quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Delenda Moro ?


                                        


         Não sei se há precedente para essa que os jornais chamam de 'a revolta dos advogados', mas pensando sobre o assunto me parece oportuno que o manifesto venha a lume.

         Que 'a Lava-Jato já ocupe um lugar de destaque na história do país' creio difícil que alguém ouse contraditá-lo. As consequências dessa magna operação da Justiça - em que o Ministério Público e o Juiz Sérgio Moro se dão as mãos - estão aí, para que a Sociedade Civil julgue.

         Estarrece - para quem leia o aludido manifesto, e tenha algum conhecimento de o que se trata - que se procure individuar na figura do juiz Sérgio Moro as responsabilidades pela operação.

         Dentro da velha técnica de transformar em vítimas os suspeitos na magna empresa de saquear a Petrobrás, sejam eles supostos mandantes ou operadores, os redatores desse manifesto investem contra o magistrado encarregado, em primeira instância, do julgamento dessa causa.

         A inversão dos papéis é um vetusto artifício. Ao invés de tentar justificar os inúmeros crimes cometidos por esses senhores que se acreditavam - entre mandantes e executantes -  cidadãos acima de qualquer suspicácia, os redatores desse documento reputam preferível investir contra o servidor do Estado que, com coragem, estudo, lógica, e denodo assume a responsabilidade de analisar, investigar, aprofundar e, ao cabo, julgar os eventuais suspeitos, uma vez detidos pela Polícia Federal e submetidos pelo Ministério Público Federal a longo e aturado exame, para determinar se é o caso de apresentar ao magistrado responsável o que foi coligido acerca do acusado, e se tal trabalho em equipe forma um caso que fundamente o respectivo exame pelo Juiz competente.

           Não estamos aqui em tribunais de exceção, mas sim em levantamento de pessoas que, depois de acurado levantamento, foram indiciadas pelas instâncias competentes.

            É mais fácil decerto para o causídico demonizar a instância judicante, assim como transformar um duro, paciente e aturado labor, exercido por policiais federais e procuradores, como se fora obra de uma figura isolada, adrede colocada em pedestal, para que, ao singularizá-la, lograr imputar-lhe motivações e propósitos de personalidade monocrática, quando, em verdade, o Juiz Sérgio Moro constitui, a despeito de todo o seu valor e pertinácia, apenas mais um degrau na longa escada da justiça.

               Talvez seja a corrupção o maior mal que investe contra a Nação brasileira. E a Lava-Jato, pelo seu trabalho, pela sua coragem, pela sua abrangência, vira uma página que há de ter surpreendido a muitos, na terra em que muita vez grandes esperanças se liquefizeram por procedimentos, ainda que bem intencionados, mal estudados, mal investigados e mal-ajuizados.

                Não é decerto o caso da Lava-Jato. Daí os temores que provoca, os notáveis que, angustiados, torcem as mãos, e o alarido de seus defensores, que, sem ter o hábito de enfrentar tal exação e tais processos,  gritam aqui d'el Rei, na esperança de confundir os acusadores.

                No país da impunidade, depois da Ação Penal 470, e de seus resultados, a Opinião Pública do Brasil vê, com satisfação, que a grande causa da Justiça em nossa terra não está orfã.

                Enganam-se aqueles que pensam que o Juiz Sérgio Moro está sozinho. O fato de trabalhar dentro da lei, com pertinácia, denodo e equanimidade, não é um acidente.  É uma dádiva para a sociedade brasileira.

                Feliz é o estamento jurídico que dispõe de personalidades ainda jovens como o magistrado Sérgio Moro. E não se enganem os que, porventura, reputem dispor de aberta avenida para investir contra um juiz de primeira instância, em comarca no interior do Brasil.

                 Há muita gente nessa empresa, que ao deparar tentativa de singularizá-lo em ataque contra a Justiça, responderá:  Presente !

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )




[1] A expressão é retirada da frase de Catão, o antigo (Delenda Carthago), pela qual terminava todas as suas intervenções no Senado romano. Catão martelava a necessidade de destruir Cartago, que considerava ainda uma ameaça a Roma, mesmo depois das duas guerras púnicas.

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