quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Johnson e o Brexit


                             
     As sucessivas, até frenéticas ameaças do novel Primeiro Ministro Boris Johnson, de que o Reino Unido vá sair da União Europeia  em 31 de outubro p.f. , sem um acordo, derrubaram a Libra pelo quarto dia, com uma queda de  quase 3%. Chega assim a moeda inglesa ao seu menor valor em dois anos. Com o enfraquecimento da Libra aumentam os temores de uma crise econômico-financeira após o Brexit.
         Na terça-feira, Johnson voltou a afirmar que existe a real possibilidade de o país deixar a U.E.  sem firmar um acordo.  Em conversa telefônica com o chefe do governo da Irlanda, Leo Varadkar, Johnson não deixou qualquer dúvida sobre seu ponto de vista de que o Reino Unido vai deixar  a União Europeia em 31 de outubro , "independentemente de um acordo ter sido firmado ou não".
            Os jornais britânicos colheram a informação que a conversa com Varadkar foi ríspida. Mas Johnson afirmou a seu colega irlandês que seu governo "nunca restabelecerá controles físicos na fronteira com a Irlanda após o Brexit".
              A saída do Reino Unido da UE sem um acordo de separação implicaria na reintrodução de uma "fronteira física", entre a Irlanda que faz parte da União Europeia, e a britânica Irlanda do Norte. Nesse sentido, a construção de um posto de fronteira seria contrário a um dos pontos-chave do acordo de paz da Sexta-feira Santa, que pôs fim, em 1998 ao histórico conflito  entre católicos, republicanos e nacionalistas, e os unionistas protestantes.
                Ontem, o maior partido nacionalista da Irlanda do Norte, o Sinn Fein, pediu ao governo da Irlanda que "se prepare para um processo de unificação da região britânica com a Irlanda", membro da UE, dizendo  que o Brexit de Boris Johnson é uma ameaça". Nesse sentido, a líder do Sinn Fein, Mary Lou McDonald, disse a seus partidários em Belfast: "Johnson não é meu primeiro-ministro".
                   Na semana passada, Johnson havia afirmado que pretendia  modificar os termos do acordo  negociado pela ex-primeiro ministro com Bruxelas. Líderes da UE já disseram  não estar dispostos a renegociar o acordo. Nesse contexto, Johnson declarou que não pretendia conversar  com líderes da UE enquanto eles não aceitarem abandonar o mecanismo chamado de "backstop", uma "rede de segurança", que consiste em manter uma "união aduaneira" entre a UE e a Irlanda.
                     Nesse sentido, antes de deixar a Escócia , Johnson disse: "Todos sabem  onde estamos: não podemos aceitar o backstop, o atual acordo foi rejeitado três vezes no Parlamento e está morto. Mas há ampla possibilidade para fazer  um novo acordo e melhor". "Não estamos apontando para um Brexit sem acordo. O que queremos é conseguir  um acordo."
                        A crise econômico-financeira seria consequência da péssima reação do mercado às novas declarações do novel premier britânico. Nesse contexto, segundo analistas, o risco de um Brexit sem acordo é cada vez mais real, e a consequente possibilidade de um colapso econômico também.
                           Neil Wilson, analista-chefe de mercado da Markets.com, disse ao Financial Times que a libra estava enfrentando "pressão implacável de venda". Para ele, "as razões por trás da queda são conhecidas, a perspectiva de uma saída não negociada da UE, e o novo governo tem deixado essa possibilidade cada vez mais perto de se tornar uma realidade."
                              Economistas alertaram que o declínio no valor da libra poderia elevar o custo de vida  dos consumidores britânicos. Quando a libra cai, a inflação começa a subir à medida que os bens importados se tornam mais caros. Quando a libra esterlina caiu logo após  o plebiscito da UE em 2016, a inflação subiu para os níveis mais altos em cinco anos, pondo pressão sobre os orçamentos domésticos e prejudicando o comércio, uma vez que  os gastos de varejo desaceleraram.
                               Victoria Clarke, economista do City Investec, disse ao Guardian: "Se olharmos  para a queda acentuada da Libra após o plebiscito sobre o Brexit, houve algumas consequências bastante consideráveis para a inflação. Foi material e apertou significativamente o caixa das famílias. Se a libra ficar nesses níveis por alguns meses, começaremos  a ver uma inflação crescente. Se houver um Brexit sem acordo, isso é uma quase certeza."
                                  O Banco da Inglaterra tem uma meta de inflação de 2% estabeleci-da pelo governo e, em circunstâncias normais, aumentaria as taxas de juros para manter a inflação sobre controle. Mas diante de uma desaceleração econômica global e de nenhum risco do Brexit em casa, o banco tem espaço limitado para eventuais manobras.   

( Fonte: O Estado de S. Paulo )                           

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