segunda-feira, 29 de maio de 2017

A Alemanha e o problema Trump

                      

       Angela Merkel, a Chanceler alemã, e a quem o Presidente Donald Trump se recusara, dentro de seu estilo sorrateiro, de, na Casa Branca cumprimentar com aperto de mão, a líder da reunificada Alemanha, ao regressar do encontro dos oito - e tendo presente a recentíssima reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), veio a público para afirmar a seus conacionais que "a Europa não mais pode confiar em outros". Depois da recente visita de Trump, a Chanceler não deixou dúvidas a quem ela se referia, mas acrescentou que a "Europa deve tomar o próprio destino nas suas próprias mãos".
        A Chanceler alemã não poderia oferecer repúdio mais claro e forte quanto à liderança do presidente estadunidense.
        Nesse contexto, e pescando talvez em águas turvas, temos a queridinha de Trump, a radicalizadora na implementação do brexit, i.e.,  Theresa May, a atual Primeira Ministra de Sua Majestade Britânica.
        Sentindo-se já um tanto fora da UE - os seus mais longínquos antecessores em Downing Street 10, ou se terão revirado na tumba, ou imprecado contra a falta de visão da May, que optou pela forma mais radical do afastamento do Mercado Comum, que tantos esforços consumira adentrar aos já afastados predecessores dos anos setenta, quando afinal se viram livres do veto do general de Gaulle - a May dentre as várias opções à disposição, preferiu o divórcio radical, cortando muitas possibilidades de manutenção de laços, que poderiam ser de grande serventia aos insulares ingleses.
            Por isso, ela já é havida  como uma 'mole', i.e. alguém que não hesitaria em divulgar informes que poderiam ser danosos para a União Européia.
            A próxima eleição, convocada por Theresa May para dispor de confortável maioria, pode sair-lhe pela culatra, seja com  vitória pouco expressiva, seja com a afirmação de Jeremy Corbin, o líder trabalhista, o que tornaria o quadro da negociação do brexit ainda mais confuso.                 
            Entrementes, a saída do Reino Unido pode levar a uma espécie de diarquia de Alemanha e França na União Européia. A tal respeito, Emmanuel  Macron tem dado muitas indicações de que apoiará  Merkel.
            Indicativos da disposição filo-germânica do novo presidente francês estão no seu especial cuidado em  designar para os postos ministeriais que mais tenham a ver com a RFA personalidades francesas que estejam bem inteiradas das questões ligadas à Alemanha, e que inclusive  dominem o idioma de Goethe.
             A postura radical de Donald Trump, ao negar-se a assumir encargos que pela ordem natural das coisas caberiam à Superpotência em circunstâncias ditas normais, tende de certo modo a dar uma nova imagem aos Estados Unidos, como se o tão falado decline (declínio), que terá resultado das ruinosas campanhas da presidência de Bush Jr. (sobretudo a guerra no Iraque) seja um fato real, conforme vários articulistas, com George Packer à frente, tem afirmado.
             Resta a determinar quais são as causas reais desse suposto declinio americano, e se a posição do presidente Trump, com a sua insólita proximidade com a Rússia de Putin, em tantos aspectos tão heterodoxa e mesmo heteróclita, poderá contribuir para uma reação do poder americano.
            Em função das diversas questões relacionadas aos laços de Donald Trump com o Kremlin, em especial o seu líder Vladimir V. Putin, é importante ter presente a recentíssima designação pelo Senado americano de Robert S Mueller III, antigo e respeitado Diretor do FBI, para encarregar-se da investigação sobre os laços de Donald Trump com a Rússia.
             Dessarte, o enfraquecimento da liderança de Trump - refletida também nas suas posições que se afastam da linha de seus predecessores ao se dissociar, v.g., da preservação da Aliança Norte-Atlântica - é suscetível de provocar reações imprevisíveis, seja enquanto à Organização do Tratado do Atlântico Norte, seja nos seus eventuais reflexos no Continente Europeu.
            Princípio básico da política é o seu horror ao vácuo. Colocados diante de tal problema, e confirmada a sua realidade fática (o que ainda não está demonstrado) as potências interessadas tratarão de encontrar soluções aceitáveis e práticas para enfrentar o desafio.


( Fontes:  The New York Times, Washington Post,  imprensa britânica, George Packer).  

domingo, 28 de maio de 2017

O problema Trump

             
             Parece que o presidente Donald Trump está esquecendo o que significa liderar.
  
       Dentro do contexto internacional, é necessário - mais ainda do que no plano interno - o que se chamaria um pré-consenso. Em outras palavras, as partes de acordo, no caso internacional, serem movidas por princípios básicos que informam o acordo geral. Se um dos países tiver dúvidas acerca de determinados tópicos, e se este país ocupar posição de liderança,  ele carece de verificar se os demais - ou a maioria dos membros - estão dispostos a rever a respectiva posição.
        Vamos começar do mais simples. No ano passado, o Acordo Geral do Clima em Paris enfatizou que havia consenso bastante amplo quanto à validade de seus princípios.
         Por isso, diante das esdrúxulas posturas do novo governo americano - negacionista quanto ao aquecimento global e com um resoluto pé atrás em termos de medidas internacionais (e nacionais) que busquem combater fatores poluentes (como a indústria do carvão) - será mandatório reconhecer que o governo direitista republicano encimado por Trump assumiu uma postura nacional e internacional que está na contra mão de um consenso generalizado sobre a necessidade de tudo fazer para evitar que continue o desastroso incremento da temperatura média global do planeta.
         Negar o aumento global da temperatura média mundial é adotar posição insustentável sob o aspecto científico. Não estamos mais em período em que tal asserção possa ainda ser interpretada como válida. Ou se trata (a) de país atrasado, em que as ciências não recebem a atenção devida, ou então a comunidade internacional se defronta com postura de má-fé (b).
          Como não é possível incluir os Estados Unidos sob a alínea (a),  defrontamos a hipótese (b), que se aplica caso a Administração Trump se obstine na senda negacionista (ou, se recuse a assinar o Acordo Geral do Clima, firmado em Paris).
           Mas o aspecto nocivo das posturas desse governo Trump, não se limita  à questão do clima, ou ao meio ambiente em geral
            Há um outro setor, este relativamente mais complexo, em que a posição da Administração Trump, se convive filosoficamente com o negacionismo da anterior, pode a princípio parecer mais complexa, posto que na verdade ela possa ser bastante singela e até simplista nas suas premissas, que estão igualmente na contramão da História, posto que pareça aos menos avisados que ela participe do livre-arbítrio político de um novo Governo.

              Causou desconforto em líderes europeus, como Angela Merkel, que ao invés de celebrar o septuagésimo aniversário da Organização do Atlântico Norte (OTAN), Donald Trump tenha, a par de dissociar-se de premissas básicas dessa organização (em que a ameaça a um membro é uma ameaça a todos), procurou ralhar mais os membros-partícipes, do que forjar um reforço à aliança comum (que pelo visto vem funcionando a pleno contento, além de representar para os pequenos países - como aqueles que estão na faixa do estrangeiro-próximo, que é a designação que o urso russo dá àquelas nações que se inserem na sua esfera de influência).

               Só a História dirá até que ponto a Rússia prevaleceu na sua óbvia preferência por alguém que, ao contrário da maioria dos seus demais concidadãos, tem marcada preferência pela amizade com Vladimir Putin. Até hoje, resta difícil para engolir tanto a derrota de Hillary Clinton, personalidade muito mais preparada do que o adversário republicano, quanto até que ponto a sua ligação com Moscou terá sido determinante no grau da suposta intervenção russa na eleição geral americana do ano passado. Dada a garrafal diferença entre os dois candidatos, o Conselheiro especial que foi recentemente nomeado poderá avançar mais para que, com a ajuda de outros organismos, como o F.B.I., se possa talvez entender melhor porque uma personalidade tão esdrúxula quanto Trump pôde ter ganho de Hillary na votação indireta (perdeu no voto popular). É um enigma que seria muito útil decifrar, antes que ele devore os princípios básicos que norteiam a Aliança Ocidental...


