quarta-feira, 14 de agosto de 2019

São ainda toleráveis barragens tipo Brumadinho ?


            
          O Estado de S. Paulo noticia, em primeira página, que resolução da Agência Nacional de Mineração adia de 2021 para até 2027 o prazo para o fim definitivo de barragens a montante no País, vale dizer o mesmo tipo daquelas que desabaram  em  Brumadinho e Mariana.  Assinale-se que o Brasil tem 61 estruturas desse gênero, que deviam ser afastadas de pronto, para que essa pessoa jurídica tome vergonha e se atua-lize nas defesas que devam ser adotadas para proteger trabalhadores que decerto não merecem estar para sempre condenados a serem levados - ou pior, engulidos - pelos violentos processos de desfazimento deste tipo obsoleto de barragem que já devia ter sido declarado perempto pelos órgãos públicos do Estado brasileiro, que carecem de estar mais atentos aos avanços da tecnologia e, sobretudo, devido ao respeito que é devido ao trabalhador...
            Será comovente,acaso, a  facilidade com que a dita Agência Nacional de Mineração vem a público para inteirar o Povo brasileiro de que ela, uma vez mais, resolveu ceder às instâncias da Vale do Rio Doce ou de outra mineradora da vez?
            Temos bem presente as mineradoras representadas por uma empresa prestanome no desastre ecológico - que também levou não poucos infelizes - e trouxe enormes danos à bacia do rio Doce - reporto-me, parece evidente, ao "ocorrido com a barragem em Mariana", que se desfez os casebres  a jusante da barragem, tinha um estranhíssimo "alarme", que se transmitia - é difícil de crer na indiferença dessa burocracia  que tinha   o alarme a emergência reservado a uma pífia linha telefônica.  Mariana foi o aviso, com as três grandes mineradoras unidas em uma espécie de acróstico (Samarco, se não me engano) que melhor lhes preservasse  as necessárias seguranças jurídicas. Em comparação a, na aparência inocente, barragem de Brumadinho, que tantas mortes - mais de qui-nhentas ao que parece, de muitos jovens mineiros, que pensavam matar a fome, para na verdade serem deglutidos por bárbara, anacrônica corrente de lama e pedregulhos que lhes "brindou" com estúpido trucidamento, que de tão forte,  violento e sobretudo tão destruidor, que deixou muitos restos mortais que só podem ser identificados na peculiar e estranha forma reservada àqueles infelizes que trucidados por  brutais forças, semelham muito difíceis de serem que dizer reconhecidos, na verdade  identificados  por processo digital, que amiúde mal alcança reconhecer-lhes como seres humanos.
               Se o Brasil fosse país aonde se respeitasse o trabalhador, o minerador, e todo aquele empenhado em trabalhos de campo, não se deveria admitir que essas arcaicas, superadas barragens a montante venham a ter de forma acintosa e mesmo arrogante a sua  existência prorrogada. As mineradoras já fizeram a sua colheita, seja no vale do Rio Doce, seja no entorno de Brumadinho, nas Minas Gerais. 
               É mais do que hora de gritar um Basta!
                  Você, brasileiro, que lê essas linhas de um cidadão que está preocupado com a reincidência das grandes mineradoras - tipo Vale do Rio Doce - que continuam a cinicamente procederem como se nada houvera, e que tudo esteja na Santa paz do Senhor. Essa insistência em um tipo de barragem que os desastres ecológicos que já ceifaram a sua colheita infame de seres humanos e, quando não, em condenar terrenos férteis a longas esperas, determinadas pelo arrogante menosprezo aos avisos do passado recente, de que esse tipo de barragem constitui mais do que um acinte ao Povo brasileiro, em verdade uma vergonha e um crime, que deveriam ser punidos diante da reiterada indiferença quanto aos direitos de nossa gente - geralmente humilde - em não ser submetida a esse tipo de uma máquina do tempo mantida sob o jugo dos arcaísmos mais egoístas e, em crua  verdade, criminosos, porque as suas deletérias consequências são bem conhecidas, a par das ignóbeis razões que motivam a permanência em tal estado das barragens respectivas, o que só pode ser "explicado" por uma criminosa postura  que - sinceramente esperaríamos - houvesse sido erroneamente assumida.
                        Mas como crer nessa atitude, que se vê prorrogada, na sua arrogância fundada em capital de milhões de reais como se nada houvera ?
                         Não creio possível que a autoridade, tanto no jurídico, quanto no polí-tico, continue a manter essa olímpica postura, a quem custa acreditar  possa continuar a aferrar-se a tal indiferença, como se o passado fosse ainda presente, e a visão de um futuro de justiça e igualdade de oportuni-dades devesse ser para sempre mantida no ter-reno das esperanças do por vir, a que, com crescente acinte, se persiste em conservar nos páramos de um Brasil de justiça cidadã, que pelo ver de muita gente ainda carece de esperar?
                            Por quanto tempo ainda carecerá à gente do campo esperar, embalados por promessas que sempre sóem acompanhar tragédias reais, e que os anos vêem passar na morosidade das pomposas burocracias estatais, sem que, como em tantas outras ter-ras, tudo venha a mudar, de modo que ao cabo as condições prevalentes venham a assegurar, com secular arrogância, que em verdade nada mude ?
                             Será que ao interior do Brasil está assegurada a pomposa permanência de um pernicioso status quo, de modo a garantir, como na frase célebre, para que tudo pareça mudar, com o escopo de que, na verdade, nada realmente mude ?

( Fonte: O Estado de S. Paulo )

Nenhum comentário: