Se o virus zika põe o Brasil no centro das
preocupações mundiais, como de forma algo melodramática uma nota editorial de O
Globo tenta enfatizar, infelizmente não faltam motivos para o sensacionalismo.
Nesse sentido, a Organização Mundial de
Saúde já sinalizou que o país está diante do risco de iminente expansão da
epidemia, tendo em vista a multiplicação acelerada de vítimas e devido a outros
fatores que possam estimular a proliferação
do Aedes Aegypti além-fronteiras brasileiras. Tampouco está excluído que
esse vírus da microcefalia tenha outros viveiros na América Latina.
A dengue foi clinicamente extinta no
Brasil do Presidente Juscelino Kubitschek (final dos anos cinquenta), mas ela
não tardaria em retornar, o que terá acontecido pelo norte amazônico, através
da Venezuela, já nos anos sessenta.
Depois desse retorno, lenta, gradual
mas seguramente a dengue se espalharia do Oiapoque ao Chuí, e por toda parte se
encontram pessoas que já contraíram a dengue por mais de uma vez.
Que o Aedes Aegypti possa
servir de vetor agora também ao virus zika é um desenvolvimento nada
alentador. Porque o zika é um vírus bastante mais insidioso do que o da dengue,
que, ao parecer, não deixa sequelas permanentes.
Já o do zika, cuja crueldade - sobretudo por inabilitar uma vida nascente,
condenando-a a uma condição de dependência extrema - V. a propósito o blog "Treze
Notícias do mundo cão", de 11 de janeiro corrente -, e colocando a mãe com
um bebê, cujo cérebro só o habilita para a dependência extrema.
Os brasileiros conhecem da qualidade
do ministério de Dilma Rousseff. O médico Marcelo Castro, a respeito, disse uma
coisa certa: "Só temos um caminho para evitarmos uma geração de
sequelados: é não deixar o mosquito nascer." Castro, no entanto, cometeu
uma gafe: sugeriu às mulheres contrair zika antes de ficarem grávidas, de modo
a estarem imunes durante a gestação'.
Não é a primeira e nem será a última
rata a respeito de epidemias ligadas ao Aedes Aegypti. Houve prefeito no Rio de
Janeiro que diante de uma das habituais epidemias de dengue que tem assolado a
Cidade Maravilhosa, depois de nada fazer para conter o fenômeno, lembrou-se
apenas de dizer na tevê que o carioca deveria rezar para que esses mosquitos
voassem para o mar. Só assim o problema estaria resolvido. E posso garantir que
não fazia piada macabra, porque, atônito, ouvi o que Sua Excelência dizia,
contrito, ao microfone...
Os jornais estampam acerca da atual evolução
dos casos no Brasil, e não deixa de ser inquietante: 2.975 em 26 de dezembro,
em 20 de janeiro de 2016 já passaram para 3.893 casos.
Ao cabo da gestação, a mãe tem nos
braços um recém-nascido que ela bem saberá condenado a vida cerceada por um
cérebro diminuído drasticamente pelo vírus.
Atualmente, o vírus circula em 21
estados (acham-se livres, pelo menos por enquanto, Acre, Amapá, Minas Gerais,
Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e Sergipe, que não estão na lista).
Isso não quer dizer que nesses seis não haja incidência. Só que até agora não
há sinalização de contágio.
Não gostaria de terminar esse
artigo, sem acrescentar o que segue. Na tevê há um filmete que procura
transmitir ao tele-espectador que temos pela frente apenas um mosquito. Daí, a
implicação de que seria tarefa fácil matar o mosquitinho.
A infestação do zika começou em
Pernambuco, se não me engano, e lá está o maior número de casos suspeitos
(1306). O crescimento tem sido rápido em termos de propagação.
O Aedes Aegypti carece de água
limpa e parada para que a larva seja depositada e o mosquito nasça. Os
criadouros dessa peste são a ignorância, o desleixo, a falta de higiene (poças
d´agua, aguas paradas, pneus velhos, etc.). Não é só a pobreza e a miséria que
o cultivam, mas digamos que ajudam bastante.
Vejo no Brasil esse tipo de filmete (ou spot
publicitário) que banha o tele-espectador com jorros de otimismo (é só um
mosquitinho...). Nada poderia estar mais longe da verdade. Não é um só mosquito
que se tem pela frente. É um esquema existencial.
Se quisermos nos livrar desse traste,
não será só através de propaganda edulcorada, que dá ao público a idéia errada.
Sem falar em saneamento
básico, que ficaria para uma segunda etapa, sugiro que se diga a verdade para o
público ameaçado. Que tal fazer um mutirão para valer nas favelas - e não nas
da Globo, com seus cenários de mentirinha - e atacar o tal mosquito acabando
com as poças, a sujeira, os pneus, os depósitos de lixo improvisados, e por aí
afora? A lista pode ser longa, mas estou
certo que as jovens mães e os pais agradeceriam.
( Fontes: O
Globo, Rede Globo )
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