terça-feira, 27 de agosto de 2019

Absurda Proposta de Macron


                                  

         A atuação do presidente Emmanuel Macron na reunião do G-7 reflete uma súbita mudança de atitude com relação ao Brasil, mudança essa que se terá originado de eventuais comentários do presidente Jair Bolsonaro, acerca de Madame Macron. Como é notório, a esposa de Macron é mais idosa do que ele, e a reação do presidente francês enveredou pelo agressivo diante de supostas observações de caráter negativo que teriam sido formuladas pelo mandatário brasileiro.
  
           É de intuir-se que a França não veja com muito entusiasmo o acordo sobre produtos agrícolas que se espera seja firmado entre o Mercosul e a União Européia. Há decerto uma postura marcadamente protecionista da França com relação aos seus produtores agrícolas. Em se tratando de agricultura em muitos aspectos pouco eficiente, compreende-se que o Quai d'Orsai não encare com muito entusiasmo um incremento ponderável na entrada  dos produtos agrícolas sul-americanos no mercado gaulês.  Tenha-se igualmente presente que no restrito círculo do Marché Commun, a França goza de uma penetração ampla de seus produtos agrícolas em um mercado comum em que, por ora, os artigos agrícolas sul-americanos se assinalam por uma oferta assaz reduzida. Nesse contexto, um acordo agrícola realmente amplo entre Mercosur e a U.E. não estaria entre os desenvolvimentos no intercâmbio entre os dois 'gigantes' que mais animaria Paris, eis que, como em todo jogo desse gênero, tenderia a reduzir as vantagens atuais gozadas pela agricultura francesa.

              É preciso também ter-se em mente que a França,  dentro de um quadro geral de boas relações com o Brasil, não adiantaria as medidas negativas - e até agressivas - contra os interesses brasileiros no que concerne à Amazônia, se para tal mudança não a induzissem outros fatores. Nesse contexto, ter-se-á presente que as modificações que a princípio o Governo Bolsonaro pensara introduzir  na política externa brasileira, notadamente no que diz respeito ao meio ambiente criara focos contrários a tal alegada mudança radical. Esse anti-ambientalismo tendeu a motivar na recente visita aos Estados Unidos recuos em termos de convite pelo prefeito de New York ao presidente brasileiro, pela  posição anti- ambientalista do mandatário brasileiro.
  
                Ter-se-á também em mente que a presente súbita hostilidade do presidente francês no que tange o Brasil, não tem exemplos passados em termos de Quai d'Orsay. Com efeito, levantar a possibilidade de uma intervenção desse gênero - conferir status internacional à floresta amazônica - representaria um descomunal retrocesso na posição do Brasil, que passaria a ser de enorme pária tendo afixo no peito a tabula de criatura portando o tal estatuto de internacionalização da floresta amazônica, a famosa hyléa de von Humboldt, e, para ser franco, não tem pé nem cabeça se acaso se pensa no Elysée que o Brasil possa ser suscetível de tal capitis deminutio, a que nunca foi submetido no passado.Com essa bizarra proposição,  o presidente francês mostra um viés agressivo de julgamento pouco condizente com a modernidade e, em particular, com o histórico papel internacional do Brasil, enquanto país soberano,  desde a sua entrada nas Nações Unidas, entre os membros fundadores.  

                    A liderança do Brasil em termos de diplomacia multilateral é um fato. Foi devido a essa posição no seio multilateral, mesmo em tempos da Segunda Guerra Mundial, que o Presidente Franklin Roosevelt, se vivo estivesse, quando da efetiva criação das Nações Unidas, decidira pela inclusão do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Quis a sua morte antecipada em abril de 1945, que tal não se implementasse, mas essa circunstância desvela, para quem guardaria dúvidas, de quão relevante tinha sido a posição brasileira, para que tal projetada inclusão entre os membros permanentes do Conselho de Segurança já não fosse bastante para patenteá-lo.

                          É de esperar-se que a posição brasileira em termos de meio ambiente do governo Bolsonaro se torne, tendo presente o interesse nacional, menos radical e mais flexível. Dadas as somas que conta hoje receber de países que desejam prover o Brasil de fundos ambientais se tornem possíveis. Nesse contexto, o governo Bolsonaro terá presente que deveria ter utilizado os fundos ambientais disponibilizados por Alemanha ($ 500 milhões) e Noruega ($300 milhões), graças aos esforços da política ambientalista Marina Silva, e não negá-los, como se tal contribuição não fora de interesse nacional, e que neste momento seria muito bem-vinda. Também nesse contexto, é de toda relevância que a ajuda ambientalista corresponde a uma necessidade, e não deve ser encarada como fautora de ONGs que. en passant não carecem de ser demonizadas como atualmente e, ao invés, empregadas como meios auxiliares de conscientização e de controle dos fatores anti-ambientalistas.   


( Fontes:O Estado de S. Paulo,O Globo, Encyclopaedia Britannica, Der Neue Brockhaus,   e Miriam Leitão )

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