhores governantes), e até mesmo, como se aventou, para os riscos aos nadadores na enseada de Copacabana, por força da poluição da água, e do contágio pelas aguas malas da baía de Guanabara.
                           Ao invés de depreciar antes do evento a realização (tida esta palavra em toda a respectiva acepção semântica) das Olimpíadas, creio  muito mais grave menoscabar o esforço não-feito para a despoluição da Baía de Guanabara, e outro menor, de comparativa extrema facilidade, que seria a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, palco de disputa do remo, que poderia ser livrada dos esgotos clandestinos (que aí existem e muitos), além de estabelecer-se  ligação mais robusta com  o mar-oceano, o que contribuirá para evitar os peixes mortos pela sufocação das águas poluídas e também pela sua falta de oxigenação, que aí está o mar-oceano pronto a colaborar, mediante a honesta abertura do respectivo canal.  
                           Sem falar da prática retrógrada dos chamados emissários submarinos, essa tecnologia dos anos cinquenta, que se gaba de mandar para o mar próximo - por exemplo, as Cagarras - as águas negras dos esgotos da muy leal e heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro...
                           Em muitos aspectos os administradores do Rio de Janeiro, Cidade dita Maravilhosa, parecem esquecidos do avanço da ciência moderna e do trato das águas.  Se dessem a ela o respeito que merece, estaríamos livres de grandes vexames e não transformaríamos as lagoas do Rio - e as da Barra - em paludes, lodaçais, brejos de almas e que-tais...


( Fontes: Folha de S. Paulo, O Globo, Sigmund Freud, Edward Said )

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