segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Treze Notícias do Mundo Cão


                                      

1.         A Associação Cruz Verde atende a 204 pacientes que nele moram em caráter permanente.  É um prédio arejado e iluminado, de paredes claras e equipe sorridente.

2.          Os pacientes na verdade são moradores - crianças, adolescentes e adultos - todos portadores de paralisia cerebral e microcefalia graves. São submetidos a diversos tratamentos: fisioterapia, fonoterapia, hidroterapia e terapia ocupacional.

3.              Nenhum dos 204 pacientes consegue caminhar. Todos usam fraldas e a maioria não pode engolir. Por isso, são alimentados por sondas. Muito poucos podem falar.

4.                  Cerca de 70% dos pacientes da Cruz Verde foram abandonados pelas famílias. Por isso, estão fadados a viverem no hospital até a liberação pela morte.

5.                      A paralisia cerebral por um acidente (fumaça inalada de um incêndio, v.g.). R. tinha dez anos de idade quando a casa onde morava pegou fogo. Era o responsável pelos três irmãos menores, enquanto a mãe trabalhava. Talvez o instinto de conservação o tenha feito sair da casa em chamas, mas se arrependeu e voltou para tentar salvar os seus três irmãos.

                              Logrou então salvar os irmãozinhos, mas inalou grande quantidade de fumaça, sofreu parada cardiorrespiratória que lhe causou grave paralisia cerebral.

                               Ainda no hospital, R. foi abandonado pela família que salvara. Ocupa há oito anos um dos berços de uma ala da Cruz Verde. Não fala, nem anda. Contudo, segue o interlocutor com o olhar.

                               R. nunca recebeu visita ou foi procurado por alguém.

6.                            Aos 12 anos  L.que nasceu com paralisia cerebral, pesava apenas 12 kg. quando foi internada no hospial, com extrema desnutrição, depois de ter sido retirada da família por maus tratos.

                               Ela depende de uma traqueostomia e um respirador para se manter viva.

 

7.                             J.  uma simpática menina de dois anos que distribui sorrisos quando alguém chega perto de seu leito, nasceu de uma mulher que teve crises de epilepsia durante a gestação, e teve o cérebro lesionado. A mãe, que a deixou, raramente a visita.

                                Quando a mãe dá as caras, ela diz "isso eu não quero na minha casa". 

 

8.                                As  pessoas não querem  cuidar, mal querem olhar, há muito preconceito. Temo que o aumento de casos de microcefalia provoque um surto de abandonos. É o que afirma a neuro-pediatra, especialista em paralisia cerebral, Adriana Ávila de Espíndola.

 

9.                                 Por sua vez, nem todas as pessoas sãs tem essa atitude de rejeição extrema. Fernanda Silva Costa, com 38 anos, conheceu dentro de casa a dor da rejeição. Ela é mãe de A., de três anos, que nasceu com microcefalia e paralisia cerebral. A criança não enxerga, não fala, não anda e não consegue se sentar sozinha, não engole nenhum alimento que não seja pastoso.  Ela e o marido se desdobram nos cuidados com o menininho, os quais incluem uma extensa agenda médica. A mãe de Fernanda,e avó de A. no entanto se recusa a chegar perto da criança.

                                   Segundo conta Fernanda, "ela (a avó) não o pega no colo, arruma desculpas para não acompanhar no médico, parece que sente nojo dele. Isso machuca muito. Agora estamos tentando matriculá-lo em alguma escola, mas nenhuma delas aceita, dizem que não têm condições. Os pais não deixam suas crianças chegarem perto do A. Não querem deixá-lo entrar na sociedade.

                                   É isso que conta a mãe Fernanda, que leva o filho para tratamento na Cruz Verde.

 

10.                         É de notar-se, outrossim, que além do preconceito, as mães enfrentam a falta de terapias e opções médicas no SUS para tratar suas crianças.  Pacientes com paralisia cerebral precisam de estimulação contínua para terem u'a maior qualidade de vida.

 

11.                                O custo operacional da Cruz Verde de quinze milhões de reais por ano a força a equilibrar-se diante da escassez de verba pública -  o SUS custeia 50% das despesas - e a necessidade de doações de mais de 50 empresas para continuar funcionando

 

12.                                    A incidência do nascimento de bebês com microcefalia, resultante de infecções por zika virus - de que o vetor é o Aedes Aegypti se se confirmarem os temores de nova epidemia, causada notadamente pelas precárias condições de higiene (água pútrida parada, mas também poças de água limpa) e previsão, que por um conjunto de ignorância, displicência e também, a fortiori, falta de intervenção de agentes de saúde (em número compativel com a ameaça), a par de omissão de campanha incessante do poder público para conscientizar o Povo e as donas de casa onde estiverem da necessidade de se porem mãos a obra.

                

13.                                              Até o presente se tem a impressão de que os secretários de saúde de prefeituras e estados, e até o Ministro competente acham ser bastante e suficiente um anúncio isolado falando que é só um mosquito o que nos ameaça a todos. Só um? E a apatia geral, disfarçada por trás do anúncio bonitinho, que aparece de quando em vez, será mesmo que pensam que ela vai ser suficiente? 

 

                                                Tenho a impressão que essa gente não tem noção de o que está em jogo. Pensam que criar dezenas, até centenas de Cruz  Verdes vai resolver ?

 

( Fonte:  O  Globo )

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