( Fonte:  The New York Times )     

A Morte de Heitor (4ª Parte) Ilíada Canto XXII (405 - 515)



Ele falou e ao divino Heitor principiou a maquinar um soez tratamento. Os tendões de ambos os pés ele os penetrou do calcanhar para o tornozelo, e os firmou com tiras de couro de boi, e os amarrou à sua biga, deixando-lhe porém a cabeça para arrastar-se no chão. Então, quando ele montara no carro e para lá levantara a gloriosa armadura, estalou o próprio chicote nos cavalos, e pronto a parelha avançou à frente. E de Heitor, a quem num arranco puxaram nuvem de poeira se levantou, ambas as largas madeixas de seus negros cabelos no ar se balançavam, enquanto por inteiro a cabeça antes tão bela se afundava na areia grossa; pois Zeus o entregara aos próprios inimigos para padecer indizíveis tratamentos na sua própria terra natal.
Então lhe conspurcaram a cabeça com a grossa e suja poeira da estrada; e sua mãe, ao deparar o próprio filho,  lançou atroante berro, arrancou os cabelos e desvencilhou-se do belo luzente véu. E a horrenda visão arrancou  fundo gemido do pai amoroso, e  à sua volta o próprio povo bradava e se lamentava por toda a cidade. Mais parecia a cena de toda a Ilios como que consumida pelo fogo. E toda a gente se esfalfava em segurar o velho pai no seu frenesi, que lutava por sair pelos portões Dardânios, enquanto se arrastava na sujeira, e pedia a cada um, a quem chamava pelo nome Contenham-se, meus amigos, e permitam que com todo o próprio amor, que eu saia sozinho da cidade, e vá às naves dos Aqueus. Lá suplicarei àquele homem sem piedade, esse obreiro da violência, e que diante de seus camaradas ele se envergonhe e tenha pena da minha idade avançada. Pois essa criatura tem um pai tanto quanto eu sou, Peleus, que o procriou e o preparou para ser o flagelo dos Troianos; mas acima de todos trouxe ele a desgraça para mim. Tantos filhos meus ele matou na flor da idade. Entretanto, para todos esses eu não lamento, apesar de meu luto, quanto por esse única, profunda dor que me levará para o Hades - sim para  o querido Heitor.  Ah, se ele houvesse morrido nos meus braços; então teríamos tomado a mancheias do amargo cálice do choro e dos gemidos lancinantes, a mãe que lhe deu a luz para sua tristeza, e a mim próprio.
(429) Assim falou, enquanto chorava, a que a gente da cidade juntou a própria lamentação. E entre as mulheres de Tróia, Hécuba encabeçou a veemente lamentação."Oh Filho, que desgraça para mim! Como viverei nessa angústia sofrida, agora que estás morto? A ti que eras o meu orgulho dia e noite na cidade, e uma benção para todos, tanto para os homens, quanto para as mulheres  de Tróia, por toda a cidade, a eles que te saudavam como se fosses um deus; pois na verdade tu eras vivo para eles  glória inefável  que a todos envolvia; mas agora a morte e o destino caíram sobre ti.
Chorando, assim ela falou. Entrementes, a mulher - a esposa de Heitor - de nada sabia por enquanto. Nenhum mensageiro de ofício viera dizer-lhe que o seu marido estivesse fora dos portões. Eis que ela estava tecendo rede na parte mais adentro da casa alta, uma rede púrpura de duplo tecido, na qual ela costurava flores de cores variadas. E ela gritou para as suas ajudantes de belas tranças que pusessem o tripé grande no fogo, de modo a preparar banho quente para ele que regressava da luta diuturna -  pobre dela, de nada sabia que longe de qualquer banho Athena dos olhos faiscantes o tinha derrubado pela mão de Aquiles. Mas eis que ela ouve gritos e gemidos vindos das muralhas, de suas mãos cai a laçadeira ao chão e tremem as suas pernas. Fala então de novo para suas servas de belas tranças: "Venham cá comigo duas de vocês. Me sigam, deixe-me ver o que está acontecendo. Era a voz da honrada mãe de meu marido, e no meu próprio peito o coração pulou para minha boca, e debaixo sinto os joelhos entorpecidos. Em verdade, e muito perto, senti alguma coisa má para os filhos de Príamo. Que esteja longe de mim tal palavra, mas estou muito temerosa que para minha tristeza que o forte Aquíles não tenha afastado da cidade o destemido Heitor, que, sozinho, tenha sido lançado para a planície, e que por ora tenha posto um fim à terrível coragem que o possuía. Pois ele nunca se deixaria ficaria cercado por multidão de homens, mas preferia avançar para a frente, não cedendo a ninguém tal privilégio.
Falando desse modo, ela atravessou correndo o hall com o coração batendo como se estivera fora de si, e com ela vieram as suas ajudantes. Mas quando ela chegou à muralha e à multidão de homens, então aí se deteve e olhou, e viu então que o arrastavam impiedosamente para as naves vazias dos Aqueus. Então sobre os seus olhos caíu a negra noite, a envolveu, e ela cai para trás, e num sopro perde a consciência. Na queda, longe de sua cabeça caem a fita brilhante, a coifa, o lenço e a bordada pulseira, e o áureo véu que lhe deu Afrodite no dia em que Heitor do elmo coruscante a levou da casa de Aetio, após ter trazidos centenas de dádivas. Em torno dela, se congregaram as irmãs de seu marido e as esposas de seus irmãos, que a levaram para junto delas, abalada como estava. Quando ela recobrou os sentidos, e seu espírito voltou a seu peito, então levantou a voz, gemendo com fundos soluços, e falou para as  Troianas: "Ah, Heitor, que desgraça para mim! para um destino, parece, nascemos, nós dois, tu em Tróia na casa de Príamo, e eu em Tebas, debaixo do bosque de Placus, na casa de Aécio, que me criou desde quando era pequeninha, pai infeliz de uma criança com cruel destino. Que Zeus não houvesse permitido que ele me gerasse. Agora, tu estás partindo para a casa do Hades debaixo das profundezas da terra, mas me deixas em amargo luto, uma viúva nos teus salões. O teu filho é ainda só um bebê, o filho nascido de ti e de mim em nosso infortúnio. Nem tu serás de alguma valia para ele, nem ele para ti, Heitor, vendo que estás morto. Mesmo se ele escapar da terrível guerra dos Aqueus, mesmo assim a sua parcela será trabalho e tristeza no tempo do depois, porque outros se apossarão de suas terras. O dia da orfandade corta  uma criança dos amigos de sua juventude; sempre  a sua cabeça se curvará mais baixo, e as suas faces estarão banhadas em lágrimas, e na sua necessidade a criança se acerca dos amigos de seu pai, a este puxando pelo manto, e aquele pela túnica; e se eles sentem piedade, um lhe passará a sua taça por um momento: os seus lábios ele molha,  mas não irá além. E alguém cujo pai e mãe  ainda vivam, o jogam para fora da festa com um golpe da mão, e ralham deles com palavras duras: "Vá embora, assim como estás! Nenhum pai teu festeja em nossa companhia." Então em lágrimas para a mãe viúva volta a criança-Astyanax, que outrora nos joelhos de seu pai comia só a carne mais tenra e a rica gordura das ovelhas; e quando o sono chegasse e ele cessasse de brincar, então ele iria adormecer nos braços de sua ama em cama macia, o coração satisfeito pelas boas coisas. Mas agora, vendo que perdeu o seu querido pai, ele vai sofrer de muitos males - meu Astyanax, a quem os troianos chamam por este nome, porque tu sozinho salvaste os seus portões e seus altos muros.   Mas agora, junto das naves pontudas e longe dos teus pais, nojentos vermes vão devorar-te, tão logo os cães estiverem com a pança cheia, enquanto jazes como um cadáver nu; no entanto, nos teus salões há belos trajes, leves e agradáveis, trabalhados por mãos de mulher. Embora a todas essas coisas eu queimarei em fogo ardente - de modo algum um proveito para ti, vendo que não estarás ali jazendo, mas que será honra para ti dos homens e mulheres de Tróia."

Assim ela falou, chorando, e a tais palavras as mulheres juntaram os seus lamentos."
                             

(Iliada, Homero, Canto XXII, tradução para o inglês de A.T. Murray)


Versão em português, do grego clássico de Homero, colacionado com a tradução em inglês, e o texto original de A.T. Murray, pelo responsável do blog

sábado, 27 de maio de 2017

Colcha de Retalhos E 19



Troca do Comando no BNDES

            A menos de um ano  de assunção no cargo, Maria Sílvia Bastos Marques pediu demissão ontem  da presidência do BNDES. 
             
             A princípio a decisão de Maria Sílvia foi atribuída a razões pessoais. No entanto, o mais provável é que ela tenha se antecipado a uma decisão do  Governo Temer.
     
              De qualquer forma, a escolha recaíu sobre o atual presidente do IBGE,  Paulo Rabello de Castro, que é amigo do Presidente Temer, e constitui nome mais próximo do empresariado.

               Assinale-se que existiria certo descontentamento dos empresários  com a gestão de Maria Sílvia Bastos Marques, e aí estaria a causa provável do remanejamento.


Conta de Luz  sem  cobrança adicional

              Não havendo decepcionado a temporada das chuvas, o maior volume nos reservatórios já assegura que a cobrança adicional na conta elétrica deixará de ser cobrada.  Acabariam, portanto, os efeitos  da operação de dona Dilma, supostamente um agrado para o consumidor, e na verdade trouxera com 'as elétricas  a carvão' um presente de grego para o povo brasileiro.

               Há um ano do impeachment,  e sem que se possa determinar da duração do governo de Michel Temer, por força da atual crise, pelo menos a conta da luz ficaria mais barata...  A ver.


O  Vasco da Gama  vence no final  o  Fluminense

               Em um jogo do Brasileirão bastante disputado - como sói acontecer entre CRVG e Flu - o time da Colina prevaleceu ao final sobre o rival.  A  derrota passada no Campeonato Carioca  frente ao  Flu,  passa a ser história.  O  gol de Nenê selou a vitória vascaína por 3x2.



Noticiário  da  Crise



           Em iniciativa com ampla repercussão,  o  Procurador-Geral  Rodrigo Janot  pediu  ao Ministro Edson Fachin,  do Supremo Tribunal Federal,  autorização para que o Presidente Michel Temer seja interrogado pelo Ministério Público dentro do inquérito em que é investigado por corrupção, organização criminosa e  obstrução à  Justiça.

            O  Procurador Janot argumenta  que, ao confirmar o diálogo gravado por Joesley Batista,  um dos donos da JBS, Temer fez confissão extrajudicial.  Assinale-se que na dita gravação, consoante refere  o Procurador-Geral,  o aludido Joesley conversa com o Presidente Temer sobre pagamento a Eduardo Cunha e cooptação de juízes e de um procurador.

            Ainda nesse contexto,  a  defesa do Presidente Temer, por sua vez, requer que o inquérito seja distribuído no Supremo Tribunal Federal, ou seja, saía da mãos do encarregado da Lava-Jato, o Ministro Edson Fachin.

            Por sua vez,  o Ministro Gilmar Mendes quer que o acordo de delação dos donos da JBS, já homologado pelo aludido Ministro  Fachin, seja submetido ao plenário do Supremo.


Pará :  fortes indícios de outra chacina de trabalhadores rurais 


            Apesar dos esforços do Governo estadual na sua 'versão oficial'  de que houve 'tiroteio'  devido  à reação dos trabalhadores rurais,  é bem diversa a opinião de autoridades  da Ordem dos Advogados do Brasil.  O Conselheiro secional da OAB  do  Pará, Marcelo Mendanha, residente em Redenção,  afirma: Tem sinais de chacina, mas queremos primeiro que se apure.

             De acordo com Mendanha, o grupo alvo da ação era formado por 25 trabalhadores rurais. Mendanha afirma que uma das vítimas está na Hospital Público de Redenção. Outros três feridos  permanecem escondidos, "com medo de terem suas execuções concluídas".  As famílias também estão assustadas. 

              Consoante relatos de sobreviventes feitos ao próprio  Mendanha "teve policial que falou que não adiantava correr,  porque eles íam morrer."

               Por sua vez, o Governo Federal de Michel Temer, paralisado pela crise,  cuida da própria salvação, e semelha não ter tempo de dar maior atenção a mais este grave problema social no distante Estado do  Pará. 


( Fonte:  O  Globo )

(2) A luta da Procuradora Ortega

                   
        Não é sem exemplo na História que possam verificar-se casos como o da Procuradora-Geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz. Ela provém igual-mente do chavismo, mas a sua atuação - e já desde algum tempo, inclusive quando opôs-se aos cinicos adiamentos de Nicolás Maduro, ao exercício do recall, pelo qual o sucessor de Hugo Chávez marcaria o próprio governo e sua crescente queda na inconstitucionalidade.
         A Procuradora-Geral tem crescido diante da opinião pública e da Frente de resistência aos desatinos do incapaz governo de Maduro. E é por isso que o oficialismo  já comece a apodá-la de "traidora".
         A continuação de seu corajoso dissenso levou o próprio Ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, a emitir comunicado em que critica a chefe do Ministério Público.
          A inquietação dos que apoiam o governo Maduro, inclusive do próprio Ministro da Defesa, levou o general  a fazer o seguinte pronunciamento: "As Forças Armadas têm feito um esforço superlativo para manter a paz, a vida e a estabilidade institucional. As hipóteses da procuradora-geral estão prejudicando  a moral dos soldados."
           Para sua honra, a Procuradora Ortega fez pronunciamento no qual pede que os guardas (bolivarianos) restrinjam suas ações ao combate de "grupos armados", como os notórios 'coletivos' chavistas, que são milícias engajadas pelo governo Maduro.
          Por outro lado, a chamada Guarda Nacional Bolivariana vem reprimindo as manifestações populares, tendo a onda de violência deixado 57 mortos. Nesse sentido, a Procuradora atribuíu a morte do manifestante Juan Pablo Pernalete ao impacto de uma bomba de gás lacrimogêneo lançada pela GNB.


( Fonte:  O Estado de S. Paulo )        

A presidência Trump e a Rússia

                             

        O Washington Post foi o primeiro a ventilar dos contatos de Jared Kushner, o genro de Trump e seu assessor sênior, com o embaixador russo em Washington, Sergei I. Kislyak.
        O genro de Trump falou, então, da conveniência de estabelecer-se um canal secreto de comunicações entre a equipe de transição do presidente-eleito e Moscou, para discutir estratégia na Síria e em outras questões.
        Dessa conversação, realizada em dezembro último, participaram Kushner e o embaixador Kislyak,  além de Michael Flynn, o fugaz assessor de Segurança Nacional, que seria logo ejetado.
        Sem embargo desta peculiaríssima idéia do genro Jared, o canal nunca teria sido utilizado.
        No entanto, que Kushner haja pensado em estabelecer o canal secreto diz muito da cercania e da intensidade do relacionamento entre o grupo de Trump e o Kremlin.
         Para o FBI, que ora se ocupa da extensão de tais contatos entre a equipe de Trump e os representantes do Estado russo, a mudança que tal implica no nível das relações pode representar  pista promissora para afastar os muitos véus que confundem os eventuais observadores nesse intercâmbio. Se juntarmos a tal,  a ação russa de intervir na e afetar a campanha presidencial americana,  tudo  o que se lograr individuar e esclarecer poderá contribuir para o melhor entendimento dos papéis dos respectivos personagens e de quanto contribuíram para o respectivo resultado.
  

( Fontes: The New York Times; The Washington Post )

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Trump e a OTAN

                              

        Para assistente da reunião da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que é alegadamente a comemoração do 70º aniversário da existência dessa aliança dos países do Ocidente sob liderança americana, tal espectador ficaria algo perplexo quanto ao viés impresso pelo Presidente Donald Trump no que concerne ao objetivo precípuo da dita conferência,  em nível de chefes de Governo. Tem-se a impressão  que se trataria de ocasião menor e não da sinalização da aliança que por setenta anos manteve a paz na Europa.
        Ao invés de servir-se da reunião como motivo de júbilo, Trump houve por bem ralhar os demais líderes ocidentais por não cumprirem com o empenho de gastar dois por cento do Produto Nacional Bruto respectivo em matéria militar. Essa atitude de bedel, ele a repetiu como durante a sua recente campanha presidencial.
         Outra questão é a do relacionamento com a Federação Russa, de gospodin Vladimir V. Putin. É deveras perturbador que, quanto às relações com a Rússia, haja indícios que, de forma muito estranha, não haja concordância entre a Washington de Trump e os demais aliados ocidentais no que tange a esse tópico. Dada a delicadeza da matéria, é compreensível que o tema não seja aprofundado, pelo menos de forma ostensiva.

         No entanto, há outro aspecto que clama por um exame mais detido.  Essas repreensões - como se de um lado os Estados Unidos sejam o professor, e do outro, os demais paises se vejam relegados ao papel de auxiliares inferiores - se repetem amiúde, e dão nota algo embaraçosa para a nova relação.
           Diante da notória agressividade da nova - em muitos aspectos, velha, pois repete comportamento que data do tempo dos tzares -  Rússia, o comportamento do novo Presidente americano injeta muita insegurança na Aliança do Tratado do Atlântico Norte, eis que essa organização existe essencialmente por causa da ameaça colocada a seu tempo pela URSS, e hoje, pelo seu avatar, um tanto reduzido é verdade, que é a Federação Russa.

          Sem embargo, a assertiva recente de Barack Obama para Vladimir Putin que a Rússia não passa de potência continental, vem sendo metodicamente desmentida por Putin, através de confrontação no Mediterrâneo e nos mares do Norte, entre, notadamente, os submarinos das frotas russa e americana.
            Não se pode tampouco esquecer a recente invasão da Criméia pela Rússia, que dela se apossou apesar de  Recomendação da Assembléia Geral das Nações Unidas (postura de que vergonhosamente a delegação brasileira sob as instruções de Dilma Rousseff se absteve de associar-se). As  recomendações da Assembleia Geral são suasórias e não impeditivas, como seria o caso de resolução do Conselho de Segurança, o que dada a presença da Rússia é na atualidade impossível, pelo veto de Moscou.
            Tristemente, na era petista, coube a professores da Fundação Getúlio Vargas relembrar aos representantes da então Presidenta de quão ruinoso é para o Brasil apoiar o direito de conquista, como foi o que ocorreu, por um misto de ignorância da chefa, e de comportamento timorato de seus representantes diplomáticos.
               A desestabilização da Ucrânia - que apesar do tamanho estaria incluída entre os países (súditos) do estrangeiro próximo[1] - é ameaça ainda maior no momento atual. Se sob Obama os Estados Unidos não apoiaram diretamente a Ucrânia (posto que haja diversas sanções em vigor que proíbem viagens para a Criméia, a par de outras que visam aspectos financeiros), a posição de Trump com relação a Putin torna eventual apoio americano a outras sanções bastante dúbio, pelo menos enquanto D. Trump estiver na Casa Branca.   
                A conclusão a ser tirada da posição de Trump com relação à  OTAN não pode ser comparável com o exemplo dado pelos seus predecessores. Com Trump não se fala mais do compromisso mútuo de defesa que estaria no coração da aliança. Por isso, como o New York Times não deixa de frisar, Trump falhou em transmitir aos membros da OTAN que os Estados Unidos, sob sua direção, seguiriam o exemplo de seus predecessores em liderar uma aliança forte e unida, que continuaria como base da segurança ocidental. 
                     Dada a óbvia ligação de Trump com a Rússia - e as investigações do FBI e de outros órgãos americanos só tendem a reforçar tal impressão (como a anunciada investigação de seu genro Jared deve agregar outros elementos comprometedores) - acreditar que  o futuro possa augurar um quadro menos inquietante quanto ao nível de influência da Federação Russa sobre o atual governo estadunidense  é dar prova de panglossiano otimismo no particular.  As próximas investigações - quem sabe elas não se restrinjam a personalidades já conhecidas - poderão ser determinantes, não só quanto ao futuro do 45º presidente, assim como do atual vice-presidente, Michael Richard Pence.  Como todo vice-Presidente, a perspectiva de assumir o mando existe e nem sempre pelo capricho das Parcas. Pelo que se sabe, trata-se de  republicano cujo brilho moderado terá induzido Trump a escolhê-lo como companheiro de chapa. 
           

( Fontes: The New York Times, Karen Dawisha )            




[1] Estrangeiro próximo é um conceito válido inclusive na legislação russa. A prof. Karen Dawisha, especialista em Putin (V. Putin´s Kleptocracy, de que é autora) tem sido objeto de muitas menções do blog sobre a sua abrangente visão de o que é a Rússia de Vladimir Putin.

2ª Mensagem ao Sr. Prefeito

                             

        Na minha primeira comunicação ao Senhor Prefeito do Rio de Janeiro, perguntava se havia já assumido as suas funções.
        Há um problema com Sua Excelência e seus concitadinos. Empossado em suas altas funções, a única indicação que tive de sua atividade como sucessor de Senhor Eduardo Paes foi de sua viagem-missão à Brasília, levando o próprio filho, com o escopo de convencer o Supremo Tribunal Federal de que a sua nomeação para a chefia de seu gabinete não constituía nepotismo.

        Como nada resultou de sua visita ao STF, é de supor-se que o colendo colegiado - ou um membro dele representativo - terá ponderado que, nas presentes circunstâncias, a designação de um filho do prefeito Crivella em alguma função na prefeitura constituiria sempre nepotismo. Em outras palavas, havia uma pedra no caminho, a impedir a realização do desejo do genitor que aspirava valer-se do próprio filho para ocupar funções de gestão no respectivo gabinete.

        Já o motivo desta minha segunda mensagem ao Prefeito Marcelo Crivella difere da anterior. Por onde se ande no Rio de Janeiro, se tem a impressão de que o atual prefeito continua ausente de suas altas funções.
        Não se lhe distingue a presença seja - para começar em aspectos mais comezinhos - na pintura das faixas de pedestre nos bairros da cidade que lhe escolheu com o voto para presidir por quatro anos aos seus destinos. Se nas grandes artérias, elas ainda aparecem, se o motorista entra em ruas laterais ou secundárias, outra será a impressão colhida. E ela é a do abandono, com faixas de pedestre cuja sinalização está por desaparecer.
        Por outro, como guarda de trânsito se transformou em espécime raro e os municipais são difíceis de encontrar, é muito comum o estacionamento irregular - tanto no centro, ou o que o Sr. Eduardo Paes doravante mandou chamar de centro, prejudicando a quarteirões inteiros enquanto ao antigo ativo comércio, assim como a bares e restaurantes tradicionais, que tiveram de fechar as portas, tangidos por modernização tão draconiana, quanto artificial.

          Não é preciso fazer curso de urbanismo para ter presente que a "renovação" instituída pelo anterior prefeito, a pretexto, entre outras coisas, de agilizar o trânsito, na verdade criou uma série de monstrengos em termos de circulação, desviada a Avenida Rio Branco do objetivo pela qual foi riscada e planejada por antecessor com maior visão que o dileto amigo do Governador Sérgio Cabral, a quem deveu a eleição, no pontual ponto facultativo de dúbia legalidade, sobre o seu popular concorrente Fernando Gabeira.
            Mas alguma coisa há de fazer-se com esse centro - cuja presente virtual inatividade foi estabelecida por capricho do Sr. Eduardo Paes. Não sei se deva definir como insensato ou ruinoso esse planejamento que nos custou o esvaziamento do centro citadino, antes pleno de gente, negócios e de comércio, hoje transformado em um museu ao ar livre de casarões fechados e de ruas mal policiadas.

             Ora, dirão, que o Senhor Marcelo Crivella, sobrinho do bispo Macedo, nada tem a ver com as experiências urbanísticas de Eduardo Paes. Peço vênia para discordar, e por dois motivos: estou certo de que o trânsito dos modernos VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos)- na verdade, a versão moderna dos bondes pode ter grande utilidade para os cidadãos, mas a sua implantação em outras partes do mundo não acarretou o desconcerto e o desconforto dos demais transportes, cuja eficiência - com exceção do metrô, por óbvios motivos - não persistiu.
               O Sr. Crivella ainda não disse ao que veio. O centro do Rio de Janeiro, antes movimentado e - o que é importante - dando emprego a muitos, hoje se transformou em um quase cemitério. Atravessando ruas e vielas semi-desertas, a pergunta que nos assoma é por quanto tempo se conviverá com tal esdrúxula situação, em que se esvaziam quarteirões inteiros para transformá-los em becos e vielas mortas. Não se carece de ser nenhum profeta para antever a invasão de casas e casarões abandonados pelo mesmo tipo de gente que ora azucrina o Prefeito João Dória de São Paulo. Conhecemos os procedimentos desses senhores. Na verdade, não estão preocupados em prevenir, mas sim em impedir, uma vez realizada a invasão, que se retire de lugares por onde nunca andaram esses infelizes que na atualidade constituem a turma da cracolândia.
                 Em outros tempos, as autoridades cuidavam de administrar as cidades, grandes ou pequenas, e de assegurar-lhes a progressão no comércio e na indústria.

