sábado, 31 de agosto de 2019

Repressão chinesa contra líderes de Hong Kong


                        
              Beijing mudou de estratégia, resolvendo apertar o cerco contra a cúpula de ativistas pró-democracia em Hong Kong. Ontem, 30 de agosto, pelo menos vinte líderes dissidentes foram detidos, em mais uma tentativa de conter a onda de protestos no território.
                Os resultados da ação repressiva foram imediatos, e as manifestações marca-das para hoje, canceladas. "Não temos outra opção a não ser a cancelar essa marcha", disse Bonnie Leung, porta-voz e vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos Humanos.  Segundo a porta-voz "não temos outra opção a não ser cancelar a marcha" , Ainda consoante ela, o movimento pró-democracia não consegue mais, a partir de agora, proteger os participantes de "consequências legais" e "assegurar a integridade física dos manifestantes".
                   Entre os ativistas presos estava Joshua Wong, que ganhou destaque após os protestos de 2014. Com fama de moderado, ele tinha pedido publicamente aos manifestantes que não usassem violência. Também foram detidos outros expoentes, v.g. Andy Chan, presidente do Partido Nacional de Hong Kong, e Agnes Chow, ex-líder estudantil - todos eles foram libertados, horas depois, após pagamento de fiança.
                      Os manifestantes alegaram que pelo menos parte da violência a eles atribuída pode ter sido instigada por agentes policiais disfarçados - a polícia reconhece ter-se infiltrado nos protestos. Os dissidentes suspeitam que as autoridades também estejam envolvidas em ataques de homens armados com tacos de beisebol e cutelos, tática associada ao crime organizado com histórico de vínculos com Pequim.
                         Na devolução pelo Reino Unido do território de Hong Kong, em 1997, a RPC assegurou que a antiga colônia seria administrada de acordo com o princípio "um país, dois sistemas". Por conseguinte, Hong Kong manteria autonomia em quase todos os aspectos, excetuados apenas os temas de política externa e defesa - o que valeria por 50 anos.
                         A crise em Hong Kong explodiu em junho, quando o governo do território na nova administração de Carrie Lam apresentou um projeto de lei para facilitar a extradição de pessoas para serem julgadas na China. Ainda nesse sentido, os ativistas acreditam que a proposta tinha como escopo calar os dissidentes.
                           Os protestos espoucaram de imediato, para pressionar o governo da novel chefe, Carrie Lam, mas o plano de facilitar o envio de pessoas para China continental acabou suspenso. Todavia, a reviravolta não acalmou os ânimos da povoação.  Por outro lado, os manifestantes mudaram a pauta das reivindicações, exigindo a retira total do projeto de lei e a renúncia de Lam, acusada de ser um fantoche do PCC.
                           Mais de dois meses depois, temendo  que as manifestações saíssem do controle, a autoridade chinesa decidiu adotar a política "seletiva" de prisões de manifes- tantes. A ordem, conforme membros do governo de Hong Kong, é que as detenções sejam feitas pela polícia territorial - e não por militares chineses, cuja intervenção serua sem precedentes.
                            "As autoridades apostam que os protestos gradualmente diminuirão à medida que a polícia detenha os manifestantes mais radicais e a opinião pública se volte contra o uso da violência", declarou Lau Siu-kai, consultor do governo chinês.
                          Ontem, a polícia de Hong Kong disse que tinha prendido mais de novecentas pessoas em conexão com os protestos. Algumas figuras políticas locais estimaram que cerca de quatro mil manifestantes foram considerados pelas autoridades como "radicais", mas não está claro quando esses supostos demonstrantes acabariam enfrentando ações legais.
                              Especula-se,outrossim, que com a máxima autoridade chinesa, Xi Jinping, ocupado em uma guerra comercial com os Estados Unidos, a estratégia de atrito de longo prazo em Hong Kong é vista por Beijing como abordagem preferível a uma completa invasão do território, que poderia agravar ainda mais a crise, pelo patente desrespeito às condições estabelecidas em 1997.

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

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