Da
coluna de Salvador Nogueira, julgo relevante registrar -lhe o parecer no caso
do episódio do INPE. "É
assustador quando o 'bullying' vira política de estado. Não
há outra maneira de definir a decisão do presidente de exonerar o diretor do
INPE, Ricardo Galvão. Mas fica também a lição que se aprende na escola: não
podemos nos deixar intimidar pelos
valentões.
"Nem percamos tempo fingindo que foi o ministro Marcos Pontes quem
tomou a decisão, porque o único papel dele no episódio, lamentavelmente, foi
de capacho, subserviente aos desígnios farsescos que reinam no andar de cima.
(...) A diferença dessa para outras frituras, foi a altivez e a convicção do
friturado. O diretor do Inpe perdeu zero segundos se perguntando se deveria aguentar
calado às ofensas ou responder à altura o valentão da escola, alçado ao cargo
mais importante do país, de onde se julga, de forma ilusória, supremo.
"Galvão optou pelo caminho da ciência, pautado pelas boas práticas
que trouxeram uma sequência exponencial
de progressos para a civilização. Fez a defesa técnica e moral de seu trabalho
e de sua instituição, e chamou a atitude do presidente que nenhum dicionário
reprovaria: pusilânime e covarde.
"Essa foi a novidade. Alguém topou
enfrentar o valentão.
" O desfecho era mais do que previsível. Num sinal de que ainda
resta alguma civilidade (e a luta é diária para não nos desapegarmos dela)
terminou apenas exonerado. Noutros tempos, poderia ter sido pior.
" Fica o exemplo a ser seguido, não só pelos servidores do Inpe,
mas por todos os cientistas do Brasil. É um pedido: não abandonem a verdade
dos fatos em nome de conveniências, quaisquer que sejam.
"Fingir que fatos e dados
não existem, que estão errados, ou que são fabricados, não resolverá o problema
do desmate, das mudanças climáticas, do desemprego, da fome, de massacres
indígenas ou de qual-quer outra chaga sócio-ambiental. O único caminho para
políticas públicas eficientes é o que passa pelo diagnóstico correto dos
problemas. Numa democracia de verdade, isso necessariamente se faz diante dos
olhos da sociedade. (...)
"Este foi apenas mais um round na luta exaustiva contra o
obscurantismo (que ocupou o Planalto, mas vai além dele). Haverá outros.
"Que os próximos
sejam enfrentados com a mesma altivez com que Galvão, em nome da verdade,
encarou o bullying do
presidente."
(
Fonte: Folha de S. Paulo )
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