A atuação do presidente
Emmanuel
Macron na reunião do G-7 reflete uma súbita mudança de atitude com
relação ao Brasil, mudança essa que se terá originado de eventuais comentários do
presidente Jair Bolsonaro, acerca de
Madame Macron. Como é notório, a esposa de Macron é mais idosa do que ele, e a
reação do presidente francês enveredou pelo agressivo diante de supostas
observações de caráter negativo que teriam sido formuladas pelo mandatário
brasileiro.
É de intuir-se que a França não veja
com muito entusiasmo o acordo sobre produtos agrícolas que se espera seja
firmado entre o Mercosul e a União Européia. Há decerto uma postura
marcadamente protecionista da França com relação aos seus produtores agrícolas.
Em se tratando de agricultura em muitos aspectos pouco eficiente, compreende-se
que o Quai d'Orsai não encare com
muito entusiasmo um incremento ponderável na entrada dos produtos agrícolas sul-americanos no
mercado gaulês. Tenha-se igualmente
presente que no restrito círculo do Marché
Commun, a França goza de uma penetração ampla de seus produtos agrícolas em
um mercado comum em que, por ora, os artigos agrícolas sul-americanos se
assinalam por uma oferta assaz reduzida. Nesse contexto, um acordo agrícola
realmente amplo entre Mercosur e a U.E. não estaria entre os desenvolvimentos no
intercâmbio entre os dois 'gigantes' que mais animaria Paris, eis que, como em
todo jogo desse gênero, tenderia a reduzir as vantagens atuais gozadas pela
agricultura francesa.
É
preciso também ter-se em mente que a França, dentro de um quadro geral de boas relações com
o Brasil, não adiantaria as medidas negativas - e até agressivas - contra os
interesses brasileiros no que concerne à Amazônia, se para tal mudança não a
induzissem outros fatores. Nesse contexto, ter-se-á presente que as
modificações que a princípio o Governo Bolsonaro pensara introduzir na política externa brasileira, notadamente no
que diz respeito ao meio ambiente criara focos contrários a tal alegada mudança
radical. Esse anti-ambientalismo tendeu a motivar na recente visita aos Estados
Unidos recuos em termos de convite pelo prefeito de New York ao presidente
brasileiro, pela posição anti- ambientalista
do mandatário brasileiro.
Ter-se-á também em mente que a presente súbita hostilidade do presidente
francês no que tange o Brasil, não tem exemplos passados em termos de Quai d'Orsay. Com efeito, levantar a
possibilidade de uma intervenção desse gênero - conferir status internacional à floresta amazônica - representaria um descomunal retrocesso na posição do Brasil, que passaria a ser de enorme pária tendo
afixo no peito a tabula de criatura portando
o tal estatuto de internacionalização da floresta amazônica, a famosa hyléa de von Humboldt, e, para ser
franco, não tem pé nem cabeça se acaso se pensa no Elysée que o Brasil possa ser suscetível de tal capitis deminutio, a que nunca foi submetido
no passado.Com essa bizarra proposição,
o presidente francês mostra um viés agressivo de julgamento pouco condizente
com a modernidade e, em particular, com o histórico papel internacional do Brasil, enquanto país soberano, desde a sua entrada nas
Nações Unidas, entre os membros fundadores.
A liderança do Brasil em termos de diplomacia multilateral é um fato.
Foi devido a essa posição no seio multilateral, mesmo em tempos da Segunda
Guerra Mundial, que o Presidente Franklin Roosevelt, se
vivo estivesse, quando da efetiva criação das Nações Unidas, decidira pela
inclusão do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Quis a sua
morte antecipada em abril de 1945, que tal não se implementasse, mas essa circunstância
desvela, para quem guardaria dúvidas, de quão relevante tinha sido a posição
brasileira, para que tal projetada inclusão entre os membros permanentes do Conselho de
Segurança já não fosse bastante para patenteá-lo.
É de esperar-se que a
posição brasileira em termos de meio ambiente do governo Bolsonaro se torne,
tendo presente o interesse nacional, menos radical e mais flexível. Dadas as
somas que conta hoje receber de países que desejam prover o Brasil de fundos
ambientais se tornem possíveis. Nesse contexto, o governo Bolsonaro terá
presente que deveria ter utilizado os fundos ambientais disponibilizados por
Alemanha ($ 500 milhões) e Noruega ($300 milhões), graças aos esforços da política
ambientalista Marina Silva, e não
negá-los, como se tal contribuição não fora de interesse nacional, e que neste
momento seria muito bem-vinda. Também nesse contexto, é de toda relevância que
a ajuda ambientalista corresponde a uma necessidade, e não deve ser encarada
como fautora de ONGs que. en passant não carecem de ser
demonizadas como atualmente e, ao invés, empregadas como meios auxiliares de
conscientização e de controle dos fatores anti-ambientalistas.
(
Fontes:O Estado de S. Paulo,O Globo, Encyclopaedia Britannica, Der Neue
Brockhaus, e Miriam Leitão )
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