                Até agora - e que me desculpem os seus partidários - não logrei entender aonde está o segredo do radioso futuro do centro dessa sofrida e mui leal Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. De um lado, temos um prefeito não tão recém-eleito que teima em não dar o ar de sua graça, nas ruas, avenidas, calçadas e tudo o mais da mega-cidade a que chamaram de maravilhosa. E de outro lado, alguém que exerceu dois mandatos, mas até agora tampouco nos transmitiu qual o segredo de sua avalanche de modernização, pois ao invés de criar núcleos flamantes de atividade, ele transformou o centro em cidade quase-morta, onde os mais velhos caminham e dizem para os mais jovens, usando sempre o tempo passado: aqui foi isso, aqui foi aquilo, nestas ruas e travessas muita gente passava, atarefada ou não, e agora muitos têm medo de adentrar esses espaços ermos, criados pelo planejamento da Prefeitura... 


(a continuar)      

quinta-feira, 25 de maio de 2017

Ainda a audiência pontifícia a Trump

                              
         Na coluna do New York Times, em que me baseei para o relato sobre o encontro entre  Papa Francisco e o Presidente Trump, há uma versão que ora me parece, ao deparar a fotografia do Sumo Pontífice com Trump, esposa Melania e filha Ivanka, não refletir exatamente o clima da reunião.

         Com efeito, o Santo Padre surge ora carrancudo, ao lado de um sorridente Donald Trump, de uma serena Melania, e da juvenil Ivanka. Não é o instantâneo de alguém moderadamente feliz em receber a família Trump nos palácios vaticanos.

           Segundo consta, não houve maiores problemas no encontro oficial.  Na família Trump, a única católica é a esposa Melania, que esta vestida com a protocolar cor negra, além de véu na mesma cor.


( Fonte: Folha de S. Paulo  ) 

A Luta da Procuradora Ortega

                    
             Continua a Procuradora-Geral da República a atuar como uma espécie de coro na tragédia grega da insurreição popular venezuelana. Como nos antigos espetáculos de tragédia e comédias, encenadas nos teatros populares  da antiga Hellas, a função do coro era a de sinalizar erros e outras faltas dos personagens do espetáculo. Também a exemplo do coro grego, ela tem liberdade para criticar e apontar erros, mas o poder de
corrigi-los.
              Não tem sido outro o papel da Senhora Luisa Ortega Díaz, que vem agindo como crítica do presidente Nicolás Maduro e das forças de segurança, assinalando a respectiva inaceitável  violência na resposta às manifestações populares.  A Procuradora-Geral tem criticado reiteradamente em suas comunicações essa violência como essência da resposta de Maduro aos protestos.
               A Senhora Ortega Díaz atribui essa tentativa de repressão a incompreensão  das verdadeiras causas que carregam as pessoas para as ruas e espaços públicos da Venezuela.
               Em seu relatório, divulgado nesta 4ª feira dia 24 de maio,  em 54 dias de manifestações contra Maduro 55 pessoas morreram, mil ficaram feridas e 2.644 foram detidas.
               Na sua apresentação do balanço sobre a crise na Venezuela,  a senhora Ortega Díaz declarou que a crise se resolve "reconhecendo que existe o problema."
                Para a Procuradora-Geral,  "o descontentamento social é o resultado da severa crise (que) leva ao desabastecimento de alimentos, remédios e à insegurança que existe."
                 Ainda no que tange ao desabastecimento,  Ortega Díaz fez  apelo pelo fim  dos saques que, no seu entender,  alimentam a escassez. E condenou a guerra de versões sobre as mortes e os boatos por atrapalharem as investigações.
                 Desde março de 2017, a Procuradora-Geral se distancia do governo Maduro. Nesse sentido, ela considerou uma ruptura constitucional a sentença que dava ao Judiciário as funções do Legislativo, que foi de resto derrubada dias depois, não só pela reação da oposição, mas também pela resposta internacional a este rematado absurdo da administração Maduro.
                    Na última 4ª feira, mantendo a postura caricata de tribunal a serviço da ditadura, o Tribunal Supremo de Justiça (que foi superlotado por chavistas nos primeiros meses do governo Maduro) ameaçou prender  oito prefeitos opositores se eles não impedirem o fechamento das ruas e as barricadas nos protestos.


( Fonte:  Folha de S. Paulo )

Desordem em Brasília

                              

      A manifestação, convocada pela CUT  e  a Força Sindical,  rapidamente  descambou para a desordem, a depredação e a destruição do Patrimônio Público.
       Compreende-se que na situação de fraqueza  o  Governo de Michel Temer haja decidido convocar as Forças Armadas.  A iniciativa foi criticada por muitos, mas deve ter-se presente, de um lado a gravidade dos danos infligidos ao Ministério da Agricultura, assim como a outros prédios públicos. Por outra parte,  a intervenção da polícia vinha sendo um tanto desordenada, inclusive com policiais militares atirando  não com tiros de festim, mas com munição real.

      É lamentável que tais desordens ocorram, eis que a situação oferece a baderneiros a oportunidade para recorrerem à violência e à danificação dos bens nacionais.  Dado o vulto do desafio, a intervenção da Força Armada contribuíu para o ulterior controle da situação.

Declaração do PGR Rodrigo Janot




       A Folha de S. Paulo de hoje, 24 de maio de 2017, publica à página 7, sob o seguinte título: "Governo encurralado - País seria mais lesado sem acordo com a JBS, diz Janot", e como subtítulo:"Procurador-geral da República sai em defesa da negociação com empresa" , a seguinte matéria,  precedida de observação do jornal em negrita: "Janot tem sido alvo de críticas, em especial de Temer, pelo fato de Joesley e demais da JBS estarem em liberdade".  
       Abaixo segue a matéria em apreço, com as informações prestadas pela Folha, assim como parte do artigo do Procurador-Geral da República: "Em sua primeira manifestação desde a abertura de investigação do presidente Michel Temer(PMDB), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendeu a decisão de firmar acordo de delação premiada com os irmãos Wesley e Joesley Batista.
        A declaração aparece em artigo publicado nesta terça-feira (23) pelo UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.
         Os empresários da JBS entregaram aos procuradores uma gravação de uma conversa com Temer ocorrida em março. No encontro, que não consta na agenda do presidente, Joesley afirma que tem  um plano para destituir um procurador da Lava Jato que investigava a JBS e que estava "dando conta" de dois juízes.
        No inquérito aberto a partir do acordo de delação, a PGR apontou indícios de três crimes supostamente cometidos pelo presidente: obstrução de Justiça, corrupção passiva e organização criminosa.
         Também são investigados no mesmo inquérito o senador Aécio Neves (PSDB) e o deputado Rodrigo  Rocha Loures (PMDB), próximos de Temer.
          "[Os irmãos Batista] apresentaram gravações de conversas com o presidente da República, em uma das quais se narravam diversos crimes supostamente destinados a turbar as investigações da Lava Jato", afirma Janot no artigo, além de citar "informações concretas sobre contas bancárias no exterior e pagamento de propinas envolvendo quase duas mil figuras políticas".
          "Mesmo diante de tais revelações, o foco do debate foi surpreendentemente deturpado". "Até onde o país estaria disposto a ceder para investigar a razão pela qual o presidente da República recebe, às onze da noite, fora da agenda oficial, em sua residência, uma pessoa investigada por vários crimes, para com ela travar diálogo nada republicano?", diz Janot.
            O artigo foi escrito após a Procuradoria ser criticada pelos benefícios concedidos aos irmãos  no acordo de delação, em especial se comparado a outros, como o da Odebrecht.
            Em pronunciamento, Temer afirmou que os donos da empresa JBS haviam cometido o "crime perfeito". "O autor do grampo está livre e solto, passeando pelas ruas  de Nova York", afirmou o presidente em seu pronunciamento na tarde deste sábado (20).
            No artigo, o procurador-geral afirma que os benefícios dados aos delatores "é ponto secundário do problema". "A alternativa teria sido muito mais lesiva aos interesses do país, pois jamais saberíamos dos crimes que continuariam a prejudicar os honrados cidadãos brasileiros", diz.
             Como procurador-geral da República, não tive outra alternativa senão conceder o benefício da imunidade penal aos colaboradores". Ele justifica com a "gravidade" dos fatos e "provas  consistentes" apresentadas pela JBS.
             Janot também ressaltou que o acordo prevê o pagamento de uma multa de R$ 11 bilhões e diz que a colaboração é "muito maior que os áudios questionados".

              Os R$ ll bilhões citados pelo procurador-geral se referem ao valor sugerido pelo Ministério Público Federal para o fechamento de um acordo de leniência. A empresa, porém, rejeitou esse valor e, vencido o prazo, uma nova negociação foi aberta. O acordo é fundamental para que o grupo siga habilitado a conseguir empréstimos e contratos com o governo."


quarta-feira, 24 de maio de 2017

Flynn apela para a 5ª Emenda

                           

         De todas as emendas constitucionais, esta é a mais controversa e, em geral, não ajuda muito a quem pretende dela servir-se.
         Como indicou para o New York Times, o advogado Raymond Granger, de Nova York, antes promotor do estado e também federal, a decisão de Flynn de valer-se da 5ª Emenda nesse caso constitui um erro comum de testemunhas. Essa emenda não se reporta a documentos, mas a proteger cidadãos americanos por declarações a que tenham sido compelidos a fazer. Não se reporta, portanto, a declarações em que se pretenda proteger-se contra a auto-incriminação.
   
        Como se sabe, essa indicação de Trump para o prestigioso posto de Assessor de Segurança Nacional só ficou 24 dias nesse cargo, tendo sido forçado a exonerar-se após vir a público que mentira para o Vice-Presidente acerca de seus contatos com o Embaixador russo.

           A qualidade ética desse funcionário ficou patente quando ele declarara que nada recebera de companhias estrangeiras e tivera apenas contatos sem qualquer substância  com alienígenas. Tudo isso veio abaixo quando ficou patente que ele dois meses antes  sentara-se ao lado do Presidente Putin, em exibição de gala da tv russa, que pagou ao general da reserva Flynn cerca de 45 mil dólares para participar do evento e dar um discurso em separado...
             Agora o ex-Assessor de Segurança Nacional - que dadas as suas falhas teria curtíssima permanência  no relevante cargo - deve ora preparar-se  para ulteriores incômodos, eis que, pelo visto,  invocar a 5ª Emenda pode tornar a sua posição ainda mais precária.


( Fonte: The New York Times ) 

Audiência do Papa a Trump

                              

              Personalidades distintas e posições políticas igualmente díspares, que a visita do Presidente Donald Trump ao Sumo Pontífice tenha transcorrido em ambiente cordial é indicação inequívoca da vontade de ambos de, conscientes das respectivas divergências, procurarem encontrar um espaço mútuo de  concordância, mesmo que seja o de se por de acordo... para discordar.

            Na sua primeira viagem ao estrangeiro como 45º presidente, Trump procurou reduzir as arestas, ou pelo menos dar-lhes menor realce.  A preocupação de Papa Francisco  estava, no entanto, presente na inclusão de sua Encíclica  sobre o Meio ambiente, entre as dádivas protocolares que destinou ao visitante, de acordo com a usança  da Santa Sé.

           No mesmo sentido, dada a conhecida posição de Trump em retirar o seu país  do Acordo sobre o Clima, o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, encareceu a Trump não retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima.
          

( Fonte: The New York Times. )

terça-feira, 23 de maio de 2017

Colcha de Retalhos E 18

                              

PSDB e DEM sustentam Temer

       Ao contrário de outros partidos, as cúpulas do PSDB e do DEM decidiram esperar até a decisão do STF sobre o recurso de Michel Temer.
       Se o Supremo, em caso inédito, suspender  inquérito contra Temer, pesará no julgamento a credibilidade da denúncia, se forem  afastadas suspeitas de que o audio da entrevista na Jaburu terá sido objeto de manipulação.
        Nesta 4ª Feira o STF decidirá se mantém ou não o inquérito aberto para investigá-lo.

Trump na Arábia Saudita      
        
          O presidente Donald Trump foi à Ryadh para promover uma mega-venda de armas à Arábia Saudita. Achou oportuno fazer apelo aos líderes árabes que expulsassem  aqueles que promovessem o ódio nos seus países.
            A conexão entre a venda de armas e o apelo posterior a uma postura mais dura contra a violência internacional, com a tentativa de marginalização das linhas mais violentas e agressivas  no mundo árabe, tende a parecer como uma dessas políticas que não têm maior possibilidade de implantação,dada a pecha que muitos desses países desejariam evitar ao darem motivo de serem apontados como moderados.

 O Extremo Oriente      

          Enquanto o líder da Coréia do Norte continua com a sua normal atuação, que é fazer todo o contrário de o que desejaria o Presidente Trump, outra notícia sinalizou uma mortandade inesperada que, pelo visto, terá ocorrido em silêncio, e somente agora é trazida para o grande público ocidental.
             Sob o regime do novo chefe chinês, Xi Jinping, a CIA perdeu um número substancial de o que antes se chamava espião, e hoje é referido como agentes de inteligência.
             De qualquer forma,  a notícia que transpirou não induz qualquer otimismo sobre  possível abertura da RPC ao Ocidente.
             É claro que a suposta eliminação de agentes de informação - pelo visto neste caso realizada de forma metódica e abrangente - além de constituir risco considerável para o intercâmbio internacional, ao fazer que a procura do conhecimento artístico e cultural possa ser confundida com a atividade dos espiões, que nada tem a ver com as correntes culturais. espionagem essa versão para essa atividade que já convive com tantos perigos.

             O agente estrangeiro de inteligência enfrenta na RPC um enorme risco. Se tal constitui perigo que vai junto com a atividade - a abertura dos países às influências estrangeiras é aspecto de todo diverso. Outra coisa bastante diversa é a espionagem que se no corrente não desperta no Ocidente a atitude de antanho - quando toda essa atividade era jogada no mesmo balaio do preconceito contra o alienígena - tampouco será vista com bons olhos, se ela visar a fins outros que os culturais e artísticos.

Atentado em Manchester

                               

        O atentado na Arena de Manchester, na Inglaterra, durante o show de Ariana Grande, com o público jovem, muitos adolescentes e até crianças, compõe a textura, a um tempo cruel, mas também imprevisível, das assistências na Inglaterra, e em outras paragens do Ocidente, enquanto à sua exposição aos sinistros projetos do ISIS. Basta um fanático que acredite na estória de que está participando na luta para golpear o cruel e impio Ocidente com a adjunta promessa de que ruma prontamente para o paraíso islâmico, aonde o espera o acompanhamento de dezenas de huris, tudo isso na sequência de anos de imigração com os portões abertos, tende a formar explosiva torta  com efeitos homicidas a médio e longo prazo, que é para tantos incongruente e até mesmo estúpida. Para compor tal drama - que é  transportável alhures, dado o horrendo, mas inegável êxito nos replays anteriores - não basta a eventual incúria e, mesmo ignorância, dos organizadores, além da própria cupidez, mas também o alheamento de muitos responsáveis, que, para não parecerem caretas, delegam demasiado para os jovens e adolescentes, sobre os quais tenham alguma formal responsabilidade. Se ao invés, lavam as mãos,  em um entorno de alegre displicência, enquanto os organizadores e os artistas da ocasião mergulham nas delícias do público que, por condicionamento da adolescência, tende a pensar nas experiências de seus maiores, quando as grandes aglomerações eram promessa de memoráveis diversões, livres então dos perigos que rondam tais espetáculos hodiernos. Deixa perplexo a muitos que se perguntam o ritual Porquê?, depois do fato, quando, diante do permeante e envolvente passado mediato,que é demasiado transido por infernais armadilhas e facilitados massacres para que possa ser esquecido em mais este triste, melancólico espetáculo, de que, como Virgílio, tenho horror em relatar, carnificina esta provocada por estágios diversos na estrada da civilização, pois há gente de ainda tenra idade que se deleita nos panes et circences, enquanto falta aos mais velhos, discernimento e/ou capacidade de supervisionar, como v.g. àquelas autoridades que fazem rodar caminhões com lúridos, xenófobos cartazes pelas vizinhanças pobres para incrementar a massa de manobra contra a imigração. Trágico engano, porque em geral penalizam o imigrante de boa fé e fomentam pobreza e indigência, enquanto se vestem de democratas e instigam vis preconceitos contra aqueles perseguidos. Melhor seria que abrissem os braços, enquanto protegessem os ingressos de tais manifestações com a necessária tecnologia que há de apontar os fanáticos - que carregam explosivos. É mais do que hora que evitemos essas cruéis  e cruentas hecatombes, pelas quais mostra o Isis a face a um tempo sinistra e rudimentar, que zomba da incúria do Ocidente, que tanto lhe facilita a ignóbil e execrável encenação da morte, que a todos gelidamente abraça, enquanto desses um punhado de tolos estúpidos pensa ter o passe-livre para o imaginário paraíso, construído com a trágica argamassa da superstição.   



