Há inegável consenso de que Brexit
pode revestir uma imagem que tem certa força propagandística, mas, pelo que nos
é dado presenciar nas condições e nas dificuldades que trará para a velha
Inglaterra, semelha muito difícil discordar
de que o conceito pode virar símbolo de decisão inoportuna e, sobretudo,
desastrosa para a Álbion. Tomada pelas luzes (ou falta delas) de Brad
Cameron, o Primeiro Ministro de Sua Majestade que pensava atender apenas
pro forma a incômodo reclamo de um
suposto aliado, estava na verdade comprando braçadas da corda com que se enforcaria
politicamente. Não é decerto tampouco justo
que Sir Cameron haja aprontado o que pode trazer tempos difíceis para os
jovens, que pressagos olhavam para o Continente e as suas inúmeras
universidades, como ulteriores oportunidades de aperfeiçoar os seus estudos em Oxford e Cambridge, e agora o que deparam eles, se não o red tape da burocracia, e os obstáculos
postos aos jovens vindos de uma ilha, que dá a impressão de confirmar o traço
separador de um multissecular isolacionismo? Com o mesmo cenho levantado que
trazia no porte altaneiro e no passo estugado, com que atravessava os salões de
Bruxelas, como se mais rápido passasse melhor seria para não contaminá-lo with petty European affairs? Será que algum dia se terá conscientizado de
quão justa foi a penalização recebida, ao sair escorraçado do cúmulo britânico
reservado a uma carreira política? Porque Neville Chamberlain terá tido o consolo,
ainda que amargo, de ser sucedido por um grande nome, que sairia ainda maior,
mas o que dizer de passar a pasta a Theresa May? Porque meu caro Cameron
o seu erro colossal se afunda em organizar o referendo no período estival, que
carrega os louros do menos adequado para grandes decisões, como essa monumental
estupidez de tratar com a displicência dos tolos uma questão vital para a
antiga Senhora dos Mares, que se tornara brinquedo de estimação de gerações de
velhotes, que não se conformavam que a Inglaterra deixara de ser a Rainha dos
Mares. Pensando que tudo mui rápido passaria, apenas esqueceste que
passavas um juízo definitivo sobre o teu
fracasso político, eis que estás aí para impessoalizar em peças cômicas do futuro
o desastre maior que abraçaste como se forma mais uma jogada daqueles referenda
que são tratados como moeda de troca. Ai de ti, ó Cameron, que malbarataste o
que restava da tua carreira nessa vil roleta da política!
(
Fonte: Lembranças de ultramar e
ecos do Brexit )
Nenhum comentário:
Postar um comentário