O título deste blog não é uma imagem retórica, mas corresponde a uma triste
realidade, já anunciada pela exoneração do
diretor-presidente do INPE. Não
por acaso o governo do Brasil, por vez primeira em nossa história, rejeita o
auxílio tradicional da Alemanha (US$ 500 milhões) e da Noruega (US$ trezentos
milhões) para o combate aos criminosos incêndios da Hiléia amazônica. Essas duas nações amigas do Brasil destinaram
tais vultosas doações com vistas à preservação de uma das nossas maiores
riquezas naturais, cuja relevância já ecoa no mundo civilizado desde a famosa
viagem do barão Alexander von Humboldt[i]
ao novo mundo, que incluíu a sua expedição à Amazônia que por primeira vez, no
círculo científico, escreveu sobre a floresta amazônica, cunhando, para glória
de seu nome, o termo Hyläa como
designação dessa região de mata cerrada que está em grande parte na Amazônia
brasileira, em que se refere a essa área continental, caracterizada pela
gigantesca floresta nessa região com
altos niveis pluviométricos (regenreiche).
A RFA não concedera até
o presente esse vultoso donativo por circunstâncias específicas à terra
brasileira, mas sim dando seguimento a uma política também nacional em que se
empenha em preservar as florestas teutônicas. É de notar-se o particular êxito
dessa orientação em território germânico, a ponto de que a extensão da área florestal atual é superior em
termos da extensão das áreas ocupadas por esse tipo de vegetação nessas mesmas regiões
no passado, o que assinala o notável esforço desse governo e de seu povo, com os
seus conhecidos empenho e proficiência
para a implementação de tarefa em que se ressalta a participação não só do
governo mas também de entidades privadas e da própria população germânica com
sua renomada Tuechtigkeit (eficiência)
Como seria de
prever-se, dada a atitude do Governo Bolsonaro, em meio ao aumento notório de
queimadas registradas pelo Inpe, estados da Amazônia vem tentando com os seus
não abundantes meios disponíveis adotar medidas para enfrentar os efeitos da
fumaça que atinge capitais e cidades dessa
região.
No Amazonas - que teve mais de
sete mil focos de incêndio em 2019 - o governo estadual montou um gabinete de
crise para monitorar a situação, que tende a piorar a partir do próximo
setembro. Já no Acre, as autoridades locais vão discutir nos próximos dias a
possibilidade de decretar situação de calamidade.
É de assinalar-se,
outrossim, que segundo dados do programa
de queimadas do Inpe, que usa imagens de satélite para monitorar os focos de
calor no país, há um aumento de 83% no número de incêndios florestais no
Brasil, entre 1º de janeiro e 19 de agosto de 2019, com relação ao mesmo
período de 2018.
Assim, o Amazonas está em terceiro
lugar no ranking das queimadas em
2019. Entre 2018 e 2019, esse Estado registrou um marcado aumento de 146% no
número de incêndios florestais.
Consoante o Instituto de
Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) o aumento das queimadas na floresta não
pode ser só atribuído ao período seco, já que a estiagem do corrente ano está mais branda do que a de
anos anteriores. É oportuno transcrever
a observação dos pesquisadores do Ipam: " As chamas costumam seguir o
rastro do desmatamento: quanto mais derrubada, maior o número de focos de calor."
Nesse sentido, se confirma
a lógica primitiva do desmatamento: os dez municípios amazônicos que mais
registraram focos de incêndio, foram também os que tiveram maiores taxas de
desmatamento.
Essa lógica predatória
se reflete na situação particularmente crítica no Sul do Amazonas. Acicatado
pelo intento de ampliar a própria agricultura, o avanço da fronteira agrícola
vem provocando, ao longo dos anos, o incremento dos casos de "incêndios
florestais". Na verdade são
gigantescas queimadas ilegais cuja progressão vem sendo combatida, com os meios
disponíveis, pelo gabinete de crise estadual.
Está igualmente prevista operação para
multar proprietários de terra responsáveis pelas referidas queimadas,
consoante referiu o governador Wilson Lima (PSC).
O problema dos
incêndios oportunistas espouca também no Acre, em que, na semana passada, o
governador Gladson Cameli (PP) decretou estado de alerta ambiental. Conforme o
Inpe, o Acre registrou entre 2018 e 2019 um incremento de 197% no número de
incêndios florestais entre 2018 e 2019.
De acordo com
alerta epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde do
Acre, 29,4 mil pessoas foram atendidas
entre janeiro e a primeira semana de agosto com doenças respiratórias.
É de
assinalar-se, outrossim, que o calor das queimadas no Centro-Oeste e no Norte
produziu um céu plúmbeo no Sudeste, segunda-feira, dezenove de agosto. Segundo
o climatologista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas na Amazônia, observa
que o céu negro - que transformou o dia em noite na cidade de São Paulo - é
fruto de um fenômeno ótico criado pelo encontro da pluma de fuligem, ou
particulados das queimadas, com uma
frente fria.
Segundo ainda
referiu o grande especialista em Amazônia, o acima citado Carlos Nobre - o céu
negro que transformou o dia em noite em São Paulo é fruto de um fenômeno ótico
criado pelo encontro da pluma de
fuligem, ou particulados das queimadas, com uma frente fria..
É ainda o
grande conhecedor que nos diz: " Excepcional foi a combinação com a frente
fria. Ela gerou um fenômeno ótico, que escureceu o céu. Mas a fuligem dos
particulados das queimadas do Cerrado e
de certas partes da Amazônia passa com frequência pela capital. O entardecer
particularmente avermelhado, comum nesta época, é criado pelos particulados na
atmosfera."
Tampouco
se deve esquecer que as queimadas afetam também a saúde de quem vive no
Sudeste. Segundo assinala o artigo de Ana Lúcia Azevedo e Leandro Prazeres, de
O Globo, um estudo da USP já comprovou a relação entre as queimadas
amazônicas e o aumento de poluição no
Sudeste.
Dessarte, a poluição das queimadas
viaja pela atmosfera por milhares de quilômetros e se derrama por toda a
América do Sul. O pior componente é
material particulado, a fuligem ou carbono negro. Ele penetra nos alvéolos do
pulmão e segue seu caminho adentro do corpo pelo sangue. Assim, ele leva as cinzas da floresta
amazônica ao morador do Rio de Janeiro e de São Paulo.
( Fonte: O Globo - Amazônia em Chamas )
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