Seria previsível que o ambicioso
Vladimir V. Putin, com planos para recuperar o antigo status da União Soviética - e não mais ouvir de líderes
estrangeiros, como Barack H. Obama, que a Rússia é um poder regional - fosse topar com dificuldades, eis que os
grandiosos projetos da Federação Russa estão indo bastante além dos meios
disponíveis.
Desde os tempos da União Soviética que o
petróleo representa a mola mestra na sua economia. Quando o preço do ouro negro
despencou nos anos oitenta do século passado, e permaneceu nesse patamar, tal constituíu um dos principais fatores para
a dissolução da URSS, que surpreendeu o mundo e se completou em 1° de janeiro
de 1992.
As virtuais monoculturas - países que se
sustentam em grande parte por um só produto ou commodity - tendem a sofrer séria crise se desaba o valor de
mercado da referida mercadoria.
É o que está acontecendo com a Rússia.
Tal se deve precipuamente à circunstância de que o orçamento federal do Kremlin é alimentado em 50% pela
exportação de petróleo e gás.
Depender de uma fonte externa em tal
montante representa limitação enorme às possibilidades da respectiva economia.
O preço do petróleo - que é a commodity
que mais recursos movimenta na economia mundial - está submetido a verdadeira
gangorra entre a planície das baixas cotações e as alturas estonteantes dos
preços do barril na barra dos três dígitos.
Agora deparamos uma guerra de preços
em que a Arábia Saudita - a maior produtora mundial - através da respectiva produção maciça
almeja tirar do mercado - ou aparar-lhe as asas - concorrentes com produtos
elaborados com sucedâneos do petróleo (xisto, v.g.)[1]. Sofrem, por conseguinte, países cuja produção
é relevante para as respectivas economias, mas que não tem magnitude para
influenciar o mercado, como acontece com a monarquia saudita. Este é problema
típico das monoculturas - e nós podemos dizer algo a respeito, visto que, no
passado, nossa economia dependeu deste tipo de regime econômico (pau-brasil,
açúcar, ouro e café).
Compreende-se, assim, os problemas de
Nicolás
Maduro, dado o sufocante predomínio do petróleo na economia
venezuelana, os recursos decrescentes, a hiperinflação, y otras cositas más da incompetência dos regimes sindicalistas como
o chavismo. Também a Rússia de hoje lembra a fábula da formiga - que poupava -
e da cigarra - que cantava e gastava...
A ambição de gospodin Vladimir Vladimirovich Putin - e a respectiva arrogância -
parecia não ter limites. Além de desestabilizar a Ucrânia - com longa guerra de
usura, através da coordenação de antigas veleidades secessionistas na parte
oriental desse importante país (a que o Ocidente e a União Européia deveriam
tratar com mais respeito, dado o seu significado estratégico), explosão essa
que foi coordenada por Putin, logo após a derrubada do corrupto presidente
filo-russo Viktor Yanukovich
(2013-princípio 2014), pela sublevação da Praça Maidan, em Kiev.
Depois de assenhorear-se da Criméia,
em operação que seria elogiada pelo seu admirado modelo, o Duce Benito Mussolini, se vivo estivesse, Putin partiu para
ulteriores desestabilizações. Além das sanções que lhe foram impostas pela
ilegal anexação da península da Criméia, o Senhor do Kremlin seria
indiretamente responsabilizado pela derrubada por míssil de fabricação russa de
voo MH17
da Malaysian Airlines com 298 pessoas a bordo.
Ultimamente, Putin interveio na
interminável guerra civil na Síria. Essa presença se realiza sobretudo por
ataques de caças russos contra os rebeldes que se defrontam com a ditadura de Bashar al-Assad, mas tem igualmente
colaborado em incursões contra o Estado Islâmico, que se apoderou de terras da
Síria. Além de bancar de certa forma o seu protegido Assad, Putin constrói
outra base militar russa no litoral sírio do Mediterrâneo oriental, e nada
disso (intervenção aérea, apoio a Bashar, construção de bases) é de graça.
É de notar-se que tais cometimentos
financeiros - na política de grandeza da potência russa - foram assumidos em
dezembro de 2015, quando o barril de petróleo valia US$ 50.
Em função do déficit orçamentário -
afinal os recursos são finitos, mas os dispêndios pelo visto não o são.
Compreende-se que, nesse quadro financeiro, a inflação ande pelos vinte por
cento, ou talvez mais.
Entende-se, igualmente, que as
aventuras no estrangeiro - mesmo aquele ominosamente descrito pelo governo
russo como o estrangeiro-próximo, custam
preciosos rublos (ou até mesmo dólares!) - sangrem o Tesouro do ambicioso
Vladimir Putin. E tampouco se podem ignorar as despesas de prestígio, como os
cinquenta bilhões de dólares gastos para realizar as Olimpíadas de Inverno em
2014, em Sochi, além da construção de estádios de futebol para a Copa do Mundo
de 2018 (também a ser sediada na Rússia).
Seria, decerto, benesse para Kiev,
capital da Ucrânia, e para seu atribulado presidente, Petro Poroshenko, que os
azares da bolsa petrolífera determinassem - junto com as sanções que ainda
perduram - relativa carência nos fundos do Tesouro do Kremlin. Cessariam ou
diminuiriam de forma sensível os recursos à disposição de gospodin Putin, que se veria, dessarte, cerceado nas próprias
fumaças de poder, com que até o presente não pouco tem atazanado alguns de seus
infelizes vizinhos.
( Fontes: The New York Times,
The New York Review, George Soros )
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