quarta-feira, 7 de agosto de 2019

O preconceituoso em chefe


                    

             Por uma série de razões que creio não valha a pena aprofundar, me abstive por uns tempos de ler The New York Times por meio da internet. Antigamente, era possível perlustrar esse grande jornal estadunidense - decerto o maior dos EUA- através da assinatura do Herald Tribune, que era, por assim dizer, um resumo do Times.
                 O 'progresso' - se o leitor me permite as aspas - tornou isso na prática inviável. Entre o papel e a tela, por mais que o contradigam, há uma grande e inaferrável diferença. Se me concederem o recurso à ironia. as tentativas do fac-simile acabariam superadas. Por isso, para conviver com a distância, alguma concessão deve ser feita.

                   Mas voltemos ao nosso tema principal. Os jornais constituem um espelho da sociedade. Por vezes, no entanto, quando um fenômeno começa a acenar tornar-se insuportável - como é o caso agora - o acirramento dos ânimos cresce em decibéis, e a exemplo de alguém de fora que, de repente, se precata que se principia a falar alto demais, lhe sobrevém no rosto e nos olhos, em especial, uma espécie de constrição, como se o personagem está - ou a falar alto demais - ou a dizer coisas e juízos, que tendam progressivamente a soar de forma que vai aos poucos se acercando de uma postura agressiva e estridente, no que se aproxima rápido ou do descontrole, ou de opiniões que não mais pareçam comparar-se com atitudes de um passado relativamente próximo.
                     Em metafórica discussão entre leitor e as colunas de jornal que lhes são transmitidas através da nuvem das comunicações vem-se tornando marcada e sensível a diferença e, sobretudo, a distância entre o que separa a principal autoridade americana e o que deveria ser o seu público.
                       Distingue-se através do éter que não há, em grande parte desse público e a autoridade presidencial um discurso se possa se considerar comum, ou que tenda a ser intuído como decorrente de premissas similares. E, sem embargo, quando o morador da Casa Branca se dirige ao Povo, valendo-se das metáforas de conexão  que torna tal comunicação possível dentro de seu sentido mais lato - o que se é de presumir será que tal discurso esteja sintonizado no que tange em geral às  ideias e sensações várias da opinião pública estadunidense, e de suas tradições em termos de costumes políticos.

                        Desperta por conseguinte mais do que a sensação de absorção e compreensão, e sim a contraparte, em reação marcada por juízos que vão num crescendo de desconforto à medida que a resposta da sociedade tenda a esgarçar-se sempre mais, enquanto a coletividade americana se dá conta da crescente dissonância em termos de atitudes e de reações numa escala de respostas  que se vai desfibrilando de forma progressiva,em o que se reflete crescente impossibilidade de consonância, o que para muitos comprovaria a virtual incapacidade de a liderança poder vir a refletir um senso comum, ou pelo menos aglutinador, que corresponda ao sentir generalizado não da malta, ou de sua faixa externa e extremada,  mas de uma postura que possa ser comparável a outros momentos históricos da coletividade americana, em que a liderança representada pela Casa Branca expressa juízo sobre uma realidade determinada que não pode ser confundido com outras reações comunitárias, eis que a interpretação dada pela chefia proporciona à sociedade uma resposta coerente e conforme à realidade de prática democrática nacional, e não uma eventual dissonância que só aglutine interpretações radicais que, uma vez enfeixadas, mais se afastam do sentir comum diante da crise, e das eventuais respostas, que tenderiam a ser aceitas por uma coalizão pública crescentemente majoritária.

( Fonte: The New York Times )

Nenhum comentário: