O
Estado de S. Paulo noticia, em primeira página, que resolução da Agência
Nacional de Mineração adia de 2021 para até 2027 o prazo para o fim definitivo
de barragens a montante no
País, vale dizer o mesmo tipo daquelas que desabaram em
Brumadinho e Mariana. Assinale-se
que o Brasil tem 61 estruturas desse
gênero, que deviam ser afastadas de pronto, para que essa pessoa jurídica tome
vergonha e se atua-lize nas defesas que devam ser adotadas para proteger
trabalhadores que decerto não merecem estar para sempre condenados a serem
levados - ou pior, engulidos - pelos violentos processos de desfazimento deste
tipo obsoleto de barragem que já devia ter sido declarado perempto pelos órgãos
públicos do Estado brasileiro, que carecem de estar mais atentos aos avanços da
tecnologia e, sobretudo, devido ao respeito que é devido ao trabalhador...
Será comovente,acaso, a facilidade com que a dita Agência Nacional de
Mineração vem a público para inteirar o Povo brasileiro de que ela, uma vez
mais, resolveu ceder às instâncias da Vale do Rio Doce ou de outra mineradora
da vez?
Temos
bem presente as mineradoras representadas por uma empresa prestanome no
desastre ecológico - que também levou não poucos infelizes - e trouxe enormes
danos à bacia do rio Doce - reporto-me, parece evidente, ao "ocorrido com
a barragem em Mariana", que se desfez os casebres a jusante da barragem, tinha um estranhíssimo
"alarme", que se transmitia - é difícil de crer na indiferença dessa
burocracia que tinha o
alarme a emergência reservado a uma pífia linha telefônica. Mariana foi o aviso, com as três grandes
mineradoras unidas em uma espécie de acróstico (Samarco, se não me engano) que
melhor lhes preservasse as necessárias
seguranças jurídicas. Em comparação a, na aparência inocente, barragem de
Brumadinho, que tantas mortes - mais de qui-nhentas ao que parece, de muitos
jovens mineiros, que pensavam matar a fome, para na verdade serem deglutidos
por bárbara, anacrônica corrente de lama e pedregulhos que lhes "brindou"
com estúpido trucidamento, que de tão forte, violento e sobretudo tão destruidor, que
deixou muitos restos mortais que só podem ser identificados na peculiar e
estranha forma reservada àqueles infelizes que trucidados por brutais forças, semelham muito difíceis de
serem que dizer reconhecidos, na verdade
identificados por processo
digital, que amiúde mal alcança reconhecer-lhes como seres humanos.
Se o Brasil fosse país aonde se respeitasse o trabalhador, o minerador,
e todo aquele empenhado em trabalhos de campo, não se deveria admitir que essas
arcaicas, superadas barragens a
montante venham a ter de forma acintosa e mesmo arrogante a sua existência prorrogada. As mineradoras já
fizeram a sua colheita, seja no vale do Rio Doce, seja no entorno de
Brumadinho, nas Minas Gerais.
É mais do que hora de gritar um Basta!
Você, brasileiro, que lê essas linhas de um cidadão que está preocupado
com a reincidência das grandes mineradoras - tipo Vale do Rio Doce - que continuam a cinicamente procederem
como se nada houvera, e que tudo esteja na Santa paz do Senhor. Essa
insistência em um tipo de barragem que os desastres ecológicos que já ceifaram
a sua colheita infame de seres humanos e, quando não, em condenar terrenos
férteis a longas esperas, determinadas pelo arrogante menosprezo aos avisos
do passado recente, de que esse tipo de barragem constitui mais do que um
acinte ao Povo brasileiro, em verdade uma vergonha e um crime, que deveriam
ser punidos diante da reiterada indiferença quanto aos direitos de nossa gente -
geralmente humilde - em não ser submetida a esse tipo de uma máquina do tempo
mantida sob o jugo dos arcaísmos mais egoístas e, em crua verdade, criminosos, porque as suas deletérias
consequências são bem conhecidas, a par das ignóbeis razões que motivam a
permanência em tal estado das barragens respectivas, o que só pode ser
"explicado" por uma criminosa postura
que - sinceramente esperaríamos - houvesse sido erroneamente assumida.
Mas como crer nessa
atitude, que se vê prorrogada, na sua arrogância fundada em capital de milhões
de reais como se nada houvera ?
Não creio possível que
a autoridade, tanto no jurídico, quanto no polí-tico, continue a manter essa
olímpica postura, a quem custa acreditar
possa continuar a aferrar-se a tal indiferença, como se o passado fosse
ainda presente, e a visão de um futuro de justiça e igualdade de oportuni-dades
devesse ser para sempre mantida no ter-reno das esperanças do por vir, a que,
com crescente acinte, se persiste em conservar nos páramos de um Brasil de
justiça cidadã, que pelo ver de muita gente ainda carece de esperar?
Por quanto tempo
ainda carecerá à gente do campo esperar, embalados por promessas que sempre
sóem acompanhar tragédias reais, e que os anos vêem passar na morosidade das
pomposas burocracias estatais, sem que, como em tantas outras ter-ras, tudo
venha a mudar, de modo que ao cabo as condições prevalentes venham a assegurar,
com secular arrogância, que em verdade nada mude ?
Será que ao
interior do Brasil está assegurada a pomposa permanência de um pernicioso status quo, de modo a garantir, como na
frase célebre, para que tudo pareça mudar, com o escopo de que, na verdade,
nada realmente mude ?
( Fonte: O Estado de S. Paulo )
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