Por uma série de
razões que creio não valha a pena aprofundar, me abstive por uns tempos de ler The New York Times por meio da internet.
Antigamente, era possível perlustrar esse grande jornal estadunidense - decerto
o maior dos EUA- através da assinatura do Herald
Tribune, que era, por assim dizer, um resumo do Times.
O
'progresso' - se o leitor me permite as aspas - tornou isso na prática
inviável. Entre o papel e a tela, por mais que o contradigam, há uma grande e
inaferrável diferença. Se me concederem o recurso à ironia. as tentativas do fac-simile acabariam superadas. Por
isso, para conviver com a distância, alguma concessão deve ser feita.
Mas
voltemos ao nosso tema principal. Os jornais constituem um espelho da
sociedade. Por vezes, no entanto, quando um fenômeno começa a acenar tornar-se
insuportável - como é o caso agora - o acirramento dos ânimos cresce em
decibéis, e a exemplo de alguém de fora que, de repente, se precata que se
principia a falar alto demais, lhe sobrevém no rosto e nos olhos, em especial,
uma espécie de constrição, como se o personagem está - ou a falar alto demais -
ou a dizer coisas e juízos, que tendam progressivamente a soar de forma que vai
aos poucos se acercando de uma postura agressiva e estridente, no que se
aproxima rápido ou do descontrole, ou de opiniões que não mais pareçam
comparar-se com atitudes de um passado relativamente próximo.
Em
metafórica discussão entre leitor e
as colunas de jornal que lhes são transmitidas através da nuvem das
comunicações vem-se tornando marcada e sensível a diferença e, sobretudo, a
distância entre o que separa a principal autoridade americana e o que deveria
ser o seu público.
Distingue-se
através do éter que não há, em grande parte desse público e a autoridade
presidencial um discurso se possa se considerar comum, ou que tenda a ser
intuído como decorrente de premissas similares. E, sem embargo, quando o
morador da Casa Branca se dirige ao Povo, valendo-se das metáforas de
conexão que torna tal comunicação
possível dentro de seu sentido mais lato - o que se é de presumir será que tal
discurso esteja sintonizado no que tange em geral às ideias e sensações várias da opinião pública
estadunidense, e de suas tradições em termos de costumes políticos.
Desperta por
conseguinte mais do que a sensação de absorção e compreensão, e sim a
contraparte, em reação marcada por juízos que vão num crescendo de
desconforto à medida que a resposta da sociedade tenda a esgarçar-se sempre
mais, enquanto a coletividade americana se dá conta da crescente dissonância em termos de atitudes e de
reações numa escala de respostas que se
vai desfibrilando de forma progressiva,em o que se reflete crescente impossibilidade de consonância, o que para muitos comprovaria a virtual incapacidade de a liderança poder vir
a refletir um senso comum, ou pelo
menos aglutinador, que corresponda ao sentir generalizado não da malta, ou de
sua faixa externa e extremada, mas de
uma postura que possa ser comparável a outros momentos históricos da
coletividade americana, em que a liderança representada pela Casa Branca expressa
juízo sobre uma realidade determinada que não pode ser confundido com outras
reações comunitárias, eis que a interpretação dada pela chefia proporciona à
sociedade uma resposta coerente e conforme à realidade de prática democrática nacional,
e não uma eventual dissonância que só aglutine interpretações radicais que, uma
vez enfeixadas, mais se afastam do sentir comum diante da crise, e das
eventuais respostas, que tenderiam a ser aceitas por uma coalizão pública
crescentemente majoritária.
( Fonte: The New
York Times )
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