domingo, 11 de agosto de 2019

Críticas a Papa Francisco


                                  
        Se houvesse nos Sínodos e demais reuniões vaticanas uma espécie de previsão de tempo e de possíveis reações de correntes vaticanas, veríamos nas críticas de cardeais alemães  ao Instrumento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia como que um sofisticado movimento de censura ao próprio sínodo, que, na verdade, dirige tais animadversões à Sua Santidade.

          Como o despacho vindo da Santa Sé se reporta às mal-disfarçadas críticas de Cardeais alemães ao referido Instrumento de Trabalho do Sínodo para a Amazônia parece oportuno notar que esse encontro de trabalho - de seis a vinte e sete de outubro vindouro - que reúne alguns dos principais nomes da Igreja Católica, promete igualmente virar cenário de confronto interno em relação ao presente Pontificado.

            Para começar as opiniões do prefeito-emérito (i.e, aposentado) da Congregação para a Doutrina da Fé (a antes temida Inquisição) Gehard Muller, de 71 anos, e seu colega Walter Brundemuller, de noventa anos, um dos signatários da Carta Dubia - que pede esclarecimentos sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia, na qual se discutem situações como a comunhão dos divorciados - disseram que o documento em tela, a respeito do próximo Sínodo, contém (sic) heresia, estupidez e apostasia.

               No livro recém-publicado Roemische Begegnungen ( Encontros Romanos) , Muller chega a acusar Sua Santidade de trabalhar pela dissolução da Igreja. No texto, há amplas críticas  a aproximações  com 'política" e "intrigas", além de discursos sobre uma suposta secularização da Igreja ao modelo protestante. Nesse sentido,são amplas as queixas, v.g., à celebração dos quinhentos anos da Reforma (em 2017), que teve em seu final a presença do Sumo Pontífice.
                 Em relação ao encontro de outubro, Muller concentra suas objeções aos conceitos de cosmovisão (com acenos a mitos e rituais  evocando ' mãe natureza ', ecoteologia, cultura indígena e ministério  sacerdotal com a possibilidade de ordenar padres casados. Muller também tenta rebater as críticas que lhe são dirigidas como defensor do eurocentrismo. Para defender-se, alude a seus iterados contatos com Gustavo Gutierrez, principal teórico da Teologia da Libertação.
  
                  Dentro das caracteristicas repressivas que marcam a Congregação para a Doutrina da Fé, de que foi Prefeito,  Muller adverte que a tarefa dos cristãos não é preservar a natureza como ela é,  mas ter a responsabilidade pelo progresso da Humanidade. Por isso, para ele os homens, incluindo os índios na Amazônia, são  chamados a colaborar com a vontade salvífica de Deus.

                      No contexto de um permanente alerta para os alegados propósitos do Pontífice, deve-se ter igualmente presente mais um estranho aviso: É ímpossível esconder o fato de que esse sínodo é  particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambiciosos e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas, afirma o mesmo prelado alemão.

                   O sínodo da Amazônia terá cerca de 250 participantes, dos quais 61 brasileiros (sem contar os convidados do Papa). Estarão presentes os bispos titulares dos nove estados da Amazônia Legal: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Amazonas, Pará , Maranhão, Tocantins e Mato Grosso.  Os países estrangeiros cortados pela floresta são Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.

                  O cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, d. Claudio Hummes, presidente da Comssão Episcopal Especial da Conferência  Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e nomeado pelo Papa relator-geral do Sínodo, não comentou para o Estado  as críticas dos cardeais alemães ao Instrumento de Trabalho. Mas seu pensamento está em uma entrevista concedida ao padre Antonio Spadaro, diretor da revista Civiltà Cattolica, e agora publicada no semanário alemão Stimmen der Zeit (Vozes do Tempo).

                     Para Hummes, o foco da próxima reunião está em criar  "uma Igreja indígena para as populações indígenas" e "inculturada". Ele ainda destaca que o evento responde a um desejo de Papa Francisco, sobre o qual conversavam - e "rezavam" - desde 2015.


( Fonte: O Estado de S; Paulo )

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