Será
sempre um prazer ler Eliane Cantanhêde?
Eu, na minha modesta posição de blogueiro respondo com um tranquilo sim, porque no Estadão tenho a oportunidade de ouvir essa voz que, se não está no
deserto, não se ouvem nem lêem tantas assim, com a sua percepção, franqueza,
habilidade (eis que os aspectos negativos devem ser expostos, mas com a segurança de quem os entende em
todas as suas conexões) e a coragem sem estardalhaço, dir-se-ía até discreta
por vezes, mas ao cabo firme, como as assertivas que discrepam das várias
colunas de tantos outros diários...
A
Cantanhêde não a conheço nem de vista, nem de chapéu, se a antiga frase é ainda
cabível, mas tenho de longe lhe seguido
o percurso, hoje no Estadão. Outro jornalão de São Paulo, que ainda está
muito vivo e em outra posição - o que é deveras produtivo, se se tiver presente
o choque e o entrechoque das ideias, já
há algum tempo, a ela que não por prêmio pretendia, pensou que teria chegado o
tempo de dar oportunidade a outrem, e cometeu para muitos - entre os quais
esse modesto leitor - o erro de
prescindir de seus serviços tão profissionais, quanto do respectivo
conhecimento e vivência política.
Não trepidando em dispensar-lhe os serviços profissionais, ainda que
assinala-dos por capacidade, coragem e convicção, sem o querer, a Folha proporcionou as necessárias condições para que a
Cantanhêde luzisse com o seu tino profissional nas páginas de O Estado de S. Paulo.
Graças, dessarte, à capacidade da jornalista, os leitores do Estadão
encontram nos comentários sobre Política observações tão oportunas, quanto
apropriadas, que não raro surpreendem não pela sua existência quanto pela
circunstância de omissões que, na pressa com que muitos acompanham a imprensa,
pode levá-lo àquela homenagem, na aparência singela, e que é feita àqueles
trabalhos que mais dizem de o
quanto neles esteja escrito. Nesse
contexto, cabe menção especial à sua coluna sobre Impessoalidade, um tema difícil e delicado, porém tratado com
maestria por essa grande profissional da imprensa.
Outra coluna sua lembra a música de Chico Buarque de Hollanda, e as
pedras jogadas na Geni. Mas a sua postura - e não poderia deixar de sê-lo - é
em defesa do herói da véspera. E se
permitem, cabe transcrever algumas linhas da coluna desta sexta: " (o)
derrotado nesses três exemplos é sempre Sérgio Moro, que deixou de ser
superministro e troféu. Perdeu o Coaf,
fundamental contra a lavagem de dinheiro, perdeu o direito de nomear metade
dos integrantes do Cade, vê o
presidente metendo a mão na PF, e, em vez de aprovar seu pacote anticorrupção e anticrime, tem de
engolir goela abaixo o oposto: a lei do abuso, com alta carga de
subjetividade."
Ao final, a propósito dessa estranha revirada, a colunista se pergunta:
"Por que agora e tâo rápido? E por
que engavetar as dez medidas contra a corrupção, depois o pacote Moro e colocar
no lugar justamente o oposto? A resposta é clara: a gangorra inverteu. A Lava-Jato perdeu fôlego, as forças
inimigas dela se fortaleceram. Não se combate a corrupção, combate-se quem e o
que combate a corrupção. Isso pode sair muito caro, inclusive
internacionalmente."
(
Fonte: coluna da Cantanhêde no Estado de S. Paulo, a 16 de agosto corrente )
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