segunda-feira, 19 de agosto de 2019

O Pesadelo do Brexit


                                  

          Há inegável consenso de que Brexit pode revestir uma imagem que tem certa força propagandística, mas, pelo que nos é dado presenciar nas condições e nas dificuldades que trará para a velha Inglaterra, semelha muito difícil discordar  de que o conceito pode virar símbolo de decisão inoportuna e, sobretudo, desastrosa para a Álbion. Tomada pelas luzes (ou falta delas) de Brad Cameron, o Primeiro Ministro de Sua Majestade que pensava atender apenas pro forma a incômodo reclamo de um suposto aliado, estava na verdade comprando braçadas da corda com que se enforcaria politicamente. Não é decerto tampouco justo  que Sir Cameron haja aprontado o que pode trazer tempos difíceis para os jovens, que pressagos olhavam para o Continente e as suas inúmeras universidades, como ulteriores oportunidades de aperfeiçoar os seus estudos em Oxford e Cambridge, e agora o que deparam eles, se não o red tape da burocracia, e os obstáculos postos aos jovens vindos de uma ilha, que dá a impressão de confirmar o traço separador de um multissecular isolacionismo? Com o mesmo cenho levantado que trazia no porte altaneiro e no passo estugado, com que atravessava os salões de Bruxelas, como se mais rápido passasse melhor seria para não contaminá-lo with petty European affairs?  Será que algum dia se terá conscientizado de quão justa foi a penalização recebida, ao sair escorraçado do cúmulo britânico reservado a uma carreira política? Porque Neville Chamberlain terá tido o consolo, ainda que amargo, de ser sucedido por um grande nome, que sairia ainda maior, mas o que dizer de passar a pasta a Theresa May? Porque meu caro Cameron o seu erro colossal se afunda em organizar o referendo no período estival, que carrega os louros do menos adequado para grandes decisões, como essa monumental estupidez de tratar com a displicência dos tolos uma questão vital para a antiga Senhora dos Mares, que se tornara brinquedo de estimação de gerações de velhotes, que não se conformavam que a Inglaterra deixara de ser a Rainha dos Mares. Pensando que tudo mui rápido passaria, apenas esqueceste que passavas  um juízo definitivo sobre o teu fracasso político, eis que estás aí para impessoalizar em peças cômicas do futuro o desastre maior que abraçaste como se forma mais uma jogada daqueles referenda que são tratados como moeda de troca. Ai de ti, ó Cameron, que malbarataste o que restava da tua carreira nessa vil roleta da política!

( Fonte: Lembranças de ultramar  e ecos  do Brexit )

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