( Fontes: Publius Vergilius Maro, mídia )       

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Entrevista de Temer à Folha de S. Paulo


                    
         Em entrevista à Folha, publicada em 1ª página,  o presidente afirmou que ' não renuncia; se quiserem, me derrubem'.
          Sobre a entrevista em si, disse o Presidente: "Eu tenho demonstrado com relativo sucesso que o que o empresário fez foi induzir uma conversa."
          Acerca de eventual culpa, Temer respondeu: "Ingenuidade. Fui ingênuo ao receber uma pessoa naquele momento."
          Folha:  O Sr estabeleceu que ministro denunciado será afastado e, se virar réu, exonerado.  Caso o PGR o denuncie, o sr. vai se submeter a essa regra?
           Michel Temer: Não, porque eu sou chefe do Executivo. Os ministros são agentes do Executivo, de modo que a linha de corte que eu estabeleci para os ministros, por evidente, não será a linha de corte para o presidente.
           Folha: Mas o sr. voluntariamente poderia se afastar.
           M.T. : Não vou fazer isso, tanto mais que já contestei muito acentuadamente a gravação espetaculosa que foi feita. Tenho demonstrado com relativo sucesso que o que o empresário fez foi induzir uma conversa. Insistem sempre no ponto que avalizei um pagamento para o ex-deputado Eduardo Cunha, quando não querem tomar como resposta o que dei a uma frase dele em que ele dizia: "Olhe, tenho mantido boa relação com o Cunha".(E eu disse): "Mantenha isso". Alem do quê, ontem mesmo o Eduardo Cunha lançou uma carta em que jamais pediu (dinheiro) a ele (Joesley) e muito menos a mim. E até o contrário. Na verdade, ele me contestou algumas vezes. Como eu poderia comprar o silêncio, se naquele processo que ele sofre em Curitiba, fez 42 perguntas, 21 tentando me incriminar?"
            Folha:  O Joesley falar em zerar, liquidar pendências. Não sendo dinheiro, seria o quê ?
             M.T.:  Não sei. Não dei a menor atenção a isso.  Aliás, ele falou que tinha (comprado) dois juízes e um procurador. Conheço o Joesley de antes deste episódio. Sei que ele é um falastrão, uma pessoa que se jacta de eventuais influências. E logo depois ele diz  que estava mentindo.
             Folha:  Não é prevaricação se o sr. ouve um empresário dentro da sua casa relatando crimes?
              MT : Você sabe que não? Eu ouço  muita gente, e muita gente me diz as maiores bobagens que eu não levo em conta. Confesso que não levei essa bobagem em conta. O objetivo central da conversa não era esse. Ele foi levando a conversa para um ponto, as minhas respostas eram monossilábicas...
              Folha: Quando o sr. fala "ótimo, ótimo", o que o sr. queria dizer?
              MT:  Não sei, quando ele estava contando que estava se livrando das coisas, etc.
               Folha: Era nesse contexto da suposta compra de juízes.
               MT: Mas veja bem. Ele é um grande empresário. Quando tentou muitas vezes falar comigo, achei que fosse por questão da [Operação] Carne Fraca. Eu disse: "Venha quando for possível, eu atendo todo mundo" [Joesley disse]: 'Mas eu tenho muitos interesses no governo, tenho empregados, dou muito emprego". Daí ele me disse que tinha contato com Geddel [V.Lima, ex-Ministro], falou do Rodrigo [Rocha Loures], falei: "Fale com o Rodrigo quando quiser, para não falar toda hora comigo."
               Folha: Ele buscou o sr. diretamente?
               MT: Ele tentou três vezes me procurar. Ligou uma vez para a minha secretária, depois ligou aquele rapaz, o [Ricardo] Saud, eu não quis atendê-lo. Houve um dia em que ele me pegou, conseguiu o meu telefone, e eu fiquei sem graça de não atendê-lo. Eu acho que ele ligou ou mandou alguém falar comigo, agora confesso que não me recordo bem.
               Folha: Por que não estava na agenda? A lei manda.
               MT: Você sabe que muitas vezes eu marco cinco audiências e recebo 15 pessoas. Às vezes à noite, portanto inteiramente fora da agenda. Eu começo recebendo às vezes no café da manhã e vou para casa às  22hs, tem alguém que quer conversar comigo. Até pode-se dizer, rigorosamente, deveria constar da agenda. Você tem razão.
               Folha:  Foi uma falha?
               MT: Foi, digamos, um hábito.
               Folha: Um hábito ilegal, não?
               MT:  Não é ilegal porque não é da minha postura ao longo do tempo [na verdade, está na lei 12.813/13]. Talvez eu tenha de tomar mais cuidado. Bastava ter um detector de metal para saber se ele tinha alguma coisa ou não, e não me gravaria.
               Folha: É moralmente defensável receber tarde da noite, fora da agenda, um empresário que estava sendo investigado?
               MT: Eu nem sabia  que ele estava sendo investigado.
               Folha: O sr. não sabia?
               MT: No primeiro momento, não.
               Folha: Estava no noticiário o tempo todo, presidente [Joesley naquele momento era investigado nas operações Sepsis, Cui Bono? e Greenfield].
               MT: Ele disse na fala comigo que as pessoas estavam tentando apanhá-lo, investigá-lo.
                Folha: Um assessor muito próximo do sr.[Rocha Loures] foi filmado  correndo  com uma mala pela rua. Qual sua avaliação?
                MT:  Vou esclarecer direitinho.  Primeiro, tudo foi montado. Ele [Joesley] teve treinamento de quinze dias, vocês que deram [refere-se à Folha], para gravar, fazer a delação, como encaminhar a conversa.
                 Folha: A imagem dele correndo com dinheiro não é montagem.
                 MT: [Irritado] Não, peraí, eu vou chegar lá, né, se você me permitir... O que ele [Joesley] fez? A primeira coisa, o orientaram ou ele tomou a deliberação: "Grave alguém graúdo".
                   Depois, como foi mencionado o nome do Rodrigo, certamente disseram: "Vá atrás do Rodrigo".  E aí o Rodrigo certamente foi induzido, foi seduzido por ofertas mirabolantes e irreais.
                 Agora, a pergunta que se impõe é a seguinte:a questão do CADE foi resolvida? Não foi. A questão do BNDES foi resolvida?Não  foi."
                    Folha: O Rocha Loures errou ?                                                                                    MT:  "Errou, evidentemente".
                    Folha: O Sr. se sente traído?
                    MT: Não vou dizer isso, porque ele é um homem, coitado, ele é de boa índole, de muito boa índole. Eu o conheci como deputado, depois foi para o meu gabinete na Vice-Presidência, depois me acompanhou na Presidência,mas um homem de muito boa índole.
                    Folha: Ele foi filmado com R$ 500 mil, que boa índole é essa?
                    MT:  Sempre tive a convicção de que ele tem muito boa índole. Agora, que esse gesto não é aprovável.
                    Folha: O sr. falou com ele desde o episódio?
                     MT:  Não. 
                     Folha:  O sr. rompeu com ele?
             MT: Não se trata de romper ou não romper, não tenho uma relação, a não ser uma relação institucional [com ele].
             Folha: Quando o Sr. diz para o Joesley que ele poderia tratar de "tudo" com o Rodrigo Rocha Loure, o que o sr. quer dizer?
             MT:      Esse tudo são as matérias administrativas. Não é tuuudo [alongando o 'u']. Eu sei a insinuação que fizeram: "Se você tiver dinheiro para dar para ele, você entregue para ele". Evidentemente que não é isso. Seria uma imbecilidade, da minha parte, terrível.
              Folha: O senhor o conheceu há quantos anos ?
              MT: Quando ele era deputado, portanto, há uns dez anos.
              Folha: E mesmo o conhecendo há dez anos, ele tendo sido seu assessor...
               MT: Mas espera aí, eu conheço 513 deputados há dez anos.
               Folha: Mas apenas ele foi seu assessor próximo.
               MT: Como são próximos todos os meus assessores.
               Folha: E mesmo próximo era apenas uma relação institucional?
               MT: Institucional, sem dúvida.
               Folha: Nos últimos dias, o sr. veio numa escalada nas declarações. Acha que a Procuradoria-Geral armou para o senhor?
                MT: Eu percebo que você é muito calma [risos]. Espero que você jamais sofra as imputações morais que eu sofri.Eu estava apenas retrucando as imprecações de natureza moral gravíssimas, nada mais do que isso.Agora, mantenho a serenidade, especialmente na medida em que eu disse: eu não vou renunciar, especialmente na medida em que eu disse: eu não vou renunciar. Se quiserem, me derrubem, porque, se eu renuncio, é uma declaração de culpa.
                 Folha: No pronunciamento o sr. foi muito duro com o acordo de delação.
                 MT: Não faço nenhuma observação em relação à Procuradoria. Agora chamou a atenção de todos  a tranquilidade com que ele [Joesley] saíu do país, quando muitos estão na prisão. Ou, quando saem, saem com tornozeleira. Além disso, vocês viram o jogo que ele fez na Bolsa. Ele não teve uma informação privilegiada, ele produziu uma informação privilegia-da. Ele sabia, empresário sagaz  como é, que no momento em que ele entregasse, o dólar subiria e as ações de sua empresa cairiam. Ele comprou US$l bilhão e vendeu as ações antes da queda.
                 Folha: Se permanecer no cargo, em setembro tem de escolher um novo procurador. O Sr. acha que tem condição de conduzir tal processo sem estar contaminado depois de tudo isso que está acontecendo?
                 MT: Contaminado por esses fatos? Não me contamina, não. Aliás, eu tiro o "se". Porque eu vou continuar.
                 Folha: É preciso alguma mudança na maneira como esses acordos são feitos? Mudança na lei?
                 MT: Acho que é preciso muita tranquilidade, serenidade, adequação dos atos praticados. Não podem se transformar em atos espetaculosos. E não estou dizendo que a Procuradoria faça isso, ou o Judi-ciário. Mas é que a naturalidade com que se leva adiante as delações... Você veja, as delações estão sob sigilo. O que acontece? No dia seguinte, são públicas. A melhor maneira de fazer com que eles estejam no dia seguinte em todas as redes de comunicação é colocar uma tarja na capa dizendo: sigiloso.
                   Folha: Esse processo dá novo impulso ao projeto de lei de abu-so de autoridade ?
                   MT: É claro que ninguém é a favor do abuso de autoridade. Se é preciso aprimorar toda a legislação referente a abuso de autoridade, eu não saberia dizer. Abusar da autoridade é ultrapassar os limites legais.
                Folha: O Sr. falou muito do Joesley. Mas qual é a culpa que o sr. tem?
                MT: Ingenuidade. Fui ingênuo ao receber uma pessoa naquele momento.
                Folha: Além dos áudios, há depoimentos em que os executivos  da JBS fazem outras acusações. Por exemplo, que o sr. pediu caixa dois em 2010, 2012 e 2016. Inclusive para o [marqueteiro] Elsinho Mouco, para uma campanha da internet.
             MT: No caso do Elsinho, ele fez a campanha do irmão do Joesley, e por isso recebeu aquelas verbas. Fez trabalhos para a empresa Diz que até  recentemente, esse empresário grampeador pediu se o Elsinho poderia ajudá-lo na questão da Carne Fraca.       
              Folha: Empresário grampeador?
              MT: Mas qual é o título que ele tem de ter? Coitadinho, ele tem de ter vergonha disso.Ele vai carregar isso pelo resto da vida.E vai transmitir uma herança muito desagradável para os filhos.
              Folha: Nos depoimentos, há conversa do Loures com o Joesley sobre a suposta compra do Cunha que é muito explícita.
              MT: Por que é explícita?
              Folha: Porque eles conversam sobre pagamentos.
              MT: Você está falando de uma conversa de Joesley com o Rodrigo. De repente, você vai me trazer uma conversa do Joesley com o João da Silva.
              Folha: O Rocha Loures não é um João da Silva.
              MT (irritado) Eu sei, você está insistindo nisso, mas eu reitero que o Rodrigo era uma relação institucional que eu tinha, de muito apreço até, de muita proximidade. Era uma conversa deles, não é uma conversa minha.
              Folha: Um desembarque do PSDB e do DEM deixaria o sr. em uma situação muito difícil. O sr. já perdeu PSB e PPS.
              MT: O PSB eu não perdi agora, foi antes, em razão da Previdência. No PPS, o Roberto Freire veio me explicar que tinha dificuldades. Eu agradeci, mas o Raul Jungmann, que é do PPS, está conosco.
              Folha: Até onde o sr.acha que vai a fidelidade do PSDB?
              MT: Até 31/12 de 2018.
              Folha: Até que ponto vale a pena continuar sem força política para aprovar reformas e com a economia debilitada? 
                 MT:  Isso é você quem está dizendo.Eu vou revelar força política precisamente ao longo dessas próximas semanas com a votação de matérias importantes.
                 Folha: O sr. acha que consegue?
                  MT: Tenho absoluta convicção de que consigo. É que criou-se um clima que permeia a entrevista do senhor e das senhoras de que vai ser um desastre, de que o Temer está perdido. Eu não estou perdido.
                   Folha: O julgamento da chapa Dilma-Temer recomeça no TSE em seis de junho. Essa crise pode influenciar a decisão?
                   MT: Acho que não. Os ministros se pautam não pelo que acontece na política, mas pelo se passa na vida jurídica.
                   Folha: Se o TSE cassar a chapa, o sr. pretende recorrer ao STF?
                   MT: Usarei os meios que a legislação me autoriza a usar. Agora, evidentemente que, se um dia, houver uma decisão transitada e julgada eu sou o primeiro a obedecer.
                    Folha: O sr. colocou ênfase no fato de a gravação ter sido adulterada. Se a perícia concluir que não há problemas, o sr. não fica em situação complicada?
                     MT: Não. Quem falou que o áudio estava adulterado foram os senhores, foi a Folha [com base em análise de um perito feita a pedido do jornal]. E depois eu verifiquei que o "Estadão" também levantou o mesmo problema. Se disserem que não tem modificação nenhuma eu direi: a Folha e o "Estadão" erraram.
                    Folha: Como o Sr. vê a OAB pedir o seu impeachment?
               MT: Lamento pelos colegas advogados. Eu já fui muito saudado, recebi homenagens da OAB. Tem uma certa surpresa minha, porque eles me deram espada de ouro, aqueles títulos fundamentais da ordem, agora se comportam dessa maneira. Mas reconheço que é legítimo.
               Folha: Em quanto tempo o sr.acha que reaglutina a base?
               MT:  Não sei se preciso reaglutinar. Todos os partidos vêm dizer que estão comigo. É natural que entre os deputados... Com aquele bombardeio, né?  Há uma emissora de televisão (TV Globo) que fica o dia inteiro bombardeando.
                Folha: Essa crise atrasou quanto a retomada da economia?
                 MT: Tenho de verificar o que vai acontecer nas próximas semanas. [Henrique] Meirelles (Fazenda) me contou que se não tivesse acontecido aquele episódio na quarta [dia da divulgação do caso], ele teria um encontro com duzentos empresários, todos animadíssimos. (Essa crise) causa um mal para o país.
                 Folha: Como o sr. está sentindo a repercussão de seus dois pronunciamentos, mais incisivo?
                 MT: Olha, acho que eles gostaram desse novo modelito [risos]. As pessoas acharam que eu... Enfim temos presidente.


(Transcrito na íntegra da Folha de S.Paulo, de 2ª feira, 22 de maio de 2017)