Estados Unidos e Rússia se
sentaram à mesa de negociações, e pensam atender aos próprios interesses. Ao
mesmo tempo, como feliz consequência de seus trabalhos diplomáticos, quem sabe
Washington poderá dispensar, ainda que colateralmente, e com a boa vontade do
Kremlin, a necessária atenção à situação humana nos núcleos populacionais
cercados pelo tirano Bashar al-Assad. Este senhor, é bom que se lembre, pela
sua rigidez, é o principal causador desta longa, plurianual guerra civil. A ela
prestantes acorreram, além das duas principais potências (após a conveniente
espera), outras menores como o Irã, dos ayatollahs, bem como a milícia
Hezbollah, de Nusrallah. Essas últimas pensam menos na gente envolvida, mas
sobretudo na sustentação do presidente alauíta, próximo dos xiitas e peça para
elas importante, que não desejam abandonar no embate com os sunitas da Arábia
Saudita, e a seus aliados da Liga Árabe.
E o que pensa
o povo sírio, ao se ver dilacerado,
transformado em carne de canhão e em reféns de conflito sem quartel, que os
condena - aos que podem escapar - à fuga para o Ocidente, como se acaba de
presenciar nesta debandada para bem além do cinismo e da impiedosa caça que os
senhores da guerra tentam impor-lhes, ao
visitar-lhes sem mercê através de
longa rota de desterro quase sem esperança.
De tudo lhes
ocorreu. Do bebê de colo, afogado e morto em praia oriental, por capricho das
precárias embarcações de malograda travessia, aos infelizes trânsfugas, metidos
em carro frigorífico e mortos nas cercanias de mais um homem forte, este Orbán,
da Hungria, que, como tantos outros, não esconde a própria xenofobia.
Em todo o
Ocidente, dos Estados Unidos para as Nações da União Européia, cuja lembrança
dos refugiados não está assim tão fria, eis que o círculo de Bruxelas não teve
imunes os próprios povos no último grande conflito - de que os respectivos avós
poderão lembrar se perguntados - pensou-se mais nos respectivos comodismos, do
que em um instante de atenção a povo fustigado por conflito alheio, em que
grandes e pequenos projetos se defrontam.
Em toda a União
Européia, no jogo de empurra de Bruxelas, somente uma solitária governante
assumiu o respectivo humanitário compromisso. Como presciente o afirmou o professor Michael Ignatieff - V. blog 'A
questão dos refugiados', de 2/01/16 - a Chanceler Angela Merkel
se dispôs de forma incondicional a acolher a massa de fugitivos do inferno
sírio. Fê-lo consciente do risco em que
incorria, ao respeitar os direitos humanos de toda a massa de gente tangida por
desgraças determinadas por outrem.
Esses riscos se
tornaram patentes ao ensejo da entrada do Ano Novo, com os distúrbios e os
abusos e crimes cometidos por alguns refugiados com mulheres alemãs. Como
assinalado pelo articulista, a Alemanha - posto que sem responsabilidade alguma
pelo drama na Síria, não se negou a acolhe-los - ao contrário de quase todos os
demais, nisso incluídos os EUA e as principais potências, que dispensaram muito
pouca guarida a tais infelizes, malgrado a circunstância de que tenham, em
vários casos, muito a ver com o agravamento da situação.
O Ditador
al-Assad tem a proteção de Vladimir Putin,
e a sua recepção pelo Tribunal Penal Internacional parece hoje postergada para
as calendas gregas. No entanto, não é pequena a própria responsabilidade em
termos de direitos humanos. Exemplo disso é a cidade de Madaya, bastante cerca
da fronteira libanesa. Os 42 mil habitantes de Madaya vem sendo punidos pelo
cerco das forças pró-Assad, com a consequente falta de alimentos e remédios,
eles que são transformados em massa de manobra por estarem em cidade sob
controle dos rebeldes. Eles nada têm a ver com isso, mas pagam o pesado preço
de serem reféns virtuais.
Entrementes,
prosseguem as negociações entre o Ministro John Kerry, do State Department, e o
Ministro do Exterior Russo, Sergei Lavrov, sobre as condições de
paz. Para Assad, os infelizes habitantes da Síria, dilacerada pela infinda
Guerra Civil, são meros peões, que podem ser úteis, dentro do cínico cálculo,
apenas através da chantagem humanitária do Ditador de Damasco. Para quem se
serve de doenças como a poliomielite,
e de outros problemas sanitários como assistentes nessa guerra suja, não há de
estranhar que Assad vá deter-se um só momento para tratar de inocentes (quando
esses lhe podem servir negativamente, através da chantagem humanitária).
Entre
outras lembranças úteis, há vários países - e dentre esses, a Jordânia, do Rei
Abdullah II - cuja situação sanitária se vê ameaçada, e, por conseguinte, a
própria estabilidade política, eis que essa pequena nação se viu forçada a
acolher afluxo de refugiados muito superior à própria capacidade. Nesse contexto, a situação política
do governo jordaniano se vê um tanto periclitante, pelos desafios de atender massas
para as quais as próprias redes de apoio do reino hashemita não estão
preparadas.
( Fontes:
The New York Times, The New York
Review )
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