sábado, 30 de julho de 2016

Hillary, a candidata democrata

                              

      
      Terminada a Convenção de Filadelfia, que começara um tanto mal, sob a tentativa de Putin de jogá-la em águas turvas, com a incriminação das instâncias do Partido Democrata, como suspeitas de favorecimento de Hillary Clinton em detrimento de Bernie Sanders, a reação posterior, veio a pôr a questão em  prisma menos deformado.
      O próprio Senador Sanders discursou para a Convenção e apoiou, sem cavilações, a candidata Hillary. Se o grupo que apóia acolher a sua postura, engrossará a votação da senhora Clinton um número ponderável de jovens. Essa modificação está na ordem das coisas, eis que semelha difícil supor que passem para o candidato do GOP, que defende o oposto de o que desejam os partidários do grande rival de Hillary nas primárias.
      Em seu discurso, Hillary enfatizou que o próximo pleito será uma tomada de contas com a realidade.
      Nunca um candidato do GOP se aproximou de postura tão fascistóide quanto a de Trump.
      Além disso, a sua superficialidade desperta o temor de que sejam induzidos a graves erros de avaliação. Pensar que alguém como Vladimir V. Putin possa ser amigo dos Estados Unidos é não só um atestado de cavalar ignorância quanto ao perfil e ideologia do  ex-funcionário do KGB, mas também uma simploriedade no que tange a alguém que não se conforma com a capitis deminutio da atual Federação Russa, no que concerne aos títulos anteriores da defunta URSS, vitimada pela singular implosão da revolução provocada involuntariamente por seu último líder Mikhail Gorbachev.
        A postura de Donald Trump - que aparentemente desdenha a informação dos especialistas - leva a perigosas simplificações, que podem ser a antítese da visão ponderada da realidade.
       Assim, as suas receitas: eu possa dar um jeito nisso (I can fix it)  carregam uma postura que é antônima do estadista que não pensa dispensar, no estudo das questões, a visão dos especialistas.
        O anti-intelectualismo e a tendência de arrogar-se o controle (e as decisões) dos diversos temas são dois braços que se unem, e não necessariamente conduzem a uma visão equilibrada da realidade.
        Um candidato tão fraco em termos de concepção e de atitude (no que tange especialmente à tendência da simplificação excessiva das questões) não é um bom indício para a democracia americana.
        Contudo, o maior perigo em uma democracia está em adotar um juízo preconceituoso no  que tange ao adversário nas urnas. Pensar que alguém não apresenta maior perigo pela sua aparente simploriedade, e pela suposta falta de sofisticação política, seria incorrer em grave erro de subestimação do adversário.
        Não se pode esquecer que Donald Trump - o suposto candidato do verão - triturou nas primárias os seus adversários no GOP (Jeb Bush, Marco Rubio, Joe Kasich, e o redivivo Joe MacCarthy, representado  através do senador pelo Texas Ted Cruz).
          A sua atuação na próxima eleição vai se afigurando como verdadeira incógnita. Como todo demagogo, ele está demasiado próximo do homem  comum, e por isso o que mais pode ajudá-lo será a respectiva subestimação, assim como uma crença perigosa de que o eleitor vá necessariamente identificar-se com a mais habilitada. Não se vá esquecer que Hillary é demasiado conhecida tanto pela imprensa, quanto pelo Povo, e isso pode ser bom ou mau, atendidas as circunstâncias.
            De modo algum a candidata democrata pode permitir-se subestimar o adversário, e tal subestimação, como não se desconhece, pode se refletir em muitos aspectos. Nesse contexto, o homem da rua, o homem comum, e a própria mulher que desconfia da esperta Hillary podem ser trunfos na mão de um candidato populista e simplista, que está pronto para ser objeto da auto-identificação do eleitor.
            Por isso toda cautela - e caldo de galinha - é pouco para enfrentar um adversário do imprevisível porte do demagogo Donald Trump.

( Fonte colateral:  The New York Times )
     



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