É decerto uma ironia
cruel que o desmatamento de nossas florestas possa aumentar muito além do
suportável, se as pessoas jurídicas
responsáveis agirem de forma a deixar a responsabilidade sob o alvitre dos
chamados negacionistas de uma crise ecológica na Amazônia.
A respeito, o Estado resume o desafio
dessa crise artificial (porque criada por uma estranha posição do Governo
Bolsonaro) nesse parágrafo inicial de matéria sob o título "Estados buscam doador europeu contra
desmate: Após decisão do governo
federal de paralisar as ações do Fundo Amazônia, sob justificativa de que teria
encontrado supos-tas irregularidades na condução do programa pelo BNDES, os
maiores Estados da Região Norte passaram a buscar parcerias diretas com
doadores internacionais para financiar ações de combate ao desmatamento. Há generalizado consenso de que a devastação
avança e que faltam recursos para fiscalizar e proteger a floresta"
Cientes do perigo de que corre a hyléa
amazônica, diante das ações - ou melhor dizendo - da falta de ações, conjugadas
com exonerações clamorosas como a do conceituado cientista presidente do INPE,
Ricardo Galvão - o que pode ser
definido metaforicamente como o início da temporada de caça das autoridades
ambientalistas - representantes da Alemanha e da Noruega, os maiores doadores
do Fundo, se reuniram com integrantes desses Estados - abaixo assinalados -
para discutir alternativas de repasses diretos, sem a necessidade de passar
pelo governo Bolsonaro. Tais encontros e
discus-sões foram confirmados pelos governadores do Pará, Amazonas e Mato
Grosso - que estão na área de influência da floresta e integram a chamada
Amazônia Legal.
Como é noto, criado em 2007, o Fundo
Amazônia é um programa de primária responsabilidade do Governo Federal, em
parceria direta com os citados países
europeus. Diante, como é do geral conhecimento, da estranha atitude
negacionista da nova Administração Federal (Governo Bolsonaro), e a consequente
possibilidade de que o acordo acabar por virtual desídia de uma das Partes veio
a acender um alerta nos Estados diretamente interessados, que ora analisam a
possibilidade de abrir um canal direto com os doadores internacionais, inclusive
sem a participação do BNDES.
Fazendo das tripas coração,. os
recursos - consoante avaliam as autoridades estaduais conscientes da gravidade
do problema - poderiam ser direcionados, inclusive, a instituições financeiras
estaduais, como o Banco da Amazônia (Basa) e o Banco do Pará. "Tudo está em aberto. São
possibilidades", nesse sentido afirma o governador paraense, Hélder
Barbalho (MDB).
Dada a relevância da matéria e
o insigne senso de responsabilidade das autoridades estaduais, transcrevo na
íntegra, a assertiva do governador
Barbalho. "Temos de buscar alternativas econômicas que possam garantir a
sustentabilidade da floresta em pé. Está muito claro que Alemanha e Noruega
estão buscando parceiros. Nós temos o
desejo e a demanda. Se isso será feito por meio de uma articulação federal, não
somos contrários a isso. Agora, nós não
vamos ficar a reboque disso", disse Barba-lho. "Já temos parceria com
a Alemanha. Agora, estamos consolidando uma agenda para fazer um road
show com a Noruega, que possa
permitir a formalização de nossas parcerias."
Dentro do mesmo escopo, em
junho, o governo do Estado do Pará assinou um contrato de contribuição financeira direta com o Banco
de Desenvolvimento Alemão KFW - o mesmo que faz as doações por meio do Fundo
Amazônia - no valor de Euros 12,5
milhões (R$ 55,2 milhões). Qual é o objetivo desse acordo: redução do
desmatamento, com ações para o fortalecimento do licenciamento, monitoramento e
fiscalização , e para desconcentração da gestão ambiental no Pará. "Nosso
desejo é que o Fundo Amazônia continue e que seja fortalecido. Não adianta o
Governo Federal ficar discutindo dados. É fato que há uma expansão de
desmatamento", completou o governa-dor
Barbalho.
Paralelamente ao Fundo Amazônia,
Alemanha e Reino Unido têm realizado convênio pontuais com Estados da região,
para financiar iniciativas de combate ao desmate. Esses, no entanto, estão longe do potencial
dos R$ 3,4 bilhões doados a fundo perdido,
pela Noruega (94%) e Alemanha (5,5%). Por isso, os Estados consideram
crucial a continuidade do acesso aos recursos, mesmo sem a participação
federal.
"Essa situação de paralisia do Fundo
Amazônia por causa desses embates é algo que nos preocupa muito, porque há uma urgência em utilizarmos recursos, não
apenas para proteger, mas para conservar", disse Wilson Lima (PSC), governador do Amazonas. "Os investimentos do Fundo Amazônia
precisam estar mais próximos dos principais interessados, que é quem mora na
Amazônia."
O governador Lima,
do Amazonas, disse que tem buscado ampliar os investimentos com o banco KFW e com outros apoiadores internacionais que tenham em ajudar na proteção da Amazônia."
Lima disse que tem
buscado ampliar os investimentos com o banco KFW e com outros apoiadores
internacionais que tenham interesse em ajudar na proteção da Amazônia. "Respeitamos
essa questão do Governo Federal, mas a gente vai, na medida do possível
estabelecendo essas parcerias internacionais, entendendo o que é prioridade
dentro de nossa política pública"
2. A
gestão do Fundo Amazônia virou foco de crise desde maio, quando o Ministro do
Meio Ambiente, Ricardo Salles, declarou ter encontrado "fragilidades na
governança e implementação" dos projetos em contratações feitas pelo
BNDES. A diretoria responsável pela execução do programa no banco foi
afastada, o ue resultou em protestos dos servidores e pedidos de exoneração.
O governo
anunciou que apresentaria as irregularidades e proporia uma nova estrutura de
operação. Até hoje, porém essa nova estrutura não foi detalhada e não há
previsão de um novo acordo. "Estamos tocando nossas ações internas e temos
buscado construir pontes diretas com algum tipo de mecanismo ou organismo que
possa nos ajudar, seja pelo Fundo Amazônia, ou outras iniciativas", disse
Mauro Mendes (DEM), governador do Mato Grosso. "Tenho recebido
embaixadores da Noruega, Reino Unido, Alemanha, Chile e Luxemburgo". Mato Grosso também já recebeu valores do
Banco Alemão KFW.
Questionada sobre o tema, a
embaixada da Noruega declarou que "ainda" não há parcerias diretas
firmadas com os Estados da área de influência da Amazônia. A embaixada alemã
informou que não iria comentar. Ricardo Salles disse que "os Estados têm
todo o direito de fazer isso (parcerias diretas)". "Espero que
obtenham o máximo de recursos possível."
O ministro disse achar possível chegar a um acordo com a Noruega.
Os
governos da Noruega e da Alemanha afirmam que nunca encontraram problema na
gestão do fundo. O do Brasil, porém, insiste que há irregularidades e critica duramente a participação de ONGs nas ações promovidas nos Estados. O
argumento é que a maior parte dos recursos seria usada para pagar funcionários
de organizações, em vez de ir
diretamente para o combate ao desmatamento.
Problemas de relacionamento.
Na semana
passada, as relações entre o governo brasileiro e o da Noruega se desgastaram
ainda mais. Em audiência na Câmara de
Deputados, Salles disse que os
noruegueses não podiam criticar o Brasil, porque tinham passivos ambientais
graves,como explorar petróleo no Ártico e caçar baleias. O país reagiu e declarou que sua indústria
petrolífera "é lider global em padrões de saúde, segurança e proteção
ambiental" e que suas atividades petrolíferas "estão entre as mais
limpas do mundo".
A decisão dos governos estaduais de
buscar acordos diretos com os países europeus ocorre no momento em que o
presidente Bolsonaro enfrenta séria resistência internacional por causa dos
altos índices de desmatamento recém-divulgados. Internamente, a visão do Palácio do Planalto
em relação à questão ambiental não é vista como um bom negócio pelos
Governadores, que buscam saídas para a falta de recursos especialmente em áreas
carentes da floresta.
Os
governadores do Amazonas e de Mato Grosso são alinha-dos com políticas de
Bolsonaro e procuram manter diálogo com o Planalto.. No Pará, ao contrário, Helder
|Barbalho foi um dos governadores que, no segundo turno da eleição de
2018, adotaram postura neutra e, por conseguinte, não apoiaram o então candidato do
PSL, Jair Bolsonaro.
(
Fonte: O Estado de S.
Paulo; dada a complexidade do tema se preferiu a transcrição para respeitar as eventuais matizes das posições envolvidas )
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