Nesses dois últimos
dias, a crise italiana - aberta pelo Ministro Matteo Salvini, chefe da
Liga - levou ao fim a coalizão entre o Movimento 5 Estrelas e a neo-fascista
Liga, deixando um legado de economia
estagnada e endividada, e o recurso sempre mais forçado a políticas cada vez
mais duras contra imigrantes. Salvini buscara valorizar uma posição reforçada
por posturas demagógicas contra imigrantes que são levados à Itália - e outros
países mediterrâneos - pelos precários barcos que atravessam esse antigo mar em
busca de asilo a esses infelizes tangidos pela permanência da crise
sócio-política da África.
Só mesmo uma conferência pan-europeia
poderia encaminhar a solução dessa difusa e de muitas caras crise
sócio-política que obriga a muitos infelizes buscarem abrigo longe do caos e do
desgoverno das facções, que infernizam a Líbia (o típico estado-malogrado no
pós-Muamar Kadaffi) e mais outros "candidatos" assolados pelas
guerras-civis e o consequente caos social. Que esses infelizes se valham de embarcações ainda menos seguras do que os
seus locais de abrigo precário e provisório, constitui outra tragédia, que
muitos prósperos estados europeus preferem, por enquanto, empurrar com a
barriga, na pia esperança de que essa mega-crise que investe a tantas regiões e
países vá evaporar-se um dia desses...
Salvini, por sua vez, que lançara
a Itália na sua enésima crise de governo, o fez decerto por motivos pouco confessáveis,
como se desejasse valer-se da própria imagem de deus ex machina, em termos políticos, sem atentar para o interesse
nacional, e,dessarte, repetir o refrão de velha canção brasileira de Roberto Carlos - e que
tudo mais vá para o inferno. Sabemos
que a Itália configura muita vez mais, em termos políticos, crises de governo
que parecem aos observadores difíceis de serem justificadas e, guarda caso! estamos diante de um bom
exemplo.
De resto, como é sabido, ao apresentar
sua renúncia, o premier Giuseppe Conte, um independente apoiado pela Liga, criticou em termos
duros a Salvini, a quem acusou de tentar driblar o processo democrático
para ampliar seus próprios poderes, em o
comparando tacitamente com o ditador fascista Benito Mussolini.
Por sua vez, na movimentação
dos partidos causada pela atual crise, o Partido
Democrático da Itália, hoje de centro-esquerda, fez exigências ontem ao
Movimento Cinco Estrelas (M5S) para integrar uma coalizão, entre elas o
respeito à União Europeia. O objetivo é evitar eleições antecipadas ainda em 2019,
o que poderia levar o Ministro do Interior, Matteo Salvini, ao cargo de Primeiro
Ministro.
Segundo explicitaram fontes
do PD, foram feitas cinco exigências, entre elas o respeito e a lealdade à filiação
da Itália à União Europeia, além de outras, já no plano verboso, como
compromisso para fomentar que o projeto comum supere suas carências e marche
para uma Europa de direitos, liberdades, solidariedade e sustentabilidade
ambiental e social.
Além disso, o PD se quer
distanciar da gestão dos últimos catorze meses aplicada por Salvini, que mantivera
política de portos fechados aos navios
de ONGs que têm resgatado migrantes
em alto mar.
As fontes políticas
indicaram que, dadas essas condições, o Partido Democrático estará disposto a
formar um Executivo que dure e tenha
como objetivo imediato a elaboração do Orçamento-Geral para 2020 visando a potencialização do crescimento
em uma economia ora estancada. Dentro desse ideário, o Secretário-Geral do PD
(no passado, o PCI) Nicola Zingaretti criticou
em declarações à imprensa, o governo do M5S e da Liga "responsável pela
paralisia da economia, o empobrecimento generalizado, um setor empresarial
mais pobre e um isolamento sem precedentes da Itália no cenário europeu e
internacional".
Ainda nesse sentido,
Zingaretti encareceu que, se o PD e o M5S constituírem uma aliança, o novo
Gabinete seja totalmente diverso do anterior, quanto ao programa e à equipe de
Governo.
Deve-se ter presente
que as duas forças parlamentares tentam
unir-se para evitar eleições antecipadas e, ao mesmo tempo, barrar o avanço do
partido de ultra direita Liga, de Matteo Salvini, que levara
avante política de linha dura contra os imigrantes. Nas eleições legislativas
de 2018 o M5S obteve 32% dos
sufrágios, enquanto o Partido Democrata
foi a segunda legenda mais votada, com cerca de 17%. Sem embargo, eles têm
pelas pesquisas recentes o aviso que a Liga,
de extrema direita, conquistaria 38% dos votos em novas eleições
nacionais.
O Presidente Sergio Mattarella reuniu-se ontem com
os presidentes da Câmara e do Senado, para discutir a crise política e a
possibilidade de os partidos com maiores bancadas no Parlamento formarem
alianças.
Enquanto Matteo Salvini
aguardava ontem a vez de apresentar seus
argumentos ao Presidente da República Mattarella, achou oportuno qualificar qualquer tentativa de formar uma coalizão
como uma conspiração contra ele. Nesse sentido, o ministro do Interior insistiu
que os eleitores deveriam determinar quem os governará... Ainda nessa peculiar
linha de raciocínio de quem não quer entender como funciona uma governança
parlamentarista clássica, como é a italiana, reiterou o Ministro do Interior:
"Qualquer governo que nascer será um governo contra a Liga", disse
Salvini a jornalistas que lhe
perguntaram sobre as negociações entre o Movimento Cinco Estrelas e o Partido
Democrático.
Um tanto
ironicamente para o sôfrego e ambicioso Salvini, ele pareceu esquecido de ter
sido ele quem pariu o monstro da nova crise, ao anunciar o fim de sua aliança
como o Movimento Cinco Estrelas e ao processar um pedido de moção de
desconfiança contra o Primeiro Ministro Conte, que embora
não tivesse força política própria, dispunha de conhecimentos sobre os
respectivos poderes de um Presidente do Conselho segunda a Constituição.
Baseado em uma serie de
conhecimentos, que pensava tivessem o poder que na realidade cabe às
instituições, Salvini ledamente anunciara o fim de sua aliança com o M5S e
depositado moção de desconfiança contra o Presidente do Conselho Conte,
embalado nas suas alegres pressuposições de que tudo sairia como planejara, eis
que a antecipação das eleições - por ele suposta de efeito imediato - seria
felizmente conjugada pela elevada popularidade do Chefe máximo da neo-fascista Liga.
Não se pode
dizer que a lição que lhe foi ministrada pelos Poderes da República Italiana tenha acaso correspondido às suas ignaras
expectativas. De toda forma, a sua pressa
de chegar ao Poder terá de esperar algum
tempo, e é sempre bom que esse tosco
aprendiz de política, que pensava aplicar um golpe inspirado em Benito
Mussolini, o dito golpe de mestre fica
por ora postergado sine die...
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, e conhecimentos do autor)
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