O Estado da União costuma ser a
principal intervenção do Presidente durante o ano. Aproximando-se o final do seu segundo
mandato, Barack H. Obama procurou fazer discurso que fosse menos indicação
de objetivos a serem atingidos, do que a elaboração de retrato dos Estados
Unidos, a caminho da meta final da própria Administração.
Discursou
perante as duas Casas do Congresso, com a economia em pleno crescimento e
melhor posição no mundo, a despeito dos conhecidos estraga-festa, que são a
desigualdade em seu interior, e o espectro do terrorismo no exterior.
No entanto,
Obama não hesitou em aceitar responsabilidade por haver ficado tão longe de
seu projeto inicial, tendo a coragem de reconhecer que a sua proposta de
campanha de esperança e mudança não se realizara, e tampouco a meta
ao assumir de transformar Washington e a própria política.
"É uma das
poucas insatisfações na minha presidência, que o rancor e a suspicácia entre os
partidos tenham ficados piores ao invés de melhorarem." Nesse sentido, o
44º Presidente dos Estados Unidos mostrou alguma modéstia ao não hesitar em
declarar que 'um presidente com os dons de Lincoln ou Roosevelt talvez houvesse
sabido melhor lidar com essa divisão.'
Não trepidou também
em reconhecer que muitos americanos estão assustados e se sentem excluídos por
sistema político e econômico que eles vêem como aparelhado contra os seus
interesses. Nesse contexto, ele lançou censura implícita a Republicanos que estão
manipulando tais inseguranças na corrida para a sua sucessão.
Neste quadro,
o Presidente sublinhou que dentro do crescimento da frustração, haverá vozes
empenhadas em que nos tribalizemos, de passar a culpa para concidadãos como se fossem estranhos, tentando
responsabilizá-los pelo fato de não parecerem como os americanos em geral, ou
pela circunstância de não rezarem como nós, ou votarem como nós, ou partilharem
dos mesmos antecedentes. Nâo podemos permitir-nos adentrar por esse caminho.
O Presidente
tentou contrastar as visões sombrias dos republicanos acerca do Estado da União, com a
sua avaliação otimista. Ao chamar a
versão do GOP uma ficção, e defender
as próprias posições, ele singularizou de forma implícita a atitude do político
republicano líder nas pesquisas. Dentro desse contexto, disse que os Americanos
deveriam resistir aos chamados para estigmatizar todos os muçulmanos, em um
momento de ameaças do Estado Islâmico.
Obama também
singularizou - sem contudo citá-lo nominalmente - o Senador Ted Cruz, outro
pré-candidato do GOP, que, ao criticar a política externa de Obama, propôs
colocar o Estado Islâmico debaixo de um tapete de bombas (carpet bomb).
O presidente
tampouco desdenhou do simbolismo para enfatizar alguns pontos de sua agenda, ao
deixar, v.g., uma cadeira vazia nos assentos reservados à Primeira Dama para
simbolizar as vítimas da violência das armas.
Obama disse
que a América deveria continuar a empregar a inovação e não ser por ela
intimidada. Nesse contexto, entre os convidados ao discurso, incluíu um
refugiado sírio. Em alusão reminiscente do voto do Presidente Kennedy de fazer
os americanos chegarem à lua, ele
reportou-se à tentativa similar no esforço para a cura do câncer, que deveria
ser guiada pelo Vice-Presidente Joseph
R. Biden, Jr. que perdeu seu filho por causa da doença em 2015.
Quanto às
quatro questões que segundo seus assistentes encimavam o debate sobre o futuro
da América, elas incluíam como assegurar oportunidades para todos, como
aparelhar a mudança tecnológica, como manter o país seguro, e como dar um jeito
nas fraturas políticas da nação.
Pediu
então pelo fim do gerrymandering (a
instrumentalização dos distritos políticos para assegurar vantagens para um
partido), pela redução da influência de contribuições de campanha secretas, e
tornar o voto mais fácil. Talvez seja esta uma das mais importantes iniciativas
do discurso ao Povo Americano, dada a influência negativa e deformatória desta
perniciosa invenção política do século dezenove.Ao lançar tais objetivos
principais, Obama sem dizê-lo condenava o partido que atualmente mais se
prevalece de tais políticas. Para tornar tais fins mais realizáveis, Obama fez
um apelo aos americanos para que se envolvessem mais em política, ironicamente
o tema de sua primeira campanha e de sua presidência.
Atendidas
as limitações do Presidente, eis que é limitado o tempo que lhe resta na Casa
Branca, poder-se-ía dizer, tecnicamente falando, que Barack Obama já é, sob certos
aspectos, um lame duck[1].
Nesse sentido, o Presidente encareceu solução de transigência com o GOP para a
revisão do sistema de justiça criminal, a aprovação de amplo acordo de livre
comércio abrangendo a área do Oceano Pacífico, novas iniciativas com respeito à
pobreza, e a crise dos entorpecentes nos EUA.
O
Presidente surpreendeu o público no seu esforço de encontrar terreno comum com
o novel Speaker Paul D. Ryan, de Wisconsin. Aludiu ao apoio dado pelo republicano
Ryan à ampliação de crédito de imposto de renda para trabalhadores de renda
média e baixa. Como já se entenderam no passado, quem sabe não vamos surpreender
os cínicos uma vez mais? disse o Presidente.
Obama
também mencionou antigas tentativas no plano interno, que falharam (por causa
da oposição republicana): aumentar o salário mínimo, revisão da lei
imigratória, e mais estritos controles na compra e no uso de armas.
O seu discurso incluíu os êxitos do
breve período em que os democratas tiveram a maioria na Câmara de Deputados,
assim como a longa maioria no Senado, que caíu no início de seu último biênio.
Para
Obama, os principais desafios não vem da força dos adversários, mas da sua
fraqueza. Com isso, ele contradita a tese republicana de que é incapaz diante
das crescentes ameaças.
Nesse
ensejo, realçou o acordo nuclear com o
Irã, a abertura de novas relações com Cuba, o acordo global em Paris no combate
ao desafio da mudança no clima, assimo os esforços para conter a disseminação
do Ebola.
( Fonte: The New York Times )
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