Beijing mudou de estratégia,
resolvendo apertar o cerco contra a cúpula de ativistas pró-democracia em Hong
Kong. Ontem, 30 de agosto, pelo menos vinte líderes dissidentes foram detidos,
em mais uma tentativa de conter a onda de protestos no território.
Os resultados da ação
repressiva foram imediatos, e as manifestações marca-das para hoje, canceladas.
"Não temos outra opção a não ser a cancelar essa marcha", disse Bonnie
Leung, porta-voz e vice-coordenadora da Frente Cívica de Direitos Humanos. Segundo a porta-voz "não temos outra
opção a não ser cancelar a marcha" , Ainda consoante ela, o movimento
pró-democracia não consegue mais, a partir de agora, proteger os participantes
de "consequências legais" e "assegurar a integridade física dos
manifestantes".
Entre os ativistas presos estava Joshua Wong, que ganhou destaque após os
protestos de 2014. Com fama de moderado, ele tinha pedido publicamente aos
manifestantes que não usassem violência. Também foram detidos outros expoentes,
v.g. Andy Chan, presidente do Partido
Nacional de Hong Kong, e Agnes Chow,
ex-líder estudantil - todos eles foram libertados, horas depois, após pagamento
de fiança.
Os manifestantes alegaram
que pelo menos parte da violência a eles atribuída pode ter sido instigada por
agentes policiais disfarçados - a polícia reconhece ter-se infiltrado nos
protestos. Os dissidentes suspeitam que as autoridades também estejam
envolvidas em ataques de homens armados com tacos de beisebol e cutelos, tática
associada ao crime organizado com histórico de vínculos com Pequim.
Na devolução pelo
Reino Unido do território de Hong Kong, em 1997, a RPC assegurou que a antiga
colônia seria administrada de acordo com o princípio "um país, dois
sistemas". Por conseguinte, Hong Kong manteria autonomia em quase todos os
aspectos, excetuados apenas os temas de política externa e defesa - o que
valeria por 50 anos.
A crise em Hong Kong explodiu em junho,
quando o governo do território na nova administração de Carrie Lam apresentou um
projeto de lei para facilitar a extradição de pessoas para serem julgadas na
China. Ainda nesse sentido, os ativistas acreditam que a proposta tinha como
escopo calar os dissidentes.
Os protestos
espoucaram de imediato, para pressionar o governo da novel chefe, Carrie Lam,
mas o plano de facilitar o envio de pessoas para China continental acabou
suspenso. Todavia, a reviravolta não acalmou os ânimos da povoação. Por outro lado, os manifestantes mudaram a
pauta das reivindicações, exigindo a retira total do projeto de lei e a
renúncia de Lam, acusada de ser um fantoche do PCC.
Mais de dois meses depois, temendo que as manifestações saíssem do controle, a
autoridade chinesa decidiu adotar a política "seletiva" de prisões de
manifes- tantes. A ordem, conforme membros do governo de Hong Kong, é que as
detenções sejam feitas pela polícia territorial - e não por militares chineses,
cuja intervenção serua sem precedentes.
"As
autoridades apostam que os protestos gradualmente diminuirão à medida que a
polícia detenha os manifestantes mais radicais e a opinião pública se volte
contra o uso da violência", declarou Lau Siu-kai, consultor do governo
chinês.
Ontem, a polícia de
Hong Kong disse que tinha prendido mais de novecentas pessoas em conexão com os
protestos. Algumas figuras políticas locais estimaram que cerca de quatro mil
manifestantes foram considerados pelas autoridades como "radicais",
mas não está claro quando esses supostos demonstrantes acabariam enfrentando ações
legais.
Especula-se,outrossim, que com a máxima autoridade chinesa, Xi Jinping,
ocupado em uma guerra comercial com os Estados Unidos, a estratégia de atrito
de longo prazo em Hong Kong é vista por Beijing como abordagem preferível a uma
completa invasão do território, que poderia agravar ainda mais a crise, pelo
patente desrespeito às condições estabelecidas em 1997.
(
Fonte: O Estado de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário