terça-feira, 20 de agosto de 2019

Itália: Esquerda quer voltar ao Poder


                        
      O Partido Democrático da Itália (PD), hoje na oposição, manteve ontem contatos com o Movimento 5 Estrelas, que está por ora no poder, e valendo-se da crise provocada  por Matteo Salvini, da Liga, busca formar uma coalizão de governo.
        Como se sabe o PD é integrado por aliança de vários partidos de centro- esquerda, que foi montada em 2007.
         O Movimento 5 Estrelas, era aliado  da Liga , partido de extrema direita cujo chefe Matteo Salvini provocou a atual crise, com o escopo de chefiar o novo governo. Para tanto, Salvini conta apresentar moção de desconfiança, que pode derrubar o atual Primeiro Ministro, Giuseppe Conte, e, em consequência,  forçar eleições antecipadas.
          Conte deve discursar hoje no Senado a respeito da crise.  Tem a opção de apresentar a própria renúncia, ou esperar que uma votação parlamentar o afaste. Tem ainda a vantagem de em exercendo a presidência, valer-se dos atributos que lhe pertencem em termos de sua direção do Conselho.
           Por sua vez, se o Presidente do Conselho for forçado a  renunciar, por julgar não ter margem de manobra, o presidente da República, Sergio Mattarella iniciará consultas  com todos os partidos para determinar se existe possibilidade de formar um governo. Em caso contrário, Mattarella terá de dissolver o Parlamento, e convocar novas eleições nacionais, cerca de três anos e meio antes do prazo...

            Por outro lado, o líder do PD, Nicola Zingarelli declarou que o próprio partido considera a alternativa:  (a) a formação de um "governo forte, com apoio para reformar a Itália, ou (b)  convocar-se  eleição antecipada, afastada a hipótese de governo de caráter provisório.

              Para que se forme idéia da confusão e do desconforto reinantes, diante da imprevista iniciativa de Salvini, a Itália não procede a eleições no outono, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, visto que os últimos  meses do ano são dedicados à elaboração do Orçamento - que constituem momento-chave  para uma Nação que se caracteriza por uma das maiores dívidas públicas do mundo.
               Como é patente, a crise foi provocada por Matteo Salvini, o ambicioso e violento Ministro do Interior e líder do Partido de extrema direita Liga. Rompendo com as práticas usuais, Salvini disse que a aliança com o esquerdista Cinco Estrelas já não mais se sustenta.  Por isso, patrocinou a primeira moção de desconfiança contra o isolado e em tese despojado de maior apoio político próprio Giuseppe Conte. Na série de erros de avaliação de Salvini, o seu menosprezo à  figura do Presidente do Conselho não levou em conta atributos desse posto, e suas possibilidades de contra-restar a desmedida ambição do fascistóide Salvini.  A demasiada desenvoltura e a nua ambição são erros crassos em política, e podem ser punidou ou castigados de variada maneira, como uma coleção de grandes presidentes do conselho teria mostrado ao abrupto e demasiado óbvio Salvini, e em política tais erros de julgamento se pagam caro na duana do parlamentarismo.
                 O ambicioso Salvini contava com a convocação de eleições antecipadas  para que assim, valendo-se de sua suposta vantagem em termos de apoio popular, passasse a ter condições de governar sozinho.
                  Não se sabe se demasiado cru no seu planejamento,agindo sem levar em conta as reações adversárias (de que não se dignou informar-se com a necessária profundeza), o seu projeto rapidamente principiou a dar mostras de negar  fogo. Assim, tanto o aliado Cinco Estrelas, quanto o opositor PD rejeitaram a inepta moção de censura de Salvini. Este último, sem a preparação adequada para contrapor-se às manobras adversárias,  foi apanhado no contrapé pelo 5 Estrelas e o PD (este ainda formalmente opositor).  Diante do aloprado desafio de Salvini, esses dois partidos passaram a negociar entre eles, superando o desastrado repto e tal difícil  momento para a esquerda, e passaram, por conseguinte, a tratar da possível formação de  nova aliança de governo.
  
                   Outro personagem menosprezado por Salvin - que cometera o erro capital de partir para a guerra aberta sem preparar-se para a eventualidade de desenvolvimentos imprevistos - foi o Presidente do Conselho Giuseppe Conte, que usou do pouco mas real poder do Chefe de governo para acrescentar aos problemas já criados (por culpa própria) pela demasiado óbvia  sôfreguidão de Matteo Salvini, que cometera erro capital em política, que é o de presumir apoios eventuais que acabaram por não consumar-se.
                       Diante desse destrambelhado Salvini, se o Presidente Conte renunciar à chefia do Gabinete, resta ao presidente Mattarella a possibilidade de explorar uma factível aliança  das esquerdas - Movimento Cinco Estrelas e o Partido Democrático, de Nicola Zingaretti   - ou até mesmo reeditar a atual coalizão com a Liga neo-fascista, que pretende agarrar-se ao Ministério do Interior, através do qual tem infligido tanto prejuízo à imagem da Itália, através de sua oposição rasgada e sem qualquer princípio a tudo o que tenha que ver com Direitos Humanos, em especial enjeitando  postura mais equilibrada e com um mínimo de senso humanitário em termos da crise africana - tanto na antiga Líbia, quanto em outras áreas conflagradas nesse Continente ao sul da Europa.
                          Mas isto per carità seria esperar demasiado de sutileza e habilidade de manobra política de quem vem provando e até com excesso de não sequer pensar na viabilidade da utilização inteligente de recursos políticos e retóricos, os quais, fora a violência nua e crua, tudo o mais que estaria no amplo arsenal dos muito renomados e capazes antecessores dos Presidente de Conselho, o que dolorosamente parece fora do alcance do Líder da Liga.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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