O Partido Democrático
da Itália (PD), hoje na oposição, manteve ontem contatos com o Movimento 5
Estrelas, que está por ora no poder, e valendo-se da crise provocada por Matteo
Salvini, da Liga, busca formar uma coalizão de governo.
Como se sabe o PD é integrado por aliança de
vários partidos de centro- esquerda, que foi montada em 2007.
O Movimento 5 Estrelas, era
aliado da Liga , partido de extrema direita cujo chefe Matteo Salvini
provocou a atual crise, com o escopo de chefiar o novo governo. Para tanto,
Salvini conta apresentar moção de desconfiança, que pode derrubar o atual
Primeiro Ministro, Giuseppe Conte,
e, em consequência, forçar eleições
antecipadas.
Conte deve discursar hoje no Senado a
respeito da crise. Tem a opção de
apresentar a própria renúncia, ou esperar que uma votação parlamentar o afaste.
Tem ainda a vantagem de em exercendo a presidência, valer-se dos atributos que lhe
pertencem em termos de sua direção do Conselho.
Por sua vez, se o Presidente do
Conselho for forçado a renunciar, por
julgar não ter margem de manobra, o presidente da República, Sergio Mattarella iniciará consultas com todos os partidos para determinar se
existe possibilidade de formar um governo. Em caso contrário, Mattarella terá
de dissolver o Parlamento, e convocar novas eleições nacionais, cerca de três
anos e meio antes do prazo...
Por outro lado, o líder do PD, Nicola Zingarelli declarou que o próprio partido considera a
alternativa: (a) a formação de um "governo forte, com apoio para reformar a
Itália, ou (b) convocar-se eleição antecipada, afastada a hipótese de
governo de caráter provisório.
Para que se forme idéia da
confusão e do desconforto reinantes, diante da imprevista iniciativa de
Salvini, a Itália não procede a eleições no outono, desde o fim da Segunda
Guerra Mundial, visto que os últimos
meses do ano são dedicados à elaboração do Orçamento - que constituem momento-chave para uma Nação que se caracteriza por uma das
maiores dívidas públicas do mundo.
Como é patente, a crise foi
provocada por Matteo Salvini, o
ambicioso e violento Ministro do Interior e líder do Partido de extrema direita
Liga. Rompendo com as práticas
usuais, Salvini disse que a aliança com o esquerdista Cinco Estrelas já não mais se sustenta. Por isso, patrocinou a primeira moção de
desconfiança contra o isolado e em tese despojado de maior apoio político próprio
Giuseppe Conte. Na série de erros de avaliação de Salvini, o seu menosprezo
à figura do Presidente do Conselho não
levou em conta atributos desse posto, e suas possibilidades de contra-restar a
desmedida ambição do fascistóide Salvini.
A demasiada desenvoltura e a nua ambição são erros crassos em política,
e podem ser punidou ou castigados de variada maneira, como uma coleção de
grandes presidentes do conselho teria mostrado ao abrupto e demasiado óbvio
Salvini, e em política tais erros de julgamento se pagam caro na duana do
parlamentarismo.
O ambicioso Salvini contava
com a convocação de eleições antecipadas
para que assim, valendo-se de sua suposta vantagem em termos de apoio
popular, passasse a ter condições de governar sozinho.
Não se sabe se demasiado cru
no seu planejamento,agindo sem levar em conta as reações adversárias (de que
não se dignou informar-se com a necessária profundeza), o seu projeto rapidamente
principiou a dar mostras de negar fogo.
Assim, tanto o aliado Cinco Estrelas, quanto o opositor PD rejeitaram a inepta
moção de censura de Salvini. Este último, sem a preparação adequada para
contrapor-se às manobras adversárias,
foi apanhado no contrapé pelo 5 Estrelas e o PD (este ainda
formalmente opositor). Diante do
aloprado desafio de Salvini, esses dois partidos passaram a negociar entre
eles, superando o desastrado repto e tal difícil momento para a esquerda, e passaram, por
conseguinte, a tratar da possível formação de nova aliança de governo.
Outro personagem menosprezado
por Salvin - que cometera o erro capital de partir para a guerra aberta sem
preparar-se para a eventualidade de desenvolvimentos imprevistos - foi o
Presidente do Conselho Giuseppe Conte, que usou do pouco mas real poder do Chefe
de governo para acrescentar aos problemas já criados (por culpa própria) pela
demasiado óbvia sôfreguidão de Matteo
Salvini, que cometera erro capital em política, que é o de presumir apoios
eventuais que acabaram por não consumar-se.
Diante desse destrambelhado
Salvini, se o Presidente Conte renunciar à chefia do Gabinete, resta ao
presidente Mattarella a possibilidade de explorar uma factível aliança das esquerdas - Movimento Cinco Estrelas e o Partido
Democrático, de Nicola Zingaretti - ou
até mesmo reeditar a atual coalizão com a Liga neo-fascista, que pretende
agarrar-se ao Ministério do Interior, através do qual tem infligido tanto
prejuízo à imagem da Itália, através de sua oposição rasgada e sem qualquer
princípio a tudo o que tenha que ver com Direitos Humanos, em especial enjeitando
postura mais equilibrada e com um mínimo
de senso humanitário em termos da crise africana - tanto na antiga Líbia,
quanto em outras áreas conflagradas nesse Continente ao sul da Europa.
Mas isto per carità seria esperar demasiado de
sutileza e habilidade de manobra política de quem vem provando e até com
excesso de não sequer pensar na viabilidade da utilização inteligente de
recursos políticos e retóricos, os quais, fora a violência nua e crua, tudo o
mais que estaria no amplo arsenal dos muito renomados e capazes antecessores
dos Presidente de Conselho, o que dolorosamente parece fora do alcance do Líder
da Liga.
( Fonte: O Estado de S.
Paulo )
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