quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Amazônia em Chamas


                                

       O  título deste blog não é uma imagem retórica, mas corresponde a uma triste realidade, já anunciada pela exoneração do  diretor-presidente do INPE.  Não por acaso o governo do Brasil, por vez primeira em nossa história, rejeita o auxílio tradicional da Alemanha (US$ 500 milhões) e da Noruega (US$ trezentos milhões) para o combate aos criminosos incêndios da Hiléia amazônica.  Essas duas nações amigas do Brasil destinaram tais vultosas doações com vistas à preservação de uma das nossas maiores riquezas naturais, cuja relevância já ecoa no mundo civilizado desde a famosa viagem do barão Alexander von Humboldt[i] ao novo mundo, que incluíu a sua expedição à Amazônia que por primeira vez, no círculo científico, escreveu sobre a floresta amazônica, cunhando, para glória de seu nome, o termo Hyläa como designação dessa região de mata cerrada que está em grande parte na Amazônia brasileira, em que se refere a essa área continental, caracterizada pela gigantesca floresta nessa região  com altos niveis pluviométricos (regenreiche).        
       A RFA não concedera até o presente esse vultoso donativo por circunstâncias específicas à terra brasileira, mas sim dando seguimento a uma política também nacional em que se empenha em preservar as florestas teutônicas. É de notar-se o particular êxito dessa orientação em território germânico, a ponto de que a  extensão da área florestal atual é superior em termos da extensão das áreas ocupadas por esse tipo de vegetação nessas mesmas regiões no passado, o que assinala o notável esforço desse governo e de seu povo, com os seus conhecidos empenho e  proficiência para a implementação de tarefa em que se ressalta a participação não só do governo mas também de entidades privadas e da própria população germânica com sua renomada Tuechtigkeit (eficiência)
             Como seria de prever-se, dada a atitude do Governo Bolsonaro, em meio ao aumento notório de queimadas registradas pelo Inpe, estados da Amazônia vem tentando com os seus não abundantes meios disponíveis adotar medidas para enfrentar os efeitos da fumaça que atinge  capitais e cidades dessa região.
               No Amazonas - que teve mais de sete mil focos de incêndio em 2019 - o governo estadual montou um gabinete de crise para monitorar a situação, que tende a piorar a partir do próximo setembro. Já no Acre, as autoridades locais vão discutir nos próximos dias a possibilidade de decretar situação de calamidade.
                 É de assinalar-se, outrossim,  que segundo dados do programa de queimadas do Inpe, que usa imagens de satélite para monitorar os focos de calor no país, há um aumento de 83% no número de incêndios florestais no Brasil, entre 1º de janeiro e 19 de agosto de 2019, com relação ao mesmo período de 2018.
                  Assim, o Amazonas está em terceiro lugar no ranking das queimadas em 2019. Entre 2018 e 2019, esse Estado registrou um marcado aumento de 146% no número de incêndios florestais.
                   Consoante o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) o aumento das queimadas na floresta não pode ser só atribuído ao período seco, já que a estiagem  do corrente ano está mais branda do que a de anos anteriores.  É oportuno transcrever a observação dos pesquisadores do Ipam: " As chamas costumam seguir o rastro do desmatamento: quanto mais derrubada, maior o número de focos de calor."
                     Nesse sentido, se confirma a lógica primitiva do desmatamento: os dez municípios amazônicos que mais registraram focos de incêndio, foram também os que tiveram maiores taxas de desmatamento.
                       Essa lógica predatória se reflete na situação particularmente crítica no Sul do Amazonas. Acicatado pelo intento de ampliar a própria agricultura, o avanço da fronteira agrícola vem provocando, ao longo dos anos, o incremento dos casos de "incêndios florestais".  Na verdade são gigantescas queimadas ilegais cuja progressão vem sendo combatida, com os meios disponíveis, pelo gabinete de crise estadual.  Está igualmente prevista operação para  multar proprietários de terra responsáveis pelas referidas queimadas, consoante referiu o governador Wilson Lima (PSC).
                           O problema dos incêndios oportunistas espouca também no Acre, em que, na semana passada, o governador Gladson Cameli (PP) decretou estado de alerta ambiental. Conforme o Inpe, o Acre registrou entre 2018 e 2019 um incremento de 197% no número de incêndios florestais entre 2018 e 2019.
                             De acordo com alerta epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde do Acre,  29,4 mil pessoas foram atendidas entre janeiro e a primeira semana de agosto com doenças respiratórias.
                              É de assinalar-se, outrossim, que o calor das queimadas no Centro-Oeste e no Norte produziu um céu plúmbeo no Sudeste, segunda-feira, dezenove de agosto. Segundo o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas na Amazônia, observa que o céu negro - que transformou o dia em noite na cidade de São Paulo - é fruto de um fenômeno ótico criado pelo encontro da pluma de fuligem, ou particulados  das queimadas, com uma frente fria.
                                 Segundo ainda referiu o grande especialista em Amazônia, o acima citado Carlos Nobre - o céu negro que transformou o dia em noite em São Paulo é fruto de um fenômeno ótico criado pelo encontro da pluma de fuligem, ou particulados das queimadas, com uma frente fria..
                                    É ainda o grande conhecedor que nos diz: " Excepcional foi a combinação com a frente fria. Ela gerou um fenômeno ótico, que escureceu o céu. Mas a fuligem dos particulados  das queimadas do Cerrado e de certas partes da Amazônia passa com frequência pela capital. O entardecer particularmente avermelhado, comum nesta época, é criado pelos particulados na atmosfera."
                                        Tampouco se deve esquecer que as queimadas afetam também a saúde de quem vive no Sudeste. Segundo assinala o artigo de Ana Lúcia Azevedo e Leandro Prazeres, de O Globo,  um estudo da USP  já comprovou a relação entre as queimadas amazônicas e  o aumento de poluição no Sudeste.
                                           Dessarte, a poluição das queimadas viaja pela atmosfera por milhares de quilômetros e se derrama por toda a América do Sul.  O pior componente é material particulado, a fuligem ou carbono negro. Ele penetra nos alvéolos do pulmão e segue seu caminho adentro do corpo pelo sangue.  Assim, ele leva as cinzas da floresta amazônica ao morador do Rio de Janeiro e de São Paulo.

( Fonte: O  Globo - Amazônia em Chamas )



[i] Alexander von Humboldt (Berlin 14.IX.1769 - 6.V.1859)

































                                           




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