A
visita do Presidente Donald Trump a El Paso veio a apresentar - a ele e suas opiniões racistas - como alguém que se
dissocia do sentir da Nação americana, o
que também já se provara nos seus comentários sobre o expoente texano Beto
O'Rourke. Em desenvolvimento que procurei sinalizar no meu blog de ontem - O
preconceituoso em chefe - a posição racista do 45º presidente é um
traço que singulariza a postura presidencial e decerto contribui para o seu relativo
isolamento.
O mal-estar com o racismo, a sensação de que algo tenha de ser feito
para evitar que as armas continuem a chegar às mãos de pessoas que, por não
estarem preparadas, representam um autêntico perigo público e tal por uma série
de razões, a começar pela falta de qualquer legislação federal que torne as
compras de armas de repetição a pública
ameaça que elas representam. Já é mais
do que tempo de retirar da aquisição de armas o elo com a primeira América,
aquela em que a defesa dos primitivos americanos dependia das armas de fogo
para defender-se das ameaças de então, a ponto de merecerem um texto
constitucional para essa afirmação da nacionalidade em tempos que nada têm a
ver com a realidade hodierna.
Essa instrumentalização do uso
da arma, que se é inteligível nos albores da República americana, passou com o
tempo a outro gênero de papel social, com um evidente exagero em transformar a
arma como um símbolo de cidadania, a ponto de que os congressistas se tornaram
por uma série de condicionamentos virtuais prisioneiros dos mercadores de
armas, que passou a ser hipertrofiado em defesa da cidadania - ou, o que, na
realidade, seria um contexto mais adequado - a necessária exposição da
irresponsável pressão (para não empregar conceitos mais fortes e porventura
mais verazes) para ver os controles na venda de armas - ou em palavras mais
inteligíveis, para esses mercadores da
morte, que se têm servido de toda a "política" imaginável para forçar
(em muitos casos, docemente constrangidos) os expoentes políticos a olharem
para o outro lado, enquanto se procedia à liberação desse aberto comércio da
morte.
Esse "pecado"
americano é uma longa e pútrida estória, em que os massacres [1]se
sucedem através das presidências, sejam elas republicanas ou democratas, em
meio a um coro de políticos cuja duas atitudes básicas até o presente tem sido:
massacre bestial em colégio, universidade, educandário infantil, centros de
aglomeração (se a neurose do assassino em massa "precisa" de um
público ainda maior para exorcizar a própria loucura) , a que se contrapõem as
páginas nas revistas e nos jornais, numa espécie de rito de exorcização das
vítimas, enquanto o responsável direto pela matança é morto ou trancafiado em
asilo, e tudo o mais que permitiu o massacre ou a maldade expressa por armas de
grosso calibre e de grande capacidade de infligir a morte em proporções
catastróficas - tudo isso ficará restrito a um eventual culpado material, mas
não há notícia de que os grandes responsáveis que criaram as condições para
esses cataclismas anunciados não continuem a reproduzir-se de forma indisturbada. As denúncias podem
chover, mas como as chuvas de verão, elas se cingem à hipócrita pausa - que
constituiria apenas um tempo de descanso para os principais atores dessa
tragédia americana.
(
Fontes: New York Times, imprensa e filmografia americana: V. Michael Moore )
[1]
Bowling for Columbine, filme
de Michael Moore, em que se
denuncia, sob o véu da sátira, a responsabilidade da associação defensora do
direito ao uso da arma, presidida na época pelo ator Charlton Heston